|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Novo pesadelo afegão são bombas
dos EUA que não explodiram
DO ENVIADO ESPECIAL A CABUL
Além das minas terrestres, uma
praga que assola o Afeganistão,
um novo problema decorrente da
guerra está preocupando a Organização das Nações Unidas nessa
fase de transição pós-Taleban.
São as bombas norte-americanas que não explodiram nos ataques que começaram em 7 de outubro.
""O aeroporto de Cabul poderia
ser reaberto em duas semanas,
mas realmente os técnicos ainda
não sabem o que fazer com uma
bomba que está enterrada a dez
metros de profundidade, sem explodir, na pista", disse ontem Eric
Falt, o porta-voz da ONU na capital afegã.
Além disso, há o problema das
chamadas ""cluster bombs", as
bombas de fragmentação que lançam até 200 bombinhas em grandes áreas.
Boa parte delas não explode, e
os seis organismos que tentam
desarmar as 10 milhões de minas
que existem no Afeganistão já estão treinando seu pessoal para lidar com a nova ameaça.
Morte instantânea
Por fim, há a destruição decorrente dos ataques "burros" de
bombas supostamente ""inteligentes".
""Eu deixei minha filha brincando e saí para comprar pão. Era
mais ou menos 16h. Ouvi o barulho e, quando voltei, só vi fumaça", conta Abdul Basir, 34, ao
apontar para a cratera feita ao lado do bloco 33 do bairro Markrorian 3.
Sua filha Nazillah, de 5 anos,
morreu imediatamente por causa
dos ferimentos causados pela explosão. "Não odeio os americanos
não. Acho que foi um erro deles,
mas também errei ao deixá-la sozinha", diz o pai, resignado.
De todo modo, poderia ter havido uma tragédia ainda maior. A
bomba abriu um impressionante
buraco de cerca de dois metros de
profundidade exatamente ao lado
do bloco 33 -apenas dois apartamentos do primeiro andar foram
afetados e algumas outras janelas,
quebradas.
O alvo provável da bomba era a
academia militar a duas quadras
do local. Ela acabou bombardeada dois dias depois da morte de
Nazillah, na primeira semana dos
ataques.
Mas nem todos se conformam
como Basir. ""Primeiro, eles fizeram isso. Tudo bem, o Taleban se
foi, mas agora precisamos de verdade de ajuda. Não temos água
nem luz", afirma Mirna Hamida,
22, que teve a filha Nihab, 4, ferida
na perna por um estilhaço da
mesma bomba que matou Nazillah.
(IG)
Texto Anterior: Na capital: Minorias de Cabul lutam para sobreviver Próximo Texto: França envia 5.000 soldados para região; Argentina promete tropas Índice
|