São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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AMÉRICA DO SUL

Após campanha que despertou pouco interesse, argentinos votam em pleito que deve aumentar força de Kirchner

Argentina renova hoje parte do Congresso

MAELI PRADO
DE BUENOS AIRES

Em uma batalha entre duas correntes do peronismo, a maior força política do país, a Argentina vai às urnas hoje para eleger 24 senadores e 127 deputados. A eleição será o primeiro teste do governo do presidente argentino, Néstor Kirchner, que já olha para a eleição presidencial de 2007.
Também definirá o panorama eleitoral do país nos próximos anos. A principal disputa é com o também peronista Eduardo Duhalde, ex-presidente que apadrinhou Kirchner nas eleições de 2003 e que foi seu aliado no Congresso há até alguns meses.
Rompidos, os dois apresentaram listas diferentes de candidatos para a votação. Se os candidatos de Kirchner obtiverem uma vitória expressiva, o presidente ganha mais poder dentro do peronista Partido Justicialista (PJ).
Apesar de essas eleições renovarem apenas a metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado, são importantes pelo que representam. Kirchner e Duhalde são hoje as duas principais figuras do PJ. Como foi eleito em 2003 com apenas 22% dos votos, o presidente busca, enfrentando Duhalde, demonstrar força política própria dentro do partido.
"Essas eleições podem ser consideradas uma classificatória para as eleições presidenciais que ocorrem em 2007. Também vão confirmar a legitimidade desse governo e quem vai ser oposição daqui para a frente", analisa Julio Burdman, do Centro de Estudos União para a Nova Maioria. A eleição, segundo ele, é mais importante para o presidente do que para os candidatos a cargos legislativos.

Vitória com ressalvas
A expectativa é de uma vitória kirchnerista -os candidatos apoiados pelo presidente obteriam de 30% a 45% dos votos, estimam analistas. Mas de qualquer forma o presidente terá que lidar com um Congresso dividido.
Nos primeiros anos de sua gestão, quando ainda era aliado de Duhalde, Kirchner conseguiu aprovar com facilidade seus projetos, pois o PJ tem 129 deputados na Câmara, o menor número possível de cadeiras para conseguir maioria na Casa. Com o rompimento, o cenário mudou.
Depois do pleito, a corrente de parlamentares fiéis a Kirchner deve passar a somar entre 90 e 100 deputados, o que vai representar uma ampliação importante, mas não suficiente para o presidente ter maioria na Câmara.
Dessa forma, para aprovar seus projetos o governo dependerá ou da volta da unidade dentro do peronismo ou de alianças com outras forças políticas.
Apesar de o governo ter colocado todas as fichas no pleito, o interesse dos argentinos pelas eleições foi baixo. Isso, segundo analistas, demonstra que a forte crise política e econômica de 2001 deixou cicatrizes na avaliação da população de seus políticos.
Kirchner tem outros adversários nessas eleições, como o ex-presidente argentino Carlos Menem, candidato a senador pela Província de La Rioja, que também é do PJ. Outra é a candidata a deputada por Buenos Aires Elisa Carrió, que está à frente nas pesquisas do candidato de Kirchner, o chanceler Rafael Bielsa.
Para conseguir a vitória dos seus candidatos, Kirchner se empenhou pessoalmente na campanha. Para tentar captar a atenção e os votos dos argentinos, o presidente deu um status de plebiscito ao pleito, afirmando que necessitava de aval da população, em forma de votos em seus candidatos, para seguir governando.
Nos últimos meses, uma das principais atividades do presidente foi percorrer as Províncias da Argentina pedindo votos para seus candidatos à população.
Segundo o diário "La Nacion", nos últimos dois meses de campanha Kirchner anunciou investimentos que totalizaram 4,1 bilhões de pesos (R$ 3 bilhões). Além disso, viajou 70 mil km pelo país fazendo campanha.
"Cada ato de governo se converteu em ato de campanha", resume o sociólogo Roberto Bacman, diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública.


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