São Paulo, Terça-feira, 23 de Novembro de 1999
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DEMOCRACIA FRÁGIL
Oito oficiais do Exército são presos por "indisciplina'; jornal fala em tentativa abortada de golpe
Paraguai tem nova crise militar

Associated Press
Luis González Macchi, presidente do Paraguai, em Assunção


CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

Oito oficiais do Exército paraguaio, entre eles um major e um tenente, foram presos no domingo pelo que o governo designa como "ato de indisciplina" não especificado, mas que, para o matutino "Notícias", foi uma tentativa de golpe de Estado abortada.
O ministro da Defesa, Nelson Argaña, confirmou as oito prisões e antecipou que poderão subir para 14, mas negou qualquer tentativa de golpe de Estado por parte de oficiais ligados ao general Lino César Oviedo, exilado na Argentina desde março.
Oviedo foi acusado de ser o mentor intelectual do assassinato do vice-presidente Luis María Argaña, seu adversário político, e pai do atual ministro da Defesa.
"Os membros das Forças Armadas sabem que Oviedo é um assassino vulgar e, portanto, não vão se prestar a nenhum jogo desse tipo", diz Argaña.
Mas o jornal "Notícias" publica até uma cronologia da tentativa de golpe, que começaria às 8h do domingo, com uma "reunião do pessoal para lançar as ordens de operações".
Cinco horas depois, seria preso o presidente Luis González Macchi, ao desembarcar no aeroporto de Assunção, de volta de uma viagem à Costa Rica.
Por fim, exatamente às 14h05, seria lançado o pronunciamento golpista, anunciando a convocação de eleições dentro de apenas oito dias.
Um dos líderes da suposta conspiração é identificado como o major da arma de artilharia Agustín Brizuela.
Coincidência ou não, Brizuela é um dos oito oficiais da mesma arma detidos, todos eles lotados em Paraguarí, 65 quilômetros ao Sul de Assunção.

"É grave"
Contrariando a versão oficial de que houve um mero "ato de indisciplina", o general da reserva Eugenio Morel Garay disse ter "informações graves" a respeito dos fatos, com a autoridade de quem é assessor militar da Comissão de Defesa da Câmara de Deputados.
De todo modo, tanto o Congresso como o Poder Executivo mantinham ontem reuniões de emergência no mais alto nível, para analisar o confuso episódio.
Para Carlos Mateo Balmelli, ex-vice-chanceler do atual governo, "o levantamento de oficiais de artilharia demonstra o descontentamento que existe nas Forças Armadas com as reformas que estão sendo feitas". Essas reformas visam diminuir o tamanho das Forças Armadas do país, dentro de um plano geral de contenção do gasto público.

O poder de Oviedo
Tenha havido apenas um "ato de indisciplina", como diz o governo, ou uma tentativa de golpe, como prefere "Notícias", o fato é que o próprio presidente Macchi, na entrevista coletiva que deu ao chegar, passou um atestado do poder remanescente do "oviedismo".
Ele acusou os seguidores do general de estarem por trás de um "plano de desestabilização" do governo. O grupo "oviedista", sempre segundo o presidente, seria o responsável por invasões de terras ocorridas recentemente na zona de San Pedro.
O jornal "La Nación", por sua vez, publica editorial destacando que o "oviedismo" fortaleceu-se no Congresso, o que "o converte em árbitro obrigatório na definição dos grandes temas nacionais que devem passar por essa instância legislativa".
O general Oviedo lidera uma das correntes do Partido Colorado, no poder há mais de meio século e ao qual pertence também o presidente Macchi, assim como pertencia o assassinado vice-presidente Argaña.
Já o jornal "ABC Color" prefere atribuir a ato de "indisciplina" dos oficiais de artilharia a uma tentativa de desestabilizar não o governo como um todo, mas o comandante interino do Exército paraguaio, o coronel Salvador Díaz Escobar.


Com as agências internacionais

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