São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

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ELEIÇÃO

Crise inquieta UE, diz diplomata

Acordo entre Europa e Irã fica mais distante

DA REDAÇÃO

A esperança do Irã de conseguir fechar um lucrativo acordo comercial com a União Européia (UE) sofreu um duro golpe ontem, quando o bloco criticou a exclusão de cerca de 2.500 candidatos reformistas da eleição legislativa realizada na sexta-feira, no Irã, classificando a ação de um "obstáculo para a democracia".
Diplomatas europeus disseram que, mesmo que o relatório da ONU sobre o programa nuclear iraniano venha a ser favorável a Teerã, a UE passará a ter mais cuidado em suas relações com o Irã, já que o país agora é quase totalmente dominado pela linha dura.
Com a perda da maioria no Parlamento (os conservadores deverão conquistar ao menos 149 das 290 cadeiras do Majlis), os reformistas têm agora como seu último representante nas esferas mais elevadas do poder o presidente Mohammad Khatami.
Porém seu poder é limitado, pois certos órgãos controlados pelos conservadores, como o Conselho de Guardiães, e o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, podem anular suas decisões ou minar suas iniciativas políticas mais ousadas.
Um diplomata europeu -que não quis identificar-se- disse que as relações entre a UE e Teerã sofrerão um "certo resfriamento, pois o bloco está inquieto". Ele disse crer que as negociações entre as duas partes sobre o acordo comercial não deverão ser retomadas tão cedo. Elas foram suspensas, em 2003, por conta de acusações, feitas pelo governo dos EUA, de que Teerã buscava dotar-se de armamentos nucleares.
"Nossos interlocutores eram os reformistas. Só restam agora o presidente Khatami e seu chanceler [Kamal Kharrazi]", afirmou o diplomata europeu.
Os chanceleres dos 25 atuais e futuros países-membros da UE disseram, em Bruxelas, que a "interferência" da linha dura na eleição da última sexta-feira fora uma "decepção", após quase uma década de progressos em direção a uma liberalização do regime político iraniano. Khatami foi eleito pela primeira vez em 1997.
A UE condicionou a retomada das negociações sobre o acordo comercial e de cooperação ao respeito, por parte do Irã, de normas impostas pela Agência Internacional de Energia Atômica. Os europeus querem que os iranianos aceitem inspeções sem aviso prévio de suas instalações nucleares.
Mohammed El Baradei, que chefia a AIEA (que faz parte da ONU), divulgará um relatório sobre o grau de cooperação de Teerã com a agência nesta semana. Os EUA pensam que o programa do Irã tem fins militares. Teerã nega.
Os EUA também criticaram o controle da linha dura sobre a política iraniana. "Continuamos a crer que o povo iraniano mereça ter suas aspirações levadas em consideração por seu governo", afirmou Richard Boucher, porta-voz do Departamento de Estado.


Com agências internacionais


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