São Paulo, terça-feira, 24 de abril de 2007

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Ex-PC italiano aprova fusão com partido cristão

União de conveniência foi aprovada sem entusiasmo

JEAN-JACQUES BOZONNET
DO "MONDE", EM ROMA

Os dois principais partidos da esquerda moderada italiana, os Democratas de Esquerda (DS), sucessores do antigo Partido Comunista Italiano, e o Margarida - Democracia e Liberdade (DL), ala esquerda do antigo Partido Democrata Cristão, decidiram em seus congressos, realizados no fim de semana, dissolver-se e formar, daqui a alguns meses, uma nova agremiação de centro-esquerda, o Partido Democrata. Para o chefe do governo italiano, Romano Prodi, "trata-se da concretização de um sonho iniciado 12 anos atrás", como ele confidenciou em carta aberta ao jornal "La Repubblica".
Líder de uma frágil coalizão de centro-esquerda, com nove partidos, Prodi foi o principal promotor da fusão, cuja idéia era dotar a esquerda de "uma visão política e ética nova". Na opinião de numerosos comentaristas, trata-se de uma "fusão a frio", aprovada pelos integrantes de ambos os partidos por maiorias maciças, mas sem muito entusiasmo. O futuro Partido Democrata tem a ambição de conquistar o apoio de mais de um terço do eleitorado e de se tornar a principal força política do país. Os dois partidos que o integrarão obtiveram, somados, 28% dos votos nas eleições legislativas de abril de 2004, contra 24% do partido Força Itália, liderado pelo antigo premiê Silvio Berlusconi.
Mas a linha política da nova formação, ainda mal definida, terá por tarefa "digerir" duas correntes tão diferentes quanto os herdeiros da velha Democracia Cristã (Margarida) e os pós-comunistas dos DS. No Parlamento Europeu, o primeiro grupo constitui um dos pólos do grupo parlamentar Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa. Já os democratas de esquerda fazem parte do Partido Socialista Europeu.
"Não estamos criando um partido moderado, mas uma organização de esquerda e reformista", afirmou Piero Fassino, secretário nacional dos Democratas de Esquerda, diante dos 1.500 delegados reunidos em Florença. Mas ele não conseguiu manter o apoio da ala mais esquerdista do partido, liderada por Fabio Mussi, ministro do Ensino Superior, que representa cerca de 15% dos militantes. A virada à direita e a questão da supermacia laica na política são as principais críticas dos dissidentes à fusão.
De sua parte, o congresso do Margarida, que reuniu 1.700 delegados em Roma, não registrou cisões. O presidente da agremiação, Francesco Rutelli, vice-presidente do Conselho de Ministros italiano, elogiou a perspectiva de um partido que "tornará mais forte a ação do governo" e ajudará a esquerda a "superar as dúvidas e incertezas" de uma maioria heterogênea. A questão da liderança não foi abordada nos dois congressos, mas deve ocupar posição central nas discussões que vão ocorrer de agora até 14 de outubro, a data marcada para a assembléia que constituirá o Partido Democrata. A agremiação deve estrear oficialmente na política na primavera de 2008.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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