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BASTIDORES
Ataque preventivo é velho sonho de Rumsfeld
STEVEN R. WEISMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"
Em janeiro de 1998, um grupo
de intelectuais conservadores avisou o presidente Bill Clinton, numa carta aberta, que a "contenção" do Iraque era um fracasso e
que tirar Saddam Hussein do poder "precisa agora ser o objetivo
da política externa americana".
Entre os 18 signatários estavam
Donald H. Rumsfeld e Paul D.
Wolfowitz, ex-autoridades em
administrações republicanas. Na
época, esses homens eram afiliados a institutos de política pública, sem nenhuma expectativa de
que, em cinco anos, fossem transformar suas idéias em ações.
A segunda guerra dos EUA no
golfo Pérsico representa mais do
que um triunfo para Rumsfeld,
secretário da Defesa, e Wolfowitz,
seu vice. Ela reflete a ascendência
sobre o presidente George W.
Bush da idéia dos conservadores
de que os programas de armas
químicas, biológicas e nucleares
dos "Estados delinquentes" devem ser confrontados com ação
preventiva antes que uma ameaça
iminente se materialize.
As origens da guerra atual têm
raízes numa série de pronunciamentos desses e de outros intelectuais conservadores que datam
do início dos anos 90.
Na era Clinton, quando muitos
deles perderam cargos no governo e o Iraque desapareceu enquanto preocupação política central, eles mantiveram viva a causa
da deposição do líder iraquiano
em artigos e conferências.
Então, quando Bush começou a
preencher os primeiros escalões
de sua administração, muitos deles voltaram ao poder.
Mesmo tendo ganhado influência, foi só depois do 11 de setembro que eles conseguiram fazer do
Iraque a principal prioridade da
política externa de Bush.
"Sem o 11 de setembro, nós jamais teríamos conseguido pôr o
Iraque no topo da agenda", disse
um funcionário do governo.
Nem todo mundo na administração Bush está satisfeito com o
fato de a guerra no Iraque ser o
símbolo de uma nova doutrina.
"A batalha pelo direcionamento
da política americana continuará", disse um outro funcionário
graduado, acrescentando que o
debate sobre como neutralizar as
ameaças do Irã e da Coréia do
Norte -os outros países listados
por Bush no "eixo do mal"- começaria antes de a guerra acabar.
Mas o secretário de Estado, Colin Powell, tem enfatizado que
ações como essa são apenas parte
de um grande conjunto de opiniões existente nos EUA.
Indagado depois sobre se a
guerra contra o Iraque refletia
uma doutrina maior de ataques
preventivos a inimigos, Powell
respondeu: "Não, não, não". Ele
disse que o Iraque estava sendo
atacado por ter violado "suas
obrigações internacionais".
Numa entrevista na última sexta-feira, Powell afirmou que a publicidade em cima da doutrina ignorou o fato de que a prevenção
era só uma estratégia de muitas.
A doutrina da prevenção, especialmente com respeito ao Iraque,
tem circulado pelos meios conservadores pelo menos desde a
administração de Bush pai.
Em 1991, assistentes do então
secretário da Defesa, Dick Cheney, fizeram um documento chamado Diretrizes de Planejamento
de Defesa, que dizia que os EUA
deveriam estar preparados para
usar a força a fim de prever a disseminação de armas nucleares.
O documento sugere também
que os EUA deveriam "se portar
de modo a agir independentemente quando a ação coletiva não
puder ser orquestrada".
Mas quando um esboço do documento vazou, no calor da campanha de reeleição de Bush, causou tanto constrangimento à administração que foi engavetado.
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