São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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Para analista, corrida à Presidência começa já

DE BUENOS AIRES

Levando-se em conta como funciona a briga pelo poder na Argentina, a campanha para a eleição presidencial de 2007 começa esta noite, com a apuração dos votos da eleição legislativa. A análise é do cientista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos União para a Nova Maioria.
Para ele, o presidente Néstor Kirchner "seguramente" vai tentar se reeleger. E não está descartado também que a primeira-dama Cristina Kirchner, hoje candidata a senadora, tente chegar à Casa Rosada em 2011. Leia trechos da entrevista que o cientista político concedeu à Folha.
 

Folha - As eleições legislativas de domingo vão mudar o panorama político da Argentina?
Rosendo Fraga
- Elas devem definir o contexto político dos próximos dois anos, mas não vão necessariamente mudar o panorama. A ruptura entre Kirchner e Duhalde implica uma divisão do peronismo. Sobre isso, acredito que pode haver uma trégua dentro do peronismo, mas não uma reconciliação de verdade. A política que vem pela frente não vai ser parecida com a que teve lugar nos dois primeiros anos de Kirchner, quando ele estava aliado com Duhalde. Mas será similar à situação dos últimos quatro meses, quando o peronismo se dividiu.

Folha - Qual é a importância destas eleições para a população e para Kirchner?
Fraga
- Esta eleição gerou pouca expectativa. Trata-se de uma eleição legislativa, os candidatos mais se criticaram do que buscaram eleitores, e o governo não realizou nenhuma campanha para promover o voto. A agenda da população esteve muito ausente da campanha. É uma eleição em que os políticos foram mais importantes do que as pessoas. Já para Kirchner, o resultado da eleição é importante porque definirá o contexto político da segunda parte do seu mandato e vai determinar as possibilidades de sua reeleição em 2007.

Folha - Essa divisão pode causar problemas para Kirchner lidar com o Congresso?
Fraga
- Kirchner não vai ter a maioria absoluta no Congresso e terá de negociar. É uma situação que ele não enfrentou enquanto era aliado de Duhalde, até meados deste ano.

Folha - O duhaldismo pode morrer depois destas eleições?
Fraga
- O mais provável é que Duhalde sobreviva politicamente, mesmo que seja derrotado na Província de Buenos Aires. Ele vai ser a segunda força política no país e vai liderar o único setor com capacidade efetiva de limitar o Kirchner no exercício do poder.

Folha - Existe hoje oposição política na Argentina?
Fraga
- De todas as eleições desde que o peronismo surgiu, em 1945, esta é a que mostra o não-peronismo mais dividido. A crise do radicalismo [do partido político União Cívica Radical] é a causa principal dessa fragmentação. Além disso, nem o centro-esquerda nem o centro-direita conseguiram se organizar nacionalmente.

Folha - O sr. acha que Kirchner, nos últimos meses, governou o país olhando apenas para as eleições? Fraga - Kirchner disse publicamente que está em campanha permanente. Desde que assumiu, sua prioridade foi manter altos índices de aprovação da opinião pública. Conseguiu, subordinando a isso a gestão do seu governo. Eu acho que depois das eleições ele continuará atuando assim. Levando-se em conta como funciona a política na Argentina, a campanha pela eleição presidencial que acontecerá em 2007 começará na noite de 23 de outubro.

Folha - O que muda na agenda do governo depois das eleições?
Fraga
- O governo terá três desafios. O político, ou seja, como governar sem ter maioria absoluta no Congresso e negociar acordos inéditos até agora; o social, pois, apesar de a economia ter crescido, a pobreza na qual vive um de cada cinco argentinos não melhorou no último ano; e o econômico, que é a inflação de 12% no ano.


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