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Royal e "Sarkô" escolhem armas do 2º turno
Candidata socialista aposta em debate, enquanto direitista, que teve mais votos na primeira fase, ameaça centristas
Franceses irão às urnas para turno final no próximo dia 6; no dia 2, presidenciáveis
vão se enfrentar no primeiro debate da atual campanha
Fred Dufour/Associated Press
![](../images/e2404200701.jpg) |
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Ségolène Royal encontra simpatizantes em Valence; socialista quer fazer de segundo turno plebiscito sobre oponente, Sarkozy
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Nicolas Sarkozy, primeiro
colocado no turno inicial da
eleição presidencial francesa,
saiu cedo de seu escritório eleitoral para reiniciar a campanha
com um comício em Dijon.
Cercado pelo habitual enxame
de microfones e câmeras, limitou-se a apontar para o céu fabulosamente azul da primavera
parisiense, como se dissesse
que está tudo também azul com
ele e com sua campanha.
Nenhum dos grandes jornais
franceses ou seus colunistas,
bem como nenhum dos acadêmicos independentes, discordou da simbólica avaliação do
ex-ministro do Interior, que vai
para o segundo turno com pouco mais de cinco pontos percentuais de vantagem sobre a
socialista Ségolène Royal
(31,11% contra 25,83%).
Mesmo Jean-Marie Colombani, redator-chefe de "Le
Monde", historicamente próximo dos socialistas, admitiu ontem, como já o havia feito antes
da votação, que "a correlação de
forças é favorável à direita".
Em tese, é mesmo. Sarkozy
deve ficar com os votos da
Frente Nacional, o partido de
extrema direita cujo líder,
Jean-Marie Le Pen, naufragou
no domingo com 10,51% dos
votos. Royal contrabalança esse acréscimo ao levar, em princípio, o pacote de votos dos partidos à sua esquerda, também
na faixa dos 10% e quebrados.
Centristas
O problema é que os votos do
terceiro colocado, o centrista
François Bayrou (18,55%), são
muito mais da família da direita
do que dos socialistas. As pesquisas ontem divulgadas são
contraditórias: para o instituto
Ifop, 54% dos eleitores de Bayrou votarão em Sarkozy e 46%
preferirão Royal, no segundo
turno, dia 6; já o CSA dá 45%
para Royal e 39% para Sarkozy,
e diz que 16% se absterão.
O que pode inclinar a balança
para Sarkozy é o que o matutino conservador "Le Figaro"
chama de "arma atômica" em
mãos do candidato da direita: a
idéia seria a de ameaçar a UDF
(União pela Democracia Francesa, de Bayrou) de lançar candidatos da UMP (União por um
Movimento Popular, o partido
"sakorzysta") nas circunscrições em que os primeiros hoje
correm soltos no campo de
centro-direita (a eleição parlamentar será em junho e a França adota o modelo distrital).
Mesmo que Bayrou se mantenha neutro, os parlamentares
(e prefeitos) centristas, sentindo-se ameaçados nos seus próprios feudos, podem resolver
pedir votos para Sarkozy.
Já a candidata socialista
aposta em duas estratégias. A
primeira é ganhar o debate entre os dois finalistas, em 2 de
maio (não houve debate no primeiro turno). É apostar no incerto. Os dois são personalidades midiáticas. Mas, nos discursos na noite de domingo,
Sarkozy mostrou-se mais solto
e seguro que sua adversária.
A segunda já foi desenhada
na prática no primeiro turno e
tomou a forma do que a mídia
local chama de "TSS" ("tout
sauf Sarkozy", "qualquer um
exceto Sarkozy"). Ou seja,
transformar o segundo turno
em um plebiscito sobre o ex-ministro do Interior, figura polêmica no próprio partido, tanto que teve apoio apenas formal
do presidente Jacques Chirac.
Dominique Strauss-Kahn,
ex-ministro socialista da Economia e um dos candidatos que
Royal derrotou nas primárias
do PS, prefere falar em "união
muito ampla com aqueles que
estavam mais à esquerda que
Ségolène Royal mas também
com aqueles que estavam mais
à direita". Batiza essa coalizão
de "casa da renovação".
Ao falar em "renovação",
Strauss-Kahn segue a toada da
campanha, que foi toda ela feita
como se a França estivesse em
cacos. A própria Royal também
falou em "reformar a França,
sem brutalizá-la", de forma a
"fazer triunfar sempre os valores humanos sobre os valores
da Bolsa, que ponha fim às inseguranças e às precariedades,
que faça retroceder todas as
formas de violência graças a
uma ordem justa".
Sarkozy não ficou atrás, no
discurso de domingo, após os
resultados: "Quero protegê-los
da violência, da delinqüência e
também da concorrência desleal, das "deslocalizações"
[transferência de empresas para países de mão-de-obra barata], da degradação de suas condições de trabalho, da exclusão". Ambos usam a retórica
clássica de candidatos em campanha. Ou, como aponta Colombani no editorial do "Monde": "Os dois candidatos querem casar dinamismo e solidariedade, econômico e social".
Todos querem, aliás, no
mundo, mas só um deles vai
convencer os franceses de que é
capaz de fazê-lo.
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