São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2007

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Papa faz mea-culpa sobre índios da América Latina

Bento 16 diz que "injustiças infligidas" aos povos indígenas não podem ser ignoradas

No Brasil, o pontífice havia afirmado que "o anúncio de Jesus e de seu Evangelho" aos índios não foi "imposição de uma cultura estrangeira"

DA REPORTAGEM LOCAL

Bento 16 dirigiu ontem um mea-culpa indireto aos índios da América Latina. O papa fez um balanço de sua viagem ao Brasil e afirmou que não se pode ignorar as "injustiças infligidas" aos primeiros moradores do continente durante o processo de colonização.
"A lembrança de um passado glorioso não pode ignorar as sombras que acompanharam a obra de evangelização do continente latino-americano", disse o líder católico diante de 50 mil pessoas no Vaticano. "Não é possível, de fato, esquecer o sofrimento e as injustiças infligidas pelos colonizadores às populações indígenas, freqüentemente esmagando seus direitos humanos fundamentais."
No dia 13 de maio, o papa pregou aos bispos do continente, na abertura da 5ª Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, que "o anúncio de Jesus e de seu Evangelho" aos povos indígenas da América "não supôs, em nenhum momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura estrangeira".
Também afirmou que os povos indígenas ansiavam por Cristo, mesmo sem conhecê-lo, e que "a utopia de voltar a dar vida às religiões pré-colombianas, as separando de Cristo e da Igreja universal, não seria um progresso, mas um retrocesso".
As declarações foram criticadas por lideranças indígenas e políticas. "É arrogante e desrespeitoso considerar nossa herança cultural inferior", disse Jecinaldo Sateré-Mawé, coordenador-geral da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira). Por meio de sua assessoria de imprensa, o presidente da Funai, Márcio Meira, afirmou que a catequização dos indígenas brasileiros foi um processo de imposição, "muitas vezes pelo uso da força".
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusou o pontífice de ignorar o "holocausto" que se seguiu ao desembarque de Cristóvão Colombo, em 1942. "Com todo respeito a Vossa Santidade, peça desculpas, porque houve um verdadeiro genocídio aqui", disse.
Apesar das declarações, o papa não fez um pedido de desculpas formal aos índios, como João Paulo 2º. Em 1992, o antecessor de Bento 16 rogou aos descendentes indígenas que perdoassem os crimes dos conquistadores espanhóis.


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