São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Em depoimento no Congresso, Powell, Rumsfeld e Wolfowitz negam falhas antes do 11 de Setembro

Governo Bush defende sua ação antiterror

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Autoridades do governo George W. Bush fizeram ontem uma veemente defesa da ação americana de combate ao terrorismo, para tentar neutralizar uma onda de críticas contra o principal tema da campanha eleitoral do presidente.
Na esteira do lançamento de um novo livro que acusa Bush de negligenciar e minimizar a atuação da Al Qaeda, os secretários Colin Powell (Estado) e Donald Rumsfeld (Defesa) prestaram depoimento em uma comissão mista no Congresso que investiga as ações antiterror dos EUA.
Powell afirmou que Bush estava determinado a eliminar a Al Qaeda desde o início de seu governo, mas que a estratégia para tanto só terminou de ser delineada às vésperas dos atentados de 11 de setembro de 2001.
""Na época, muitos de nós ainda pensávamos que os riscos estavam fora dos EUA. Qualquer coisa que tivéssemos feito contra Osama bin Laden [líder da Al Qaeda] nesse período talvez não tivesse afetado os terroristas que já estavam no nosso país e que já tinham as instruções para cometer os ataques", disse Powell.
Em seu depoimento, Rumsfeld disse que os EUA pensaram ""várias vezes em usar aeronaves não tripuladas para tentar bombardear locais onde Bin Laden poderia estar". Planos semelhantes foram traçados no governo de Bill Clinton (1993-2001), segundo depoimento de sua secretária de Estado, Madeleine Albright.
""Fizemos tudo o que podíamos com base nas informações que tínhamos para proteger os EUA e destruir a Al Qaeda", disse Albright. Quatro tentativas de bombardear bases da Al Qaeda no Afeganistão teriam sido abortadas pelo temor de atingir civis.

Novas denúncias
No livro ""Against All Enemies" (contra todos os inimigos), Richard Clarke, ex-assessor antiterrorismo da Casa Branca, afirma que Bush ""fez um péssimo trabalho no combate ao terror" e que o presidente esteve ""obcecado o tempo todo" em vincular o ex-ditador Saddam Hussein aos ataques realizados pela Al Qaeda.
O livro ataca o tema central do discurso para a reeleição de Bush, que afirma ser ""um presidente da guerra" e que é considerado pela maioria dos americanos como mais confiável do que seu adversário democrata, John Kerry, em relação à segunda interna.
Clarke afirma que tanto Bush quanto Rumsfeld e seu vice-secretário, Paul Wolfowitz, procuraram desde o início vincular Saddam aos atentados.
Segundo o livro, no dia 12 de setembro de 2001, um dia após os atentados contra os EUA, Bush disse a Clarke: ""Olhe aqui, quero que você reveja, o mais rapidamente possível, todas as informações para saber se Saddam está por trás disso [dos atentados]. Veja se ele tem alguma ligação".
""Mas, sr. presidente, a Al Qaeda é a responsável", respondeu Clarke, ao que Bush disse, segundo o relato: ""Eu sei, eu sei, mas veja se Saddam está envolvido. Olhe fundo. Quero todos os detalhes. Olhe para o Iraque, para Saddam".
Em outro trecho do livro, Clarke afirma: ""Então eu entendi que Rumsfeld e Wolfowitz iram tirar vantagem dessa tragédia nacional para levar adiante a sua agenda em relação ao Iraque".
Em depoimento à mesma comissão no Congresso, Wolfowitz desqualificou as declarações de Clarke e afirmou que ""nunca"" tirou a Al Qaeda ""do foco principal" depois do 11 de Setembro.
Clarke deverá prestar depoimento hoje à mesma comissão do Congresso que ouviu os ex-funcionários de Clinton e os secretários de Bush ontem.
Em meio à polêmica, o presidente Bush voltou a reafirmar ontem sua política de combate ao terror e disse que seu governo ""teria agido imediatamente se tivesse informações disponíveis sobre o perigo dos ataques a Nova York em setembro de 2001".


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