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HAITI
Rebeldes armados consolidam controle do norte do país, em meio à negociação internacional para acabar com a crise
Oposição impõe data para saída de Aristide
DA REDAÇÃO
A oposição política haitiana
apresentou ontem aos mediadores internacionais um plano para
pôr fim à crise do país, pedindo a
renúncia do presidente Jean-Bertrand Aristide até 18 de março. Tal
proposta surge em meio ao fortalecimento dos rebeldes armados,
que já controlam o norte do país e
consolidaram o controle sobre
Cabo Haitiano, a segunda maior
cidade, com 500 mil habitantes.
Com a ameaça rebelde de avançar sobre a capital do Haiti, Porto
Príncipe, os EUA mandaram 52
marines para proteger sua embaixada, e a França pediu à União
Européia que ajude nas negociações e envie ajuda humanitária.
A proposta de transição oposicionista determina que Aristide,
além de renunciar, deve deixar o
país. "Aristide só tem legitimidade no exterior. Internamente, ele
não é mais nada", disse Paul Denis, um dos líderes da oposição.
O plano inicial, apresentado por
representantes de EUA, França,
Canadá e OEA e recusada pela
oposição, mantém Aristide na
Presidência, mas nomeia um novo primeiro-ministro, que assume o controle do governo.
Aristide, que havia aceitado essa
proposta, acusa a oposição de
aliança com os rebeldes, grupos
armados que controlam mais de
15 cidades no norte. "Queremos
ajuda da comunidade internacional para prender os terroristas
que espalham violência e morte",
pediu o premiê Yvon Neptune.
Em Cabo Haitiano, cidade tomada anteontem, a falta de policiamento expôs o comércio local
e os prédios do governo aos saques, em cena comum às outras
cidades abandonadas pela polícia
haitiana. Foi incendiada a casa do
prefeito da cidade, que apoiava
Aristide, e 800 toneladas de alimentos foram roubadas do depósito do Programa Mundial de Alimentação da ONU. O Haiti é um
dos países mais pobres do mundo, e centenas de milhares de habitantes dependem da ajuda de
organizações internacionais.
Corneirre Jeon Luny, enfermeira da Cruz Vermelha que trabalha
em um hospital na cidade, disse
que não houvera combates intensos durante a ofensiva rebelde. "A
população saudou os rebeldes."
Guy Phillipe, 36, líder dos rebeldes em Cabo Haitiano, disse que
nada pudera fazer para conter os
saques e culpou o governo pela
fome e pelo desespero da população. "Viemos para libertar a população", disse Phillipe. "Estamos
prontos para morrer pelo Haiti.
Essa é a nossa vantagem. Ninguém quer morrer por Aristide",
acrescentou o comandante.
Ontem, seu grupo iniciou uma
caçada aos partidários de Aristide
que ainda estavam em Cabo Haitiano. "Penso que, em menos de
15 dias, assumiremos o controle
de todo o país", disse Phillipe.
Em Porto Príncipe, centenas de
aliados de Aristide incendiaram
dezenas de barricadas na principal estrada que leva ao norte do
país. Portando fuzis e metralhadoras, os governistas revistavam
quase todos os veículos que seguiam em direção à capital.
"Estamos prontos para resistir
com tudo o que tivermos em nossas mãos: pistolas, pedras e machetes", disse um homem que se
identificou só como Rincher e disse ser professor. Os rebeldes têm
avançado com facilidade pelo
país, já que a estrutura policial é
precária e o Exército foi dissolvido por Aristide nos anos 90.
Um dos funcionários da ONU
em Porto Príncipe disse à agência
de notícias France Presse que a
entidade orientou todo o seu corpo diplomático a deixar o país por
um mês. Também ontem, o governo francês recomendou a saída de seus cidadãos.
Colapso
Em Genebra, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV)
alertou para a deterioração da situação no Haiti e para o conseqüente colapso da rede hospitalar.
Segundo Yves Giovannoni, diretor de operações do CICV para
a região, os confrontos no norte
do país deixam de 30 a 50 pessoas
feridas por dia.
Com agências internacionais e o jornal
"The New York Times"
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