São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2010

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Diplomata argentino denuncia propina

Governo Kirchner cobrava comissão de empresas que vendiam à Venezuela, afirma ex-embaixador em Caracas

Eduardo Sadous reitera a deputados acusações que já fizera à Justiça; depoimento contribuiu para queda de chanceler


GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES

O ex-embaixador argentino em Caracas Eduardo Sadous reafirmou ontem, em depoimento na Câmara dos Deputados, que seu país manteve uma "diplomacia paralela" com a Venezuela na gestão do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007).
Há dois meses, em depoimento à Justiça, ele já havia dito que funcionários do Executivo se encontravam por conta própria e realizavam acordos com o primeiro escalão do governo de Hugo Chávez ao longo de 2004.
Segundo denúncias de empresários relatadas por Sadous, os "embaixadores paralelos" eram homens de confiança de Kirchner e articulavam esquema que cobrava propinas de entre 15% e 20% de exportadores argentinos que vendiam maquinário agrícola à Venezuela.
O caso foi denunciado à Justiça pela oposição, que acusa de associação ilícita Kirchner e o ministro do Planejamento, Julio De Vido, que assumiu a pasta em 2003 e permanece no gabinete da presidente Cristina Kirchner.
Ontem, Sadous atendeu ao convite de parlamentares oposicionistas e prestou esclarecimentos à Comissão de Relações Exteriores da Câmara, onde falou por quatro horas, em sessão fechada.
O deputado oposicionista Alfredo Atanasof, que preside a comissão, disse que Sadous ratificou o depoimento à Justiça e que foi possível "avançar em tudo o que gerava dúvidas".
O encontro do diplomata com os deputados estava marcado, em princípio, para a semana passada, mas foi adiado após uma forte pressão do governo, que tentou evitar que Sadous fosse ouvido pela oposição.

RENÚNCIA E MALA
A sessão na Câmara também influenciou na renúncia do ex-chanceler Jorge Taiana, que deixou o governo após discutir com Cristina na última sexta-feira.
A presidente repreendeu Taiana, entre outros motivos, por ter autorizado Sadous, seu subordinado, a se apresentar na comissão.
Deputados opositores sustentam que o esquema de propinas na exportação é só uma amostra das relações ilícitas entre os governos dos dois países. Para os congressistas, o depoimento de Sadous ajudará a esclarecer também o episódio chamado de "caso da mala".
Em agosto de 2007, o empresário venezuelano Antonini Wilson foi flagrado com US$ 800 mil não declarados em uma mala logo após desembarcar em Buenos Aires.
Ele vinha de Caracas num avião fretado por funcionários da Casa Rosada e da PDVSA, petroleira estatal da Venezuela. Opositores sustentam que o dinheiro seria destinado ao financiamento da campanha de Cristina, eleita dois meses depois.


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