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ORIENTE MÉDIO
Palestinos esperam sanções contra obra que Israel diz ser defensiva
Tribunal da ONU analisa barreira
DA REUTERS
Os palestinos contestaram ontem na Corte Internacional de
Justiça (CIJ), em Haia, a legalidade da barreira erguida por Israel
na fronteira com Cisjordânia, declarando que ela lhes privará da
possibilidade de ter um Estado independente viável.
Contestando o direito que a CIJ
teria de tomar uma decisão sobre
o tema, Israel se ausentou oficialmente da sessão de ontem do tribunal da ONU. Mas tanto Israel
quanto os palestinos tentaram
marcar pontos em termos de propaganda política, promovendo
manifestações diante do tribunal.
Israel afirma que a barreira visa
apenas a sua segurança e cita, como prova de que precisa manter
os terroristas palestinos fora de
seu território, o atentado suicida
que deixou oito mortos num ônibus em Jerusalém, anteontem.
Milhares de palestinos, na Cisjordânia e na faixa de Gaza
-ocupadas desde 1967- e em
alguns países árabes, realizaram
protestos em um "Dia de Ira"
contra o que descreveram como o
Muro de Berlim de Israel, que os
separa de alguns de seus campos
cultivados, escolas e hospitais e
coloca territórios palestinos do lado israelense da barreira.
"Se for concluída, essa barreira
deixará o povo palestino com
apenas metade da Cisjordânia,
dentro de encraves isolados, murados, não contíguos", disse ao
painel de 15 juízes -entre eles o
brasileiro Francisco Rezek- o
observador palestino permanente
na ONU, Nasser al Kidwa.
Em discurso televisionado à população, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser
Arafat, disse que não pode haver
paz ou segurança com a barreira.
O tribunal fará três dias de audiências sobre a legalidade da
construção. Diante do Palácio da
Paz, várias centenas de manifestantes pró-Israel repetiam orações e agitavam bandeiras israelenses. Alguns usavam camisas
manchadas de vermelho, com os
dizeres: "A barreira salva vidas".
O esqueleto de um ônibus de Jerusalém no qual um homem-bomba palestino matou 11 pessoas no mês passado foi exposto a
cerca de cem metros do prédio da
corte, antes de ser retirado para
dar espaço a um ato palestino.
A audiência em Haia é fruto de
um pedido palestino, que teve o
apoio da Assembléia Geral da
ONU, para que se decida se Israel
tem a obrigação legal de demolir a
barreira, da qual já foram erguidos cerca de 180 quilômetros,
num total previsto de 730.
A decisão da corte, porém, não
tem força de lei, mas pode servir
como argumento moral aos palestinos. Embora EUA e União
Européia sejam contra o traçado
da cerca em áreas palestinas,
apóiam a posição de Israel de que
a CIJ não serve para debatê-la.
Em sua argumentação, Kidwa
disse esperar que a decisão da corte possa abrir o caminho para
sanções internacionais contra Israel. Em 1971, a decisão da corte
de que a ocupação sul-africana da
atual Namíbia era ilegal abriu caminho para as sanções da ONU
contra o regime do apartheid.
Os palestinos dizem que a barreira é ilegal porque absorve trechos de territórios ocupados, incluindo áreas que circundam assentamentos judaicos, e porque
provoca dificuldades para os palestinos. Para eles, a barreira vai
efetivamente isolar cerca de 2,5
milhões de pessoas e deve ser desmontada ou transferida de modo
a seguir a fronteira entre Israel e a
Cisjordânia. Cerca de uma dúzia
de países iriam apresentar argumentos verbais de apoio à posição
palestina, como Arábia Saudita,
Jordânia, África do Sul e Cuba.
O tribunal pode levar vários meses para anunciar uma decisão.
Daniel Taub, advogado do governo israelense que ajudou a elaborar a posição escrita que o país
enviou à corte, disse que a audiência era parcial: "Não sentimos na
corte nenhuma empatia com as as
crianças e as mais de 950 pessoas
mortas nas ações terroristas".
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