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São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2003

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ELEIÇÕES NA ARGENTINA

Disputa neste domingo deve ser decidida pelo "voto volátil", que representa mais de 20% dos eleitores

Argentino muda de voto todo dia e aumenta indefinição

David Guttenfelder/Associated Press
Ciclista passa por cartaz de campanha do ex-presidente argentino Carlos Menem em Buenos Aires


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Ao que tudo indica, a eleição argentina de domingo não será decidida nem pelo chamado "voto bronca" (de protesto) nem pelo voto dos que ainda estão indecisos, mas pelo que o jornal "Página 12" batizou de "voto volátil".
Tradução: um número importante de eleitores muda de voto constantemente, até mais de uma vez e em cima da hora.
Consequência: não há pesquisador que se anime a dizer quem disputará, em maio, um segundo turno dado como virtualmente certo por todos (só não haveria se algum candidato tivesse 45% dos votos ou entre 40% e 45% mas com ao menos dez pontos de vantagem sobre o segundo).
Duas pesquisas reforçam a impressão de que o voto volátil tende a ser decisivo: o pesquisador Enrique Zuleta Puceiro disse ao "Página 12" que só 53% dos eleitores por ele consultados asseguraram que votarão no nome que escolheram no dia da pesquisa.
São 23,7% os que admitem mudar o voto ou dizem ser mesmo muito provável que o façam.
Já o jornal "La Nación", em sua página na internet, fez uma enquete com o mesmo espírito. Até o início da noite de ontem, 62% dos pesquisados afirmavam que não mudarão o voto, mas 15% admitiam alterá-lo, além de outras porcentagens mais características de indecisão que de volatilidade.
Em qualquer circunstância, uma mudança de voto, a quatro dias da eleição, de parte de 23% ou de 15% dos eleitores já seria um número importante.
Numa situação em que a diferença entre os candidatos é mínima, em praticamente todas as pesquisas, torna-se de longe o dado mais relevante e gera quase a certeza de que nenhum dos cinco candidatos considerados com chances possa dormir, de sábado para domingo, com a certeza de que estará no segundo turno ou com a decepção de estar definitivamente afastado dele.
Afinal, os "candidatos estão roubando votos uns dos outros o tempo todo e, por isso, detectamos uma mudança constante de números", como disse ao jornal "Clarín" o pesquisador Santiago Lacace, da Mora y Araujo.
Reforça outro pesquisador, Ricardo Rouvier: "A novidade é que estão mudando o voto".
A volatilidade, de todo modo, não impede que a maioria dos pesquisadores aponte um crescimento de Ricardo López Murphy, ex-ministro da Defesa do fracassado governo Fernando de la Rúa e efêmero ministro da Economia na mesma gestão.
Como a maioria também aposta que o ex-presidente Carlos Saúl Menem manterá, pouco mais ou menos, os cerca de 20% com que aparece agora, há uma certa inclinação, entre os pesquisadores, a considerá-los como favoritos.
Se for de fato assim, ficará de fora do turno final Néstor Kirchner, exatamente o candidato do presidente Eduardo Duhalde.
Mas Rosendo Fraga, um dos mais respeitados analistas políticos do país, prefere dizer que sua única certeza é a de que Menem tem mais chances de estar no segundo turno.
Completa: "Embora quem competirá com ele continue sendo uma incerteza, López Murphy é o candidato que mais aumentou suas possibilidades".
Ante a incerteza e, mais que ela, a volatilidade, a reta final da campanha está sendo mais um exercício de não errar do que de acertar. Ainda mais que o repúdio aos políticos em geral continua sendo fortíssimo.
Ao jornal britânico "Financial Times", Carlos Souto, responsável pela campanha de TV de Menem, admitiu francamente: "Esta é uma eleição muito especial. Os eleitores estão totalmente desencantados, as idéias políticas perderam muito de sua importância e não há desejo algum de acreditar em qualquer promessa eleitoral que qualquer candidato faça".


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