São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2004

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COMENTÁRIO

Escola americana

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Já que se trata do que, há muito tempo, se convencionou chamar de "guerra suja", nenhuma novidade. Não só tortura. Também assassinatos e golpes de Estado.
No documentário "Sob a Névoa da Guerra", o ex-secretário da Defesa dos EUA Robert McNamara admite que os americanos tiveram "algo a ver" com a derrubada e a morte do presidente Dinh Diem, do Vietnã do Sul.
Pacifista que faz o presidente num seriado de TV, o ator Martin Sheen participou de muitos protestos, no Estado da Geórgia, diante da antiga Escola das Américas, atual Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança, onde são desenvolvidas técnicas de contra-insurgência. Quando estava estabelecida no Panamá (de 1946 a 1984), ficou conhecida pelos latino-americanos como "escola de ditadores". Pinochet foi um de seus milhares de graduados.
O Conselho Nacional de Igrejas, dos EUA, pediu o seu fechamento. Falou-se em repetição de "erros passados", como a vigência de manuais da Guerra Fria nos quais a tortura é tida como "veneno que acaba com o terrorismo". Transição do anticomunismo para o antiterrorismo nos códigos das "guerras sujas".
A CIA entrou em campo em 1946 em substituição ao OSS, sigla da central de informações dos EUA durante a Segunda Guerra. Estreou na América Latina com o golpe contra o governo constitucional da Guatemala, em 1954, cujas trágicas seqüelas os guatemaltecos sofrem até hoje.
Gabriel Kolko, em alentado estudo, comprova que os EUA usaram seu arsenal de anti-sovietismos para minar ou destruir movimentos nacionais no Terceiro Mundo. Elliot Abrams, figura central do escândalo Irã-contras, que quase derrubou Reagan, hoje cuida do Oriente Médio no Conselho de Segurança Nacional dos EUA. Foi perdoado por Bush pai e reabilitado por Bush filho.
Num esforço de redenção, quando nos anos 70 o comitê "Church and Pike" investigava no Congresso "guerra sujas" e "operações encobertas" da CIA, um ex-diretor da agência, chamado William Colby, preparou amplo dossiê com 693 páginas de confissões, inclusive de assassinatos. Caso do ex-comandante do Exército chileno, René Schneider, condenado à morte por ser legalista e defender a posse de Allende.
Em 1953, agentes da CIA "disfarçados de comunistas" (deu no "New York Times") colocaram bombas em casas de personalidades islâmicas, e o regime nacionalista iraniano de Mossadegh acabou caindo. Estava aberta a temporada.


Newton Carlos é jornalista e analista de questões internacionais


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