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FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
Para eles, país usa dois pesos e duas medidas
Árabes criticam pressão dos EUA por democratização
PAUL TAYLOR
DA REUTERS, EM DAVOS (SUÍÇA)
Líderes árabes e muçulmanos
criticaram ontem a campanha
americana por democracia no
Oriente Médio, qualificando-a de
hipócrita e dizendo que Washington deveria primeiro deixar de
usar dois pesos e duas medidas no
conflito árabe-israelense.
Num debate público promovido no Fórum Econômico Mundial, em Davos, figuras de alto escalão da Arábia Saudita, do Egito
e do Irã acusaram a administração Bush de ignorar as armas israelenses de destruição em massa
e as violações dos direitos humanos dos palestinos cometidas por
Israel, ao mesmo tempo em que
pressionam os Estados árabes e
muçulmanos para que se desarmem e se democratizem.
"A democracia ou qualquer coisa que se assemelhe a uma participação mais ampla terá de vir de
dentro das sociedades", disse o
príncipe Turki Al Faisal, que pertence à família real saudita e é o
embaixador em Londres.
Ele se queixou de que os EUA
falam em promover a democracia
no Oriente Médio, mas se negam
a reconhecer um dos poucos líderes da região eleito democraticamente, o palestino Iasser Arafat.
O diretor do Programa de Desenvolvimento da ONU, Mark
Malloch-Brown, disse que a democracia não pode ser imposta
pela força e que ela deitará raízes
apenas nos lugares onde possa
ajudar a superar a pobreza.
Gamal Mubarak, influente filho
do presidente egípcio, Hosni Mubarak, manifestou seu apoio aos
chamados por reforma, democracia multipartidária e uma sociedade mais aberta no mundo árabe, inclusive em seu próprio país.
Mas ele disse que o fato de Washington se negar a tratar o problema palestino de frente enfraquece
os reformistas árabes.
O chanceler do Irã, Kamal
Kharrazi, rejeitou críticas feitas ao
estilo da democracia em seu país,
depois que um conselho de clérigos barrou quase a metade dos
candidatos à eleição parlamentar
do próximo mês. ""Estamos determinados a ter uma eleição justa, e
o presidente vai assegurar que isso aconteça", disse ele no debate
promovido pela rede BBC.
Kharrazi disse que os EUA não
agem de maneira justa e equilibrada ao promover a democracia,
de modo que suas pressões seletivas sobre alguns países do Oriente
Médio são interpretadas como
tentativa de promover instabilidade. Além disso, disse que a
maioria dos iraquianos quer uma
eleição geral para escolher um governo que garanta a soberania iraquiana, assumindo o poder em
lugar das forças de ocupação
americanas, mas que Washington
não tem interesse em promover
uma eleição desse tipo.
Richard Haass, antigo alto funcionário do Departamento de Estado americano e um dos arquitetos da campanha em prol da democracia no Oriente Médio, disse
que a ação é uma tentativa de
romper com décadas de hipocrisia durante os quais os EUA trataram governantes árabes como
amigos e, ao mesmo tempo, ignoraram sua natureza autoritária.
Haass tentou justificar as opções de Washington: "A política
externa diz respeito, em parte, a
dois pesos e duas medidas. Ela
pode ser consistente em seus
princípios, mas às vezes é necessário fazer escolhas. Não podemos nos dar ao luxo de sermos
100% consistentes".
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