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CONFLITO SEM FIM
Imagens do fotógrafo Sebastião Salgado mostram vítimas dos conflitos, retomados em dezembro
Angola se depara com nova guerra civil
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
As esperanças de paz em Angola
são "exíguas", mas, "ainda assim,
temos de trabalhar sobre elas", disse ontem o presidente do Conselho
de Segurança da Organização das
Nações Unidas (ONU), o brasileiro
Celso Amorim.
Em entrevista exclusiva à Folha,
por telefone, de Nova Iorque,
Amorim afirmou que a estratégia
para a paz em Angola precisa ter
duplo alcance: pressionar os rebeldes da Unita a cumprirem o acordo de paz de 1994 e, depois disso,
incentivar a volta ao diálogo.
A guerra civil em Angola, iniciada após a independência de Portugal, em 1975, foi interrompida em
1991, retomada em 1992, e novamente suspensa em 1994.
A partir de abril de 1998, os rebeldes da Unita (União pela Independência Total de Angola) passaram
a violar de maneira ostensiva o
acordo de paz firmado em Lusaka
(Zâmbia), quatro anos antes.
Em 4 de dezembro, o governo
mobilizou suas tropas para um
grande ataque contra as bases da
Unita, no Planalto Central do país.
Para surpresa do governo angolano e de muitos observadores, os
rebeldes da Unita demonstraram
grande capacidade militar, rechaçaram a ofensiva e partiram para
um poderoso contra-ataque.
Fortes chuvas na região dos combates fizeram com que eles perdessem intensidade nas últimas semanas. Mas a situação é tão volátil que
o secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, chegou a sugerir que a entidade deixasse o país.
A Unita vinha sendo objeto de
sanções da ONU por descumprir o
acordo de Lusaka, que previa a
desmilitarização dos rebeldes e a
entrega de territórios sob seu controle para o governo.
As sanções se provaram inúteis.
A Unita continuou a explorar e
vender diamantes, que lhe rendem
estimados US$ 610 milhões por
ano, e a comprar armamentos.
O governo de Angola acusou formalmente o de Zâmbia de ajudar a
Unita. Há rumores de que o Gabão
também tem auxiliado os rebeldes
angolanos.
As armas, modernas, que a Unita
tem usado vêm da Ucrânia, uma
das ex-repúblicas soviéticas que
comerciam tanto com diamantes
quanto com armamentos.
Acredita-se que mercenários da
África do Sul e do Congo participem das tropas da Unita.
Os dois lados da guerra civil parecem ter pouca condição de vencê-la. A Unita, por não dispor de
organização e capilaridade em
seus contingentes. O governo, por
ter comandantes militares há muito afastados dos combates e soldados mal armados e mal equipados.
Um dos países mais ricos em recursos naturais da África (que já
foi o quarto maior produtor do
mundo de café e diamantes e tem
grande potencial petrolífero), Angola tem visto a situação social de
seus 10 milhões de habitantes deteriorar-se a cada ano. Em 1998, 500
mil pessoas ficaram sem lar.
Pelo menos 16% do Orçamento
(de estimados US$ 10 bilhões) são
destinados à guerra civil. A dívida
externa do país é de US$ 6 bilhões.
O salário médio do angolano é de
US$ 6 mensais. O que é pior: a esperança diminui a cada mês.
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