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São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003

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REINO UNIDO

Fita pode ser usada em inquérito sobre o caso

Site da BBC diz que empresa tem gravação de conversa com Kelly

DA REDAÇÃO

A rede BBC disse ontem possuir a gravação de uma conversa de um de seus jornalistas com o cientista David Kelly, na qual o especialista em armas britânico, encontrado morto na semana passada, manifestaria sua preocupação com o modo como o governo de Tony Blair construiu e apresentou seu dossiê sobre a ameaça militar iraquiana nos meses que antecederam a Guerra do Iraque.
A notícia sobre a suposta fita foi divulgada no próprio site da BBC, num artigo do jornalista de mídia Torin Douglas, mas não foi confirmada pela assessoria de imprensa da BBC.
Segundo o texto, a BBC consideraria a gravação um elemento "útil" para se defender na atual polêmica com o governo britânico e poderia apresentá-la como prova no inquérito público sobre o caso, que será realizado pelo juiz Brian Hutton.
A gravação teria sido feita pela jornalista científica Susan Watts, do programa de TV da BBC Newsnight, e não reproduziria a conversa de Kelly com o jornalista Andrew Gilligan, também da BBC, autor do polêmico artigo no qual o governo Blair foi acusado de ter exagerado -ou "tornado mais sexy"- a ameaça iraquiana, quando apresentou seu conjunto de justificativas para a Guerra do Iraque, em setembro de 2002.
Pelo que se sabe até o momento, o especialista em armas biológicas do governo britânico David Kelly era a fonte não identificada citada no artigo original de Gilligan.
Entretanto, após o governo ter negado categoricamente as acusações de manipulação e acusado a BBC de ter inventado a história, Kelly teria procurado membros da administração Blair para dizer que suas declarações não teriam sido reproduzidas com exatidão.
Pouco depois, seu nome foi tornado público como fonte principal da reportagem. Diante da intensa pressão que se seguiu, inclusive com uma convocação para depor no Parlamento britânico, ele acabou aparecendo morto, provavelmente em consequência de suicídio.
Sua morte teve grande impacto no Reino Unido, e o governo está sendo acusado de ter exposto desnecessariamente Kelly ou de tê-lo pressionado de forma indevida, tendo, portanto, uma responsabilidade indireta por sua morte.
O governo joga a culpa na BBC, que teria distorcido as afirmações do cientista.
Ontem, o ministro da Defesa britânico, Geoff Hoon, principal suspeito de ter revelado o nome de Kelly como fonte da reportagem da BBC, visitou a viúva do cientista, mas negou-se a fazer qualquer comentário. Acredita-se que, se o inquérito sobre o episódio concluir que o governo agiu de forma imprópria, Hoon seja forçado a abandonar o cargo.
O premiê Blair voltou ontem ao Reino Unido, após uma viagem de cerca de uma semana aos EUA e à Ásia, e terá de enfrentar a mais grave crise desde que chegou ao poder, em 1997.
Ele também está acuado porque as forças de ocupação anglo-americanas no Iraque ainda não acharam as armas de destruição em massa iraquianas. Estas, segundo o próprio premiê, eram a principal justificativa para a guerra.


Com agências internacionais


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