São Paulo, sexta-feira, 23 de novembro de 2001

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FOME

ONGs querem tropas para proteger ajuda

Elas exortam países europeus a garantir chegada de comboios à população afegã necessitada

MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES

Organizações internacionais de ajuda humanitária estão pressionando o Reino Unido e outros países europeus para que enviem o quanto antes tropas ao Afeganistão para proteger os comboios com alimentos, roupas e medicamentos para população.
Elas aguardam a entrada de uma "força de segurança autorizada pela ONU" para poderem distribuir ajuda a regiões que devem ficar isoladas do mundo pela neve logo. A chegada dessas tropas, porém, não deve ocorrer antes do término da reunião entre as principais lideranças políticas afegãs, marcada para a próxima semana, em Bonn (Alemanha).
A própria ONU já se preocupa com a situação. O esforço internacional para alimentar os afegãos está ameaçado por causa da falta de segurança existente nas áreas tomadas pelas forças anti-Taleban, segundo um funcionário.
Ontem, os britânicos se tornaram os primeiros a abrir oficialmente uma representação diplomática em Cabul. O enviado do Reino Unido ao Afeganistão, Stephen Evans, disse que um de seus principais objetivos é aumentar o fluxo de ajuda humanitária. Comentou também que seu governo pretende abrir no local um escritório do Ministério da Cooperação e Desenvolvimento Internacional, cujos integrantes ajudariam na reconstrução do país.
Na semana passada, o Reino Unido esteve no centro de controvérsias com a Aliança do Norte e com os EUA após enviar cem soldados para garantir a segurança da base aérea de Bagram (perto de Cabul). Eles teriam também a missão de estudar a possibilidade de envio de até 6.000 soldados britânicos que ajudariam a "estabilizar" o Afeganistão e a abrir um "corredor humanitário" para a passagem segura dos comboios com ajuda à população.
O Programa Mundial de Alimentação (PMA) da ONU anunciou na semana passada que havia conseguido levar à região a quantidade de comida estimada necessária para alimentar os cerca de 7 milhões afetados pela fome que assola o país. Mas, segundo uma porta-voz disse ao diário "The Guardian", e ajuda não está chegando a cerca de 3 milhões.
Sem escolta militar, as organizações não-governamentais (ONGs) enfrentam dificuldades para levar essa ajuda às diferentes regiões. "Chefes guerrilheiros e bandidos estão impedindo a comida de chegar aos distritos onde há mais necessidade", disse a Oxfam, entidade britânica de ajuda internacional.
Na quarta-feira, um porta-voz da ONU revelou que muitos de seus escritórios no país haviam sido saqueados nos últimos dias. Um comboio carregando 185 toneladas de comida do PMA foi sequestrado na estrada a caminho de Herat (noroeste).
Franceses e italianos também se mostraram dispostos a participar de uma missão inicial para garantir a chegada da comida aos afegãos. O atraso se deve em grande parte à oposição americana.


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