São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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ÁFRICA

Agências afirmam que chegada da estação das chuvas dentro de um mês colocará ajuda humanitária em colapso

ONGs alertam contra tragédia no Sudão

DA REDAÇÃO

Enquanto os Estados Unidos e a ONU debatem se a situação no Sudão pode ser qualificada como genocídio, ONGs que atuam no país africano estão lançando um alerta: falta apenas um mês para impedir que a crise humanitária na região de Darfur exploda com a multiplicação das mortes por fome e doenças.
A organização internacional Médicos sem Fronteiras, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1999, lançou um relatório em que aponta os graves problemas que atingem cerca de 1,2 milhão de refugiados e adverte que quando começar a estação das chuvas, em julho, ficará praticamente impossível levar assistência aos campos de refugiados.
Os Médicos pelos Direitos Humanos, grupo sediado em Boston (EUA), divulgaram ontem documento em que acusam o governo sudanês de "marcar vários milhões de habitantes não-árabes de Darfur para remoção da região, seja pela morte [por violência ou fome] ou pela migração forçada". Eles citam um relatório da Agência para o Desenvolvimento Internacional, do governo dos EUA, que diz que de 300 mil a 1 milhão de civis podem morrer.
O Grupo de Crises Internacionais, baseado em Bruxelas (Bélgica), afirma que Darfur pode "facilmente se tornar mortal" como o genocídio de Ruanda em 1994.
A crise em Darfur teve início no começo de 2003, quando dois grupos de rebeldes negros começaram a atacar alvos do governo. Segundo os rebeldes, o governo dá tratamento preferencial aos membros de tribos árabes.
Em resposta, o Exército sudanês passou a bombardear tribos. Os ataques aéreos eram seguidos pela ação de uma milícia árabe, Janjaweed. ONGs de defesa dos direitos humanos acusam o governo de armar e treinar essa milícia.
Milhares de pessoas foram mortas nessa repressão. Mais de 1 milhão de moradores abandonaram suas vilas, indo para campos de refugiados próximos à fronteira com o Chade. Calcula-se que outros 100 mil a 200 mil buscaram abrigo no país vizinho.
A Convenção da ONU sobre o Genocídio descreve o termo como "atos cometidos com a intenção de destruir, inteiramente ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso". O governo dos EUA está analisando se genocídio pode ser usado para descrever os acontecimentos no país. Até agora os EUA usaram apenas a expressão "limpeza étnica".
A Casa Branca estuda a possibilidade de impor sanções às autoridades sudanesas ligadas às ações que provocaram os deslocamentos em massa dos moradores de Darfur. Ontem, parlamentares negros americanos fizeram um pedido ao presidente George W. Bush para que o país intervenha militarmente no Sudão.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que nomeou um enviado à região na sexta, diz que não está pronto para dizer se Darfur é palco de "genocídio ou limpeza étnica por enquanto", preferindo qualificar a situação como "uma situação humanitária trágica".
O Sudão também tem no sul uma guerra civil que se prolonga por 21 anos. No entanto, acordos de paz recentes indicam que a disputa entre a minoria negra não-islâmica do sul com os árabes islâmicos do norte pode estar chegando ao fim.


Com agências internacionais


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