|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VENEZUELA
Presidente pede que países e Gaviria, chefe da OEA e mediador da crise venezuelana, "ponham-se em seus lugares"
Chávez ataca OEA, EUA, Espanha e Portugal
DA REDAÇÃO
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, criticou ontem declarações do secretário-geral da OEA
(Organização dos Estados Americanos), César Gaviria, que havia
pedido respeito aos direitos do líder empresarial Carlos Fernández, preso na última quarta-feira,
e afirmou que ele deveria "colocar-se em seu lugar".
"Doutor Gaviria, este é um país
soberano. Você foi presidente de
um país [da Colômbia, entre 1990
e 1994", ponha-se em seu lugar.
Não há privilégios aqui neste país,
de nenhum tipo", afirmou Chávez em seu programa dominical
de TV, "Alô Presidente".
Gaviria atua desde o começo de
novembro como mediador da
mesa de diálogo entre o governo e
a oposição, que tenta pôr fim à
grave crise política no país. Além
de pedir respeito aos direitos de
Fernández, Gaviria havia dito na
última quinta-feira que todas as
decisões judiciais na Venezuela
"devem estar baseadas em independência e imparcialidade".
Fernández, presidente da Fedecámaras, a principal associação
empresarial do país, e um dos líderes da greve geral de 63 dias
contra Chávez, encerrada no início do mês, teve a prisão decretada pela Justiça na quarta-feira por
crimes como rebelião, formação
de quadrilha e incitamento à delinquência, supostamente cometidos durante a paralisação.
O sindicalista Carlos Ortega,
presidente da CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela), também teve a prisão ordenada pelos mesmos motivos,
mas permanece foragido.
Prisão domiciliar
A juíza Gisela Hernández, que
assumiu o caso na sexta-feira, autorizou a transferência de Fernández ontem para prisão domiciliar,
mas negou um pedido de habeas
corpus, alegando que há risco de
que ele "fuja do país".
O antecessor de Fernández na
presidência da Fedecámaras, Pedro Carmona, que assumiu o governo do país interinamente durante o golpe que tirou Chávez da
Presidência por dois dias, em
abril, fugiu em maio da prisão domiciliar em que se encontrava e
hoje vive exilado na Colômbia.
Fernández afirmou, ao chegar à
sua casa em Valencia (100 km a
oeste de Caracas), que foi "bem
tratado" durante o período em
que esteve na prisão. "Respeitaram todos os meus direitos e sempre tive boa atenção", afirmou.
Chávez criticou a decisão da
Justiça, mas disse que o Executivo
vai respeitá-la. "Se fosse por mim,
Fernández não estaria em sua casa, mas atrás das grades", disse ele
durante seu programa, no qual
voltou a classificá-lo como "terrorista" e "sabotador", por seu papel de incentivador da greve geral.
"Se aqui o Poder Judiciário estivesse subordinado ao presidente
da República, as prisões da Venezuela estariam cheias de civis e de
militares", afirma Chávez, que
acusa os opositores de tramarem
um golpe para derrubá-lo.
Chávez também pediu aos
"porta-vozes de alguns governos"
que "se ponham cada um no seu
lugar", dizendo que os países que
criticaram a prisão de Fernández
não condenaram o golpe de abril.
EUA, Espanha e Portugal manifestaram preocupação pela prisão. Os três fazem parte, ao lado
de Chile, Brasil e México, do Grupo de Amigos da Venezuela, formado para auxiliar o trabalho da
OEA na mesa de diálogo.
"Esses governos não manifestaram preocupação quando o presidente Chávez, e não só o presidente como todo o povo, estava
sequestrado, e estavam massacrando o povo nas ruas", disse.
"Tem gente que não aprende.
Porta-vozes de alguns governos
saíram a mostrar preocupação
pela prisão de não sei quem. Foram os mesmos que aplaudiram o
golpe aqui", afirmou.
A oposição promoveu a greve
geral para pressionar Chávez a renunciar ou aceitar a antecipação
das eleições presidenciais, previstas para 2006. Eles acusam o presidente de arruinar a economia
do país com suas políticas populistas de esquerda. Chávez acusa
os opositores de reagirem ao fim
dos privilégios às elites que mandaram no país por décadas.
A greve provocou perdas de
mais de US$ 4 bilhões ao país e
continua afetando a indústria de
petróleo, que responde por 80%
das exportações venezuelanas.
Policial morto
O prefeito da região metropolitana de Caracas, Alfredo Peña,
acusou ontem simpatizantes de
Chávez de disparar contra policiais metropolitanos anteontem à
noite, matando um e ferindo cinco deles. O incidente traz de volta
o temor dos episódios de violência política, após o governo e a
oposição terem assinado, na última terça-feira, um acordo contra
a violência na mesa de diálogo.
No mesmo dia da assinatura do
acordo, três militares oposicionistas já haviam sido encontrados
mortos na periferia de Caracas.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Curdos iraquianos advertem a Turquia Próximo Texto: Frase Índice
|