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AMÉRICA DO SUL
Após campanha que despertou pouco interesse, argentinos votam em pleito que deve aumentar força de Kirchner
Argentina renova hoje parte do Congresso
MAELI PRADO
DE BUENOS AIRES
Em uma batalha entre duas correntes do peronismo, a maior força política do país, a Argentina vai
às urnas hoje para eleger 24 senadores e 127 deputados. A eleição
será o primeiro teste do governo
do presidente argentino, Néstor
Kirchner, que já olha para a eleição presidencial de 2007.
Também definirá o panorama
eleitoral do país nos próximos
anos. A principal disputa é com o
também peronista Eduardo Duhalde, ex-presidente que apadrinhou Kirchner nas eleições de
2003 e que foi seu aliado no Congresso há até alguns meses.
Rompidos, os dois apresentaram listas diferentes de candidatos para a votação. Se os candidatos de Kirchner obtiverem uma
vitória expressiva, o presidente
ganha mais poder dentro do peronista Partido Justicialista (PJ).
Apesar de essas eleições renovarem apenas a metade da Câmara
de Deputados e um terço do Senado, são importantes pelo que representam. Kirchner e Duhalde
são hoje as duas principais figuras
do PJ. Como foi eleito em 2003
com apenas 22% dos votos, o presidente busca, enfrentando Duhalde, demonstrar força política
própria dentro do partido.
"Essas eleições podem ser consideradas uma classificatória para
as eleições presidenciais que ocorrem em 2007. Também vão confirmar a legitimidade desse governo e quem vai ser oposição daqui
para a frente", analisa Julio Burdman, do Centro de Estudos União
para a Nova Maioria. A eleição,
segundo ele, é mais importante
para o presidente do que para os
candidatos a cargos legislativos.
Vitória com ressalvas
A expectativa é de uma vitória
kirchnerista -os candidatos
apoiados pelo presidente obteriam de 30% a 45% dos votos, estimam analistas. Mas de qualquer
forma o presidente terá que lidar
com um Congresso dividido.
Nos primeiros anos de sua gestão, quando ainda era aliado de
Duhalde, Kirchner conseguiu
aprovar com facilidade seus projetos, pois o PJ tem 129 deputados
na Câmara, o menor número possível de cadeiras para conseguir
maioria na Casa. Com o rompimento, o cenário mudou.
Depois do pleito, a corrente de
parlamentares fiéis a Kirchner deve passar a somar entre 90 e 100
deputados, o que vai representar
uma ampliação importante, mas
não suficiente para o presidente
ter maioria na Câmara.
Dessa forma, para aprovar seus
projetos o governo dependerá ou
da volta da unidade dentro do peronismo ou de alianças com outras forças políticas.
Apesar de o governo ter colocado todas as fichas no pleito, o interesse dos argentinos pelas eleições
foi baixo. Isso, segundo analistas,
demonstra que a forte crise política e econômica de 2001 deixou cicatrizes na avaliação da população de seus políticos.
Kirchner tem outros adversários nessas eleições, como o ex-presidente argentino Carlos Menem, candidato a senador pela
Província de La Rioja, que também é do PJ. Outra é a candidata a
deputada por Buenos Aires Elisa
Carrió, que está à frente nas pesquisas do candidato de Kirchner,
o chanceler Rafael Bielsa.
Para conseguir a vitória dos
seus candidatos, Kirchner se empenhou pessoalmente na campanha. Para tentar captar a atenção e
os votos dos argentinos, o presidente deu um status de plebiscito
ao pleito, afirmando que necessitava de aval da população, em forma de votos em seus candidatos,
para seguir governando.
Nos últimos meses, uma das
principais atividades do presidente foi percorrer as Províncias da
Argentina pedindo votos para
seus candidatos à população.
Segundo o diário "La Nacion",
nos últimos dois meses de campanha Kirchner anunciou investimentos que totalizaram 4,1 bilhões de pesos (R$ 3 bilhões).
Além disso, viajou 70 mil km pelo
país fazendo campanha.
"Cada ato de governo se converteu em ato de campanha", resume
o sociólogo Roberto Bacman, diretor do Centro de Estudos de
Opinião Pública.
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