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São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

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PRISIONEIROS

Maltratar soldados é crime, diz ele; Rumsfeld pede que TVs americanas omitam imagens

Bush exige "humanidade" do Iraque

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, George W. Bush, disse ontem esperar que os soldados americanos capturados pelo Iraque sejam tratados com "humanidade, da mesma maneira que nós trataremos nossos prisioneiros".
Em seguida, ameaçou: "Caso contrário, os que maltratarem nossos homens, serão tratados como criminosos de guerra".
Demonstrando irritação, Bush deu entrevista em Washington pouco depois de a TV Al Jazeera mostrar imagens de prisioneiros americanos sendo interrogados por iraquianos e de corpos de soldados em uniforme dos EUA.
"É um contraste interessante, pois muitos dos soldados iraquianos dão boas-vindas a nossas tropas ao se renderem. Eles estão sendo bem tratados", afirmou.
O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, recomendou às TVs americanas que não mostrassem as imagens. Em entrevista às redes NBC e CNN, Rumsfeld afirmou que a exibição do material, no qual cinco prisioneiros aparecem sendo interrogados, seria uma "violação às Convenções de Genebra". "É ilegal apresentar prisioneiros em uma situação humilhante", disse Rumsfeld.
Questionado se estava "solicitando" às emissoras para que não apresentassem as imagens, Rumsfeld disse: "O que estou dizendo é que se trata de violação às Convenções de Genebra -e é isso o que está acontecendo".
Em seguida, a CNN informou que as imagens, "chocantes e perturbadoras", não seriam exibidas. Fora dos Estados Unidos, porém, a CNN internacional mostrou as imagens.
Nos EUA, até o fechamento desta edição, apenas uma rápida imagem de um dos prisioneiros foi mostrada tanto pela NBC quanto pela CNN americana.
A única imagem (congelada) da Al Jazeera que foi ar nos EUA mostrou troncos e membros de soldados em uniforme militar americano caídos em uma sala.
As descrições das redes, que não mostraram rostos, diziam que alguns prisioneiros haviam sido mortos com tiros na cabeça.
Ontem, a CNN e a NBC foram alvos de protestos em seus escritórios em Los Angeles. Manifestantes acusam as emissoras e jornais americanos de não estarem dando espaço em seu noticiário às várias reações contrárias à guerra em todo o pais.
Proporcionalmente ao volume de notícias relacionadas ao conflito, o espaço dado aos manifestantes é, efetivamente, mínimo.
As TVs, com dezenas de enviados especiais junto às tropas, têm mantido um tom patriótico e sentimental. Ao se identificarem, os jornalistas que acompanham os soldados informam sempre a situação dos batalhões em que estão com o objetivo, segundo os apresentadores dos noticiários, de mostrar "às pessoas e familiares amados" que tudo vai bem.
O mesmo se repete nos jornais. Ontem, por exemplo, o mais influente diário da capital americana, "The Washington Post", publicou em sua primeira página apenas uma pequena foto de manifestantes e somente duas linhas informando que um soldado americano era suspeito de ter lançado granadas contra oficiais de seu batalhão no Kuait.
Além do presidente Bush, várias autoridades norte-americanas reforçaram enfaticamente ontem as dificuldades que suas tropas têm pela frente no Iraque.
A estratégia, que se repetia há dois dias, ganhou força depois da notícia da captura dos americanos na cidade de Nasiriyah.
"Estamos apenas no início das várias fases dessa guerra. Avançamos lentamente, mas com segurança", disse Bush depois de voltar de Camp David, a casa de campo da Presidência onde passou o final de semana.
Antes dos ataques pesados a Bagdá e das notícias das primeiras baixas americanas, Bush tinha o apoio de dois terços dos americanos e conseguiu do Congresso e do Partido Democrata uma moção de apoio à guerra.
Diante das más notícias que começam a surgir, a estratégia da Casa Branca foi reforçada.
"A guerra será muito dura. Estão errados os que acham que será rápida e fácil", disse o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Richard Myers. Na mesma linha, Rumsfeld disse que "ninguém deveria estar surpreso" com o fato de a guerra gerar baixas entre os americanos. De fato, mesmo que por alguns segundos, os EUA viram ontem pela primeira vez nesta guerra uma imagem na TV de alguns de seus soldados mortos.


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