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PRISIONEIROS
Maltratar soldados é crime, diz ele; Rumsfeld pede que TVs americanas omitam imagens
Bush exige "humanidade" do Iraque
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O presidente dos EUA, George
W. Bush, disse ontem esperar que
os soldados americanos capturados pelo Iraque sejam tratados
com "humanidade, da mesma
maneira que nós trataremos nossos prisioneiros".
Em seguida, ameaçou: "Caso
contrário, os que maltratarem
nossos homens, serão tratados
como criminosos de guerra".
Demonstrando irritação, Bush
deu entrevista em Washington
pouco depois de a TV Al Jazeera
mostrar imagens de prisioneiros
americanos sendo interrogados
por iraquianos e de corpos de soldados em uniforme dos EUA.
"É um contraste interessante,
pois muitos dos soldados iraquianos dão boas-vindas a nossas tropas ao se renderem. Eles estão
sendo bem tratados", afirmou.
O secretário da Defesa dos EUA,
Donald Rumsfeld, recomendou
às TVs americanas que não mostrassem as imagens. Em entrevista às redes NBC e CNN, Rumsfeld
afirmou que a exibição do material, no qual cinco prisioneiros
aparecem sendo interrogados, seria uma "violação às Convenções
de Genebra". "É ilegal apresentar
prisioneiros em uma situação humilhante", disse Rumsfeld.
Questionado se estava "solicitando" às emissoras para que não
apresentassem as imagens,
Rumsfeld disse: "O que estou dizendo é que se trata de violação às
Convenções de Genebra -e é isso o que está acontecendo".
Em seguida, a CNN informou
que as imagens, "chocantes e perturbadoras", não seriam exibidas.
Fora dos Estados Unidos, porém,
a CNN internacional mostrou as
imagens.
Nos EUA, até o fechamento desta edição, apenas uma rápida
imagem de um dos prisioneiros
foi mostrada tanto pela NBC
quanto pela CNN americana.
A única imagem (congelada) da
Al Jazeera que foi ar nos EUA
mostrou troncos e membros de
soldados em uniforme militar
americano caídos em uma sala.
As descrições das redes, que não
mostraram rostos, diziam que alguns prisioneiros haviam sido
mortos com tiros na cabeça.
Ontem, a CNN e a NBC foram
alvos de protestos em seus escritórios em Los Angeles. Manifestantes acusam as emissoras e jornais americanos de não estarem
dando espaço em seu noticiário às
várias reações contrárias à guerra
em todo o pais.
Proporcionalmente ao volume
de notícias relacionadas ao conflito, o espaço dado aos manifestantes é, efetivamente, mínimo.
As TVs, com dezenas de enviados especiais junto às tropas, têm
mantido um tom patriótico e sentimental. Ao se identificarem, os
jornalistas que acompanham os
soldados informam sempre a situação dos batalhões em que estão com o objetivo, segundo os
apresentadores dos noticiários,
de mostrar "às pessoas e familiares amados" que tudo vai bem.
O mesmo se repete nos jornais.
Ontem, por exemplo, o mais influente diário da capital americana, "The Washington Post", publicou em sua primeira página
apenas uma pequena foto de manifestantes e somente duas linhas
informando que um soldado
americano era suspeito de ter lançado granadas contra oficiais de
seu batalhão no Kuait.
Além do presidente Bush, várias
autoridades norte-americanas reforçaram enfaticamente ontem as
dificuldades que suas tropas têm
pela frente no Iraque.
A estratégia, que se repetia há
dois dias, ganhou força depois da
notícia da captura dos americanos na cidade de Nasiriyah.
"Estamos apenas no início das
várias fases dessa guerra. Avançamos lentamente, mas com segurança", disse Bush depois de voltar de Camp David, a casa de campo da Presidência onde passou o
final de semana.
Antes dos ataques pesados a
Bagdá e das notícias das primeiras
baixas americanas, Bush tinha o
apoio de dois terços dos americanos e conseguiu do Congresso e
do Partido Democrata uma moção de apoio à guerra.
Diante das más notícias que começam a surgir, a estratégia da
Casa Branca foi reforçada.
"A guerra será muito dura. Estão errados os que acham que será
rápida e fácil", disse o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas,
Richard Myers. Na mesma linha,
Rumsfeld disse que "ninguém deveria estar surpreso" com o fato
de a guerra gerar baixas entre os
americanos. De fato, mesmo que
por alguns segundos, os EUA viram ontem pela primeira vez nesta guerra uma imagem na TV de alguns de seus soldados mortos.
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