São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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Análise

Rússia aposta em ordem pós-Iraque

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os russos jogam com a expectativa de derrota dos EUA no Iraque e uma redistribuição de poder no mundo. Putin quer viver isso plenamente. Deixa a Presidência em 2008, fica como eminência parda e volta com toda carga em 2012. Algumas cartas já foram jogadas, segundo Moscou. Não vencer no Iraque coloca em xeque o predomínio, a salvo de qualquer desafio, do aparato militar dos EUA. Vai ladeira abaixo o projeto de construção de um "novo século americano".
Com seus foguetes e antifoguetes, bombardeiros de longo alcance em incursões em profundidade no Pacífico e no Atlântico, mini-submarinos de alta tecnologia plantando a bandeira russa no Ártico, superbombas e uma política externa "afirmativa", Moscou já estaria manobrando para ocupar lugares nos bancos da frente de uma ordem pós-Iraque.
Moscou bate de frente com a decisão de Bush de instalar antifoguetes em países da Europa do Leste.
Anuncia que uma frota com sua bandeira pode ir para o Mediterrâneo com intenções de presença permanente. Desde o fim da segunda guerra, a Sexta Frota dos EUA navega absoluta no Mediterrâneo.
Navios de guerra de Moscou poderiam usar bases na Síria, com riscos de inserção de Israel nos conflitos potenciais de uma ordem pós-Iraque. Aviões israelenses executaram ações contra alvos não identificados em áreas desérticas da Síria.
Há especulações sobre um programa nuclear sírio com apoio norte-coreano.
Há tensões em alta na configuração de um pós-Iraque. Barcos russos no Mediterrâneo circulariam numa geografia explosiva.
Olhos também na Ásia, nesse esforço de Moscou por dar tonalidades mais fortes ao "perfil estratégico" da Rússia. Mostrou-o a última reunião do Fórum de Cooperação de Xangai, grupo de seis países com russos e chineses à frente.
Especialistas dizem que a China e o restante (países da Ásia Central) estão interessados sobretudo em cooperação e não confronto. O Fórum, no entanto, entrou por caminhos que cruzam com a Otan, manifestando o desejo de estabelecer "relações íntimas" com o Afeganistão. Vinte anos depois de derrotada em seu esforço militar para salvar o regime comunista afegão, a Rússia tenta voltar ao país, em operação à margem do Ocidente.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais

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