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São Paulo, segunda-feira, 24 de fevereiro de 2003

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VENEZUELA

Presidente pede que países e Gaviria, chefe da OEA e mediador da crise venezuelana, "ponham-se em seus lugares"

Chávez ataca OEA, EUA, Espanha e Portugal

DA REDAÇÃO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, criticou ontem declarações do secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), César Gaviria, que havia pedido respeito aos direitos do líder empresarial Carlos Fernández, preso na última quarta-feira, e afirmou que ele deveria "colocar-se em seu lugar".
"Doutor Gaviria, este é um país soberano. Você foi presidente de um país [da Colômbia, entre 1990 e 1994", ponha-se em seu lugar. Não há privilégios aqui neste país, de nenhum tipo", afirmou Chávez em seu programa dominical de TV, "Alô Presidente".
Gaviria atua desde o começo de novembro como mediador da mesa de diálogo entre o governo e a oposição, que tenta pôr fim à grave crise política no país. Além de pedir respeito aos direitos de Fernández, Gaviria havia dito na última quinta-feira que todas as decisões judiciais na Venezuela "devem estar baseadas em independência e imparcialidade".
Fernández, presidente da Fedecámaras, a principal associação empresarial do país, e um dos líderes da greve geral de 63 dias contra Chávez, encerrada no início do mês, teve a prisão decretada pela Justiça na quarta-feira por crimes como rebelião, formação de quadrilha e incitamento à delinquência, supostamente cometidos durante a paralisação.
O sindicalista Carlos Ortega, presidente da CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela), também teve a prisão ordenada pelos mesmos motivos, mas permanece foragido.

Prisão domiciliar
A juíza Gisela Hernández, que assumiu o caso na sexta-feira, autorizou a transferência de Fernández ontem para prisão domiciliar, mas negou um pedido de habeas corpus, alegando que há risco de que ele "fuja do país".
O antecessor de Fernández na presidência da Fedecámaras, Pedro Carmona, que assumiu o governo do país interinamente durante o golpe que tirou Chávez da Presidência por dois dias, em abril, fugiu em maio da prisão domiciliar em que se encontrava e hoje vive exilado na Colômbia.
Fernández afirmou, ao chegar à sua casa em Valencia (100 km a oeste de Caracas), que foi "bem tratado" durante o período em que esteve na prisão. "Respeitaram todos os meus direitos e sempre tive boa atenção", afirmou.
Chávez criticou a decisão da Justiça, mas disse que o Executivo vai respeitá-la. "Se fosse por mim, Fernández não estaria em sua casa, mas atrás das grades", disse ele durante seu programa, no qual voltou a classificá-lo como "terrorista" e "sabotador", por seu papel de incentivador da greve geral.
"Se aqui o Poder Judiciário estivesse subordinado ao presidente da República, as prisões da Venezuela estariam cheias de civis e de militares", afirma Chávez, que acusa os opositores de tramarem um golpe para derrubá-lo.
Chávez também pediu aos "porta-vozes de alguns governos" que "se ponham cada um no seu lugar", dizendo que os países que criticaram a prisão de Fernández não condenaram o golpe de abril. EUA, Espanha e Portugal manifestaram preocupação pela prisão. Os três fazem parte, ao lado de Chile, Brasil e México, do Grupo de Amigos da Venezuela, formado para auxiliar o trabalho da OEA na mesa de diálogo.
"Esses governos não manifestaram preocupação quando o presidente Chávez, e não só o presidente como todo o povo, estava sequestrado, e estavam massacrando o povo nas ruas", disse.
"Tem gente que não aprende. Porta-vozes de alguns governos saíram a mostrar preocupação pela prisão de não sei quem. Foram os mesmos que aplaudiram o golpe aqui", afirmou.
A oposição promoveu a greve geral para pressionar Chávez a renunciar ou aceitar a antecipação das eleições presidenciais, previstas para 2006. Eles acusam o presidente de arruinar a economia do país com suas políticas populistas de esquerda. Chávez acusa os opositores de reagirem ao fim dos privilégios às elites que mandaram no país por décadas.
A greve provocou perdas de mais de US$ 4 bilhões ao país e continua afetando a indústria de petróleo, que responde por 80% das exportações venezuelanas.

Policial morto
O prefeito da região metropolitana de Caracas, Alfredo Peña, acusou ontem simpatizantes de Chávez de disparar contra policiais metropolitanos anteontem à noite, matando um e ferindo cinco deles. O incidente traz de volta o temor dos episódios de violência política, após o governo e a oposição terem assinado, na última terça-feira, um acordo contra a violência na mesa de diálogo. No mesmo dia da assinatura do acordo, três militares oposicionistas já haviam sido encontrados mortos na periferia de Caracas.


Com agências internacionais

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