São Paulo, sexta-feira, 23 de novembro de 2001

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Novo pesadelo afegão são bombas dos EUA que não explodiram

DO ENVIADO ESPECIAL A CABUL

Além das minas terrestres, uma praga que assola o Afeganistão, um novo problema decorrente da guerra está preocupando a Organização das Nações Unidas nessa fase de transição pós-Taleban.
São as bombas norte-americanas que não explodiram nos ataques que começaram em 7 de outubro.
""O aeroporto de Cabul poderia ser reaberto em duas semanas, mas realmente os técnicos ainda não sabem o que fazer com uma bomba que está enterrada a dez metros de profundidade, sem explodir, na pista", disse ontem Eric Falt, o porta-voz da ONU na capital afegã.
Além disso, há o problema das chamadas ""cluster bombs", as bombas de fragmentação que lançam até 200 bombinhas em grandes áreas.
Boa parte delas não explode, e os seis organismos que tentam desarmar as 10 milhões de minas que existem no Afeganistão já estão treinando seu pessoal para lidar com a nova ameaça.

Morte instantânea
Por fim, há a destruição decorrente dos ataques "burros" de bombas supostamente ""inteligentes".
""Eu deixei minha filha brincando e saí para comprar pão. Era mais ou menos 16h. Ouvi o barulho e, quando voltei, só vi fumaça", conta Abdul Basir, 34, ao apontar para a cratera feita ao lado do bloco 33 do bairro Markrorian 3.
Sua filha Nazillah, de 5 anos, morreu imediatamente por causa dos ferimentos causados pela explosão. "Não odeio os americanos não. Acho que foi um erro deles, mas também errei ao deixá-la sozinha", diz o pai, resignado.
De todo modo, poderia ter havido uma tragédia ainda maior. A bomba abriu um impressionante buraco de cerca de dois metros de profundidade exatamente ao lado do bloco 33 -apenas dois apartamentos do primeiro andar foram afetados e algumas outras janelas, quebradas.
O alvo provável da bomba era a academia militar a duas quadras do local. Ela acabou bombardeada dois dias depois da morte de Nazillah, na primeira semana dos ataques.
Mas nem todos se conformam como Basir. ""Primeiro, eles fizeram isso. Tudo bem, o Taleban se foi, mas agora precisamos de verdade de ajuda. Não temos água nem luz", afirma Mirna Hamida, 22, que teve a filha Nihab, 4, ferida na perna por um estilhaço da mesma bomba que matou Nazillah. (IG)



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