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Para analista, corrida à Presidência começa já
DE BUENOS AIRES
Levando-se em conta como
funciona a briga pelo poder na
Argentina, a campanha para a
eleição presidencial de 2007 começa esta noite, com a apuração
dos votos da eleição legislativa. A
análise é do cientista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos União para a Nova Maioria.
Para ele, o presidente Néstor
Kirchner "seguramente" vai tentar se reeleger. E não está descartado também que a primeira-dama Cristina Kirchner, hoje candidata a senadora, tente chegar à
Casa Rosada em 2011. Leia trechos da entrevista que o cientista
político concedeu à Folha.
Folha - As eleições legislativas de
domingo vão mudar o panorama
político da Argentina?
Rosendo Fraga - Elas devem definir o contexto político dos próximos dois anos, mas não vão necessariamente mudar o panorama. A ruptura entre Kirchner e
Duhalde implica uma divisão do
peronismo. Sobre isso, acredito
que pode haver uma trégua dentro do peronismo, mas não uma
reconciliação de verdade. A política que vem pela frente não vai ser
parecida com a que teve lugar nos
dois primeiros anos de Kirchner,
quando ele estava aliado com Duhalde. Mas será similar à situação
dos últimos quatro meses, quando o peronismo se dividiu.
Folha - Qual é a importância destas eleições para a população e para Kirchner?
Fraga - Esta eleição gerou pouca
expectativa. Trata-se de uma eleição legislativa, os candidatos mais
se criticaram do que buscaram
eleitores, e o governo não realizou
nenhuma campanha para promover o voto. A agenda da população esteve muito ausente da
campanha. É uma eleição em que
os políticos foram mais importantes do que as pessoas. Já para
Kirchner, o resultado da eleição é
importante porque definirá o
contexto político da segunda parte do seu mandato e vai determinar as possibilidades de sua reeleição em 2007.
Folha - Essa divisão pode causar
problemas para Kirchner lidar com
o Congresso?
Fraga - Kirchner não vai ter a
maioria absoluta no Congresso e
terá de negociar. É uma situação
que ele não enfrentou enquanto
era aliado de Duhalde, até meados
deste ano.
Folha - O duhaldismo pode morrer depois destas eleições?
Fraga - O mais provável é que
Duhalde sobreviva politicamente,
mesmo que seja derrotado na
Província de Buenos Aires. Ele vai
ser a segunda força política no
país e vai liderar o único setor
com capacidade efetiva de limitar
o Kirchner no exercício do poder.
Folha - Existe hoje oposição política na Argentina?
Fraga - De todas as eleições desde que o peronismo surgiu, em
1945, esta é a que mostra o não-peronismo mais dividido. A crise
do radicalismo [do partido político União Cívica Radical] é a causa
principal dessa fragmentação.
Além disso, nem o centro-esquerda nem o centro-direita conseguiram se organizar nacionalmente.
Folha - O sr. acha que Kirchner,
nos últimos meses, governou o país
olhando apenas para as eleições?
Fraga - Kirchner disse publicamente que está em campanha
permanente. Desde que assumiu,
sua prioridade foi manter altos índices de aprovação da opinião pública. Conseguiu, subordinando a
isso a gestão do seu governo. Eu
acho que depois das eleições ele
continuará atuando assim. Levando-se em conta como funciona a política na Argentina, a campanha pela eleição presidencial
que acontecerá em 2007 começará na noite de 23 de outubro.
Folha - O que muda na agenda do
governo depois das eleições?
Fraga - O governo terá três desafios. O político, ou seja, como governar sem ter maioria absoluta
no Congresso e negociar acordos
inéditos até agora; o social, pois,
apesar de a economia ter crescido,
a pobreza na qual vive um de cada
cinco argentinos não melhorou
no último ano; e o econômico,
que é a inflação de 12% no ano.
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