São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Rantisi pede "ataque em qualquer momento e lugar'; Israel diz que atacará todas as lideranças terroristas

Novo líder do Hamas pede onda de ataques

Pedro Ugarte/France Presse
O linha-dura Abdel Aziz Rantisi, escolhido como o líder do Hamas em Gaza, saúda simpatizantes da organização terrorista em Gaza


DA REDAÇÃO

O Hamas designou ontem os substitutos do xeque Ahmed Yassin, líder espiritual do grupo terrorista islâmico palestino morto em ataque israelense anteontem. O anúncio foi feito no mesmo dia em que Israel ameaçou atacar toda a liderança terrorista palestina.
No sul do Líbano, Israel disparou contra grupos palestinos baseados na área que, segundo o Exército, se preparavam para lançar mísseis contra o norte israelense. Dois palestinos morreram, evidenciando a tensão regional causada pela morte de Yassin.
Na faixa de Gaza, tanques e buldôzeres israelenses entraram no campo de refugiados de Khan Yunis. Segundo fontes de Israel, foi uma ação limitada. Testemunhas palestinas disseram que houve troca de tiros e que dois prédios foram derrubados. Não havia informação sobre vítimas.
Abdel Aziz Rantisi será o novo líder em Gaza, principal bastião do grupo. Khaled Meshaal, baseado na Síria, segue como o chefe das ações políticas do grupo -cargo mais importante na tomada de decisões. Segundo fontes do Hamas, ele assumirá a liderança suprema da organização.
A escolha de Rantisi, conhecido por ser um linha-dura dentro do movimento extremista, foi anunciada por alto-falantes em Gaza. Em suas primeiras declarações, deixou claro seus objetivos: "Meu povo, precisamos nos unir sob o guarda-chuva da resistência... Ataquem em qualquer momento e com todos os meios possíveis".
O gabinete de segurança do premiê Ariel Sharon anunciou que todos os líderes do Hamas serão alvo de operações de "assassinatos seletivos" israelenses.
O ministro da Segurança Interna, Tzahi Hanegbi, advertiu que "todos que estejam envolvidos com o terrorismo em Gaza ou na Cisjordânia sabem que não estão imunes depois do assassinato de ontem [anteontem]".
O chefe das Forças Armadas de Israel, general Moshe Yaalon, não descarta até mesmo ações para matar o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, e o líder do grupo extremista islâmico libanês Hizbollah, xeque Hassan Nasrallah.
"Creio que as respostas que eles [Arafat e Nasrallah] deram ao ataque contra Yassin demonstram que perceberam que estamos na cola deles", disse o militar.
No Conselho de Segurança da ONU, não houve acordo para aprovar uma moção condenando Israel. Os EUA exigiram que o grupo terrorista também fosse condenado pelos atentados em Israel. Mas a Argélia discordou.
No que o Hamas chamou de "a última carta de Yassin", divulgada ontem, ele prega uma união dos "povos árabes" contra a ocupação americana do Iraque e defende as ações palestinas contra Israel. "[O território palestino] foi ocupado pela força das armas dos sionistas e somente serão devolvidas com o uso da força das nossas armas", escreveu. O Hamas defende a destruição de Israel e o estabelecimento de um Estado islâmico.
Após a morte de Yassin, o Hamas pela primeira vez ameaçou atacar alvos americanos. Anteriormente, o grupo afirmava que suas ações visavam apenas Israel.
O presidente dos EUA, George W. Bush, disse que leva a sério as ameaças do Hamas e repetiu o que haviam dito autoridades americanas anteontem: "Israel tem o direito de se defender. E quando o faz, deve ter em mente as conseqüências sobre o processo de paz". Ele disse que enviará uma equipe para o Oriente Médio na próxima semana para tentar reativar o processo de paz. As últimas missões enviadas à região fracassaram.
Em pesquisa do instituto Dahaf publicada ontem no diário "Yediot Ahronot", 60% dos israelenses disseram apoiar a ação do Exército que matou o xeque Yassin. Outros 32% afirmaram ser contra. Porém a maioria (81%) acredita que o ataque deflagre mais atentados em Israel.
Já o jornal "The New York Times" afirmou que o governo israelense teria optado pela ação contra Yassin levando em conta que o grupo já não possui a mesma capacidade de levar adiante uma onda de atentados em represália.

Com agências internacionais


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