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São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003

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ÁSIA

Lei anti-subversão será objeto de consulta popular

Blair diz que sistema político de Hong Kong permite divergências

Bobby Yip/Reuters
Morador de Hong Kong usa máscara de Blair em ato contra líder


MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O premiê britânico, Tony Blair, felicitou ontem a administração pró-Pequim de Hong Kong por ter retirado da pauta do Legislativo uma controversa lei anti-subversão após protestos populares, dizendo que isso mostra que o sistema político da ex-colônia britânica permite divergências.
O ministro do Interior interino da ilha, Timothy Tong, anunciou que o artigo 23 (a lei anti-subversão) da Lei Básica de Hong Kong será objeto de uma consulta popular. Os manifestantes contrários à lei queriam que a consulta não tivesse o artigo 23 como base.
Mesmo assim, segundo analistas ouvidos pela Folha, a medida mostra que a administração de Tung Chee-hwa levou em conta os protestos populares. Estes reuniram cerca de 500 mil pessoas, em 1º de julho, na ilha, que foi devolvida à China em 1997.
"Tung esteve em Pequim no último sábado. As autoridades chinesas devem ter dito que ele deveria conter o impulso dos manifestantes agora para evitar que a crise ganhasse uma dimensão maior. Por ora, os protestos não são contra Pequim, mas contra a falta de resultados, sobretudo econômicos, do governo local", apontou Peter Cheung, professor na Universidade de Hong Kong.
Blair quis mostrar otimismo com o sistema político de Hong Kong, mas, como durante sua visita a Pequim no início da semana, pareceu escolher suas palavras para não correr o risco de ofender as autoridades chinesas. O objetivo principal de sua ida a Pequim foi estreitar as relações comerciais entre a China e o Reino Unido.
"O que ocorreu aqui mostra que, apesar das dificuldades, há flexibilidade suficiente no sistema para permitir que as diferenças apareçam e sejam superadas", afirmou o premiê em Hong Kong, referindo-se à política chinesa de "um país, dois sistemas".
Para Sonny Lo, autor de "Governing Hong Kong: Legitimacy, Communication and Political Decay" (governando Hong Kong: legitimidade, comunicação e decadência política), a situação é mais complexa. "O artigo 23 é a ponta do iceberg, mas o descontentamento é crescente na ilha desde 1997. A situação econômica só fez deteriorar-se, e o surto de Sars [síndrome respiratória aguda grave] causou um aumento da sensação de fragilidade das pessoas."
De fato, o desemprego já atinge 8,3% da população ativa de Hong Kong, um recorde negativo. Já a epidemia de Sars assombrou sua população durante a maior parte do primeiro semestre de 2003.
De acordo com Lo, um certo choque cultural é esperado na ilha. "Muitos de seus habitantes ainda têm raízes locais fortes por conta da educação britânica que receberam, não se identificando com o poder central chinês. Isso durará enquanto houver o sistema de partido único na China ou até que a porcentagem da população de Hong Kong que é contrária à autoridade chinesa diminua."
Mesmo assim, a promessa de Blair de "cuidar dos interesses" da população de Hong Kong é, segundo os analistas, só retórica. "O Reino Unido deixou a cena política de Hong Kong em 1º de julho de 1997 e foi substituído pelos EUA, que têm uma política específica para a ilha", indicou Lo.


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