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Diplomata argentino denuncia propina
Governo Kirchner cobrava comissão de empresas que vendiam à Venezuela, afirma ex-embaixador em Caracas
Eduardo Sadous reitera a deputados acusações que já fizera à Justiça; depoimento contribuiu para queda de chanceler
GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES
O ex-embaixador argentino em Caracas Eduardo Sadous reafirmou ontem, em
depoimento na Câmara dos
Deputados, que seu país
manteve uma "diplomacia
paralela" com a Venezuela
na gestão do ex-presidente
Néstor Kirchner (2003-2007).
Há dois meses, em depoimento à Justiça, ele já havia
dito que funcionários do Executivo se encontravam por
conta própria e realizavam
acordos com o primeiro escalão do governo de Hugo Chávez ao longo de 2004.
Segundo denúncias de
empresários relatadas por
Sadous, os "embaixadores
paralelos" eram homens de
confiança de Kirchner e articulavam esquema que cobrava propinas de entre 15% e
20% de exportadores argentinos que vendiam maquinário agrícola à Venezuela.
O caso foi denunciado à
Justiça pela oposição, que
acusa de associação ilícita
Kirchner e o ministro do Planejamento, Julio De Vido,
que assumiu a pasta em 2003
e permanece no gabinete da
presidente Cristina Kirchner.
Ontem, Sadous atendeu
ao convite de parlamentares
oposicionistas e prestou esclarecimentos à Comissão de
Relações Exteriores da Câmara, onde falou por quatro
horas, em sessão fechada.
O deputado oposicionista
Alfredo Atanasof, que preside a comissão, disse que Sadous ratificou o depoimento
à Justiça e que foi possível
"avançar em tudo o que gerava dúvidas".
O encontro do diplomata
com os deputados estava
marcado, em princípio, para
a semana passada, mas foi
adiado após uma forte pressão do governo, que tentou
evitar que Sadous fosse ouvido pela oposição.
RENÚNCIA E MALA
A sessão na Câmara também influenciou na renúncia
do ex-chanceler Jorge Taiana, que deixou o governo
após discutir com Cristina na
última sexta-feira.
A presidente repreendeu
Taiana, entre outros motivos,
por ter autorizado Sadous,
seu subordinado, a se apresentar na comissão.
Deputados opositores sustentam que o esquema de
propinas na exportação é só
uma amostra das relações ilícitas entre os governos dos
dois países. Para os congressistas, o depoimento de Sadous ajudará a esclarecer
também o episódio chamado
de "caso da mala".
Em agosto de 2007, o empresário venezuelano Antonini Wilson foi flagrado com
US$ 800 mil não declarados
em uma mala logo após desembarcar em Buenos Aires.
Ele vinha de Caracas num
avião fretado por funcionários da Casa Rosada e da
PDVSA, petroleira estatal da
Venezuela. Opositores sustentam que o dinheiro seria
destinado ao financiamento
da campanha de Cristina,
eleita dois meses depois.
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