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São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

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BASTIDORES

Ataque preventivo é velho sonho de Rumsfeld

STEVEN R. WEISMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"

Em janeiro de 1998, um grupo de intelectuais conservadores avisou o presidente Bill Clinton, numa carta aberta, que a "contenção" do Iraque era um fracasso e que tirar Saddam Hussein do poder "precisa agora ser o objetivo da política externa americana".
Entre os 18 signatários estavam Donald H. Rumsfeld e Paul D. Wolfowitz, ex-autoridades em administrações republicanas. Na época, esses homens eram afiliados a institutos de política pública, sem nenhuma expectativa de que, em cinco anos, fossem transformar suas idéias em ações.
A segunda guerra dos EUA no golfo Pérsico representa mais do que um triunfo para Rumsfeld, secretário da Defesa, e Wolfowitz, seu vice. Ela reflete a ascendência sobre o presidente George W. Bush da idéia dos conservadores de que os programas de armas químicas, biológicas e nucleares dos "Estados delinquentes" devem ser confrontados com ação preventiva antes que uma ameaça iminente se materialize.
As origens da guerra atual têm raízes numa série de pronunciamentos desses e de outros intelectuais conservadores que datam do início dos anos 90.
Na era Clinton, quando muitos deles perderam cargos no governo e o Iraque desapareceu enquanto preocupação política central, eles mantiveram viva a causa da deposição do líder iraquiano em artigos e conferências.
Então, quando Bush começou a preencher os primeiros escalões de sua administração, muitos deles voltaram ao poder.
Mesmo tendo ganhado influência, foi só depois do 11 de setembro que eles conseguiram fazer do Iraque a principal prioridade da política externa de Bush.
"Sem o 11 de setembro, nós jamais teríamos conseguido pôr o Iraque no topo da agenda", disse um funcionário do governo.
Nem todo mundo na administração Bush está satisfeito com o fato de a guerra no Iraque ser o símbolo de uma nova doutrina.
"A batalha pelo direcionamento da política americana continuará", disse um outro funcionário graduado, acrescentando que o debate sobre como neutralizar as ameaças do Irã e da Coréia do Norte -os outros países listados por Bush no "eixo do mal"- começaria antes de a guerra acabar.
Mas o secretário de Estado, Colin Powell, tem enfatizado que ações como essa são apenas parte de um grande conjunto de opiniões existente nos EUA.
Indagado depois sobre se a guerra contra o Iraque refletia uma doutrina maior de ataques preventivos a inimigos, Powell respondeu: "Não, não, não". Ele disse que o Iraque estava sendo atacado por ter violado "suas obrigações internacionais".
Numa entrevista na última sexta-feira, Powell afirmou que a publicidade em cima da doutrina ignorou o fato de que a prevenção era só uma estratégia de muitas.
A doutrina da prevenção, especialmente com respeito ao Iraque, tem circulado pelos meios conservadores pelo menos desde a administração de Bush pai.
Em 1991, assistentes do então secretário da Defesa, Dick Cheney, fizeram um documento chamado Diretrizes de Planejamento de Defesa, que dizia que os EUA deveriam estar preparados para usar a força a fim de prever a disseminação de armas nucleares.
O documento sugere também que os EUA deveriam "se portar de modo a agir independentemente quando a ação coletiva não puder ser orquestrada".
Mas quando um esboço do documento vazou, no calor da campanha de reeleição de Bush, causou tanto constrangimento à administração que foi engavetado.


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