São Paulo, terça-feira, 24 de abril de 2007

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Royal e "Sarkô" escolhem armas do 2º turno

Candidata socialista aposta em debate, enquanto direitista, que teve mais votos na primeira fase, ameaça centristas

Franceses irão às urnas para turno final no próximo dia 6; no dia 2, presidenciáveis vão se enfrentar no primeiro debate da atual campanha

Fred Dufour/Associated Press
Ségolène Royal encontra simpatizantes em Valence; socialista quer fazer de segundo turno plebiscito sobre oponente, Sarkozy

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Nicolas Sarkozy, primeiro colocado no turno inicial da eleição presidencial francesa, saiu cedo de seu escritório eleitoral para reiniciar a campanha com um comício em Dijon. Cercado pelo habitual enxame de microfones e câmeras, limitou-se a apontar para o céu fabulosamente azul da primavera parisiense, como se dissesse que está tudo também azul com ele e com sua campanha.
Nenhum dos grandes jornais franceses ou seus colunistas, bem como nenhum dos acadêmicos independentes, discordou da simbólica avaliação do ex-ministro do Interior, que vai para o segundo turno com pouco mais de cinco pontos percentuais de vantagem sobre a socialista Ségolène Royal (31,11% contra 25,83%).
Mesmo Jean-Marie Colombani, redator-chefe de "Le Monde", historicamente próximo dos socialistas, admitiu ontem, como já o havia feito antes da votação, que "a correlação de forças é favorável à direita".
Em tese, é mesmo. Sarkozy deve ficar com os votos da Frente Nacional, o partido de extrema direita cujo líder, Jean-Marie Le Pen, naufragou no domingo com 10,51% dos votos. Royal contrabalança esse acréscimo ao levar, em princípio, o pacote de votos dos partidos à sua esquerda, também na faixa dos 10% e quebrados.

Centristas
O problema é que os votos do terceiro colocado, o centrista François Bayrou (18,55%), são muito mais da família da direita do que dos socialistas. As pesquisas ontem divulgadas são contraditórias: para o instituto Ifop, 54% dos eleitores de Bayrou votarão em Sarkozy e 46% preferirão Royal, no segundo turno, dia 6; já o CSA dá 45% para Royal e 39% para Sarkozy, e diz que 16% se absterão.
O que pode inclinar a balança para Sarkozy é o que o matutino conservador "Le Figaro" chama de "arma atômica" em mãos do candidato da direita: a idéia seria a de ameaçar a UDF (União pela Democracia Francesa, de Bayrou) de lançar candidatos da UMP (União por um Movimento Popular, o partido "sakorzysta") nas circunscrições em que os primeiros hoje correm soltos no campo de centro-direita (a eleição parlamentar será em junho e a França adota o modelo distrital).
Mesmo que Bayrou se mantenha neutro, os parlamentares (e prefeitos) centristas, sentindo-se ameaçados nos seus próprios feudos, podem resolver pedir votos para Sarkozy.
Já a candidata socialista aposta em duas estratégias. A primeira é ganhar o debate entre os dois finalistas, em 2 de maio (não houve debate no primeiro turno). É apostar no incerto. Os dois são personalidades midiáticas. Mas, nos discursos na noite de domingo, Sarkozy mostrou-se mais solto e seguro que sua adversária.
A segunda já foi desenhada na prática no primeiro turno e tomou a forma do que a mídia local chama de "TSS" ("tout sauf Sarkozy", "qualquer um exceto Sarkozy"). Ou seja, transformar o segundo turno em um plebiscito sobre o ex-ministro do Interior, figura polêmica no próprio partido, tanto que teve apoio apenas formal do presidente Jacques Chirac.
Dominique Strauss-Kahn, ex-ministro socialista da Economia e um dos candidatos que Royal derrotou nas primárias do PS, prefere falar em "união muito ampla com aqueles que estavam mais à esquerda que Ségolène Royal mas também com aqueles que estavam mais à direita". Batiza essa coalizão de "casa da renovação".
Ao falar em "renovação", Strauss-Kahn segue a toada da campanha, que foi toda ela feita como se a França estivesse em cacos. A própria Royal também falou em "reformar a França, sem brutalizá-la", de forma a "fazer triunfar sempre os valores humanos sobre os valores da Bolsa, que ponha fim às inseguranças e às precariedades, que faça retroceder todas as formas de violência graças a uma ordem justa".
Sarkozy não ficou atrás, no discurso de domingo, após os resultados: "Quero protegê-los da violência, da delinqüência e também da concorrência desleal, das "deslocalizações" [transferência de empresas para países de mão-de-obra barata], da degradação de suas condições de trabalho, da exclusão". Ambos usam a retórica clássica de candidatos em campanha. Ou, como aponta Colombani no editorial do "Monde": "Os dois candidatos querem casar dinamismo e solidariedade, econômico e social".
Todos querem, aliás, no mundo, mas só um deles vai convencer os franceses de que é capaz de fazê-lo.


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