São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

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HAITI

Rebeldes armados consolidam controle do norte do país, em meio à negociação internacional para acabar com a crise

Oposição impõe data para saída de Aristide

DA REDAÇÃO

A oposição política haitiana apresentou ontem aos mediadores internacionais um plano para pôr fim à crise do país, pedindo a renúncia do presidente Jean-Bertrand Aristide até 18 de março. Tal proposta surge em meio ao fortalecimento dos rebeldes armados, que já controlam o norte do país e consolidaram o controle sobre Cabo Haitiano, a segunda maior cidade, com 500 mil habitantes.
Com a ameaça rebelde de avançar sobre a capital do Haiti, Porto Príncipe, os EUA mandaram 52 marines para proteger sua embaixada, e a França pediu à União Européia que ajude nas negociações e envie ajuda humanitária.
A proposta de transição oposicionista determina que Aristide, além de renunciar, deve deixar o país. "Aristide só tem legitimidade no exterior. Internamente, ele não é mais nada", disse Paul Denis, um dos líderes da oposição.
O plano inicial, apresentado por representantes de EUA, França, Canadá e OEA e recusada pela oposição, mantém Aristide na Presidência, mas nomeia um novo primeiro-ministro, que assume o controle do governo.
Aristide, que havia aceitado essa proposta, acusa a oposição de aliança com os rebeldes, grupos armados que controlam mais de 15 cidades no norte. "Queremos ajuda da comunidade internacional para prender os terroristas que espalham violência e morte", pediu o premiê Yvon Neptune.
Em Cabo Haitiano, cidade tomada anteontem, a falta de policiamento expôs o comércio local e os prédios do governo aos saques, em cena comum às outras cidades abandonadas pela polícia haitiana. Foi incendiada a casa do prefeito da cidade, que apoiava Aristide, e 800 toneladas de alimentos foram roubadas do depósito do Programa Mundial de Alimentação da ONU. O Haiti é um dos países mais pobres do mundo, e centenas de milhares de habitantes dependem da ajuda de organizações internacionais.
Corneirre Jeon Luny, enfermeira da Cruz Vermelha que trabalha em um hospital na cidade, disse que não houvera combates intensos durante a ofensiva rebelde. "A população saudou os rebeldes."
Guy Phillipe, 36, líder dos rebeldes em Cabo Haitiano, disse que nada pudera fazer para conter os saques e culpou o governo pela fome e pelo desespero da população. "Viemos para libertar a população", disse Phillipe. "Estamos prontos para morrer pelo Haiti. Essa é a nossa vantagem. Ninguém quer morrer por Aristide", acrescentou o comandante.
Ontem, seu grupo iniciou uma caçada aos partidários de Aristide que ainda estavam em Cabo Haitiano. "Penso que, em menos de 15 dias, assumiremos o controle de todo o país", disse Phillipe.
Em Porto Príncipe, centenas de aliados de Aristide incendiaram dezenas de barricadas na principal estrada que leva ao norte do país. Portando fuzis e metralhadoras, os governistas revistavam quase todos os veículos que seguiam em direção à capital.
"Estamos prontos para resistir com tudo o que tivermos em nossas mãos: pistolas, pedras e machetes", disse um homem que se identificou só como Rincher e disse ser professor. Os rebeldes têm avançado com facilidade pelo país, já que a estrutura policial é precária e o Exército foi dissolvido por Aristide nos anos 90.
Um dos funcionários da ONU em Porto Príncipe disse à agência de notícias France Presse que a entidade orientou todo o seu corpo diplomático a deixar o país por um mês. Também ontem, o governo francês recomendou a saída de seus cidadãos.

Colapso
Em Genebra, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) alertou para a deterioração da situação no Haiti e para o conseqüente colapso da rede hospitalar.
Segundo Yves Giovannoni, diretor de operações do CICV para a região, os confrontos no norte do país deixam de 30 a 50 pessoas feridas por dia.


Com agências internacionais e o jornal "The New York Times"


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