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REINO UNIDO
Fita pode ser usada em inquérito sobre o caso
Site da BBC diz que empresa tem gravação de conversa com Kelly
DA REDAÇÃO
A rede BBC disse ontem possuir
a gravação de uma conversa de
um de seus jornalistas com o cientista David Kelly, na qual o especialista em armas britânico, encontrado morto na semana passada, manifestaria sua preocupação
com o modo como o governo de
Tony Blair construiu e apresentou
seu dossiê sobre a ameaça militar
iraquiana nos meses que antecederam a Guerra do Iraque.
A notícia sobre a suposta fita foi
divulgada no próprio site da BBC,
num artigo do jornalista de mídia
Torin Douglas, mas não foi confirmada pela assessoria de imprensa da BBC.
Segundo o texto, a BBC consideraria a gravação um elemento
"útil" para se defender na atual
polêmica com o governo britânico e poderia apresentá-la como
prova no inquérito público sobre
o caso, que será realizado pelo juiz
Brian Hutton.
A gravação teria sido feita pela
jornalista científica Susan Watts,
do programa de TV da BBC
Newsnight, e não reproduziria a
conversa de Kelly com o jornalista
Andrew Gilligan, também da
BBC, autor do polêmico artigo no
qual o governo Blair foi acusado
de ter exagerado -ou "tornado
mais sexy"- a ameaça iraquiana,
quando apresentou seu conjunto
de justificativas para a Guerra do
Iraque, em setembro de 2002.
Pelo que se sabe até o momento,
o especialista em armas biológicas
do governo britânico David Kelly
era a fonte não identificada citada
no artigo original de Gilligan.
Entretanto, após o governo ter
negado categoricamente as acusações de manipulação e acusado
a BBC de ter inventado a história,
Kelly teria procurado membros
da administração Blair para dizer
que suas declarações não teriam
sido reproduzidas com exatidão.
Pouco depois, seu nome foi tornado público como fonte principal da reportagem. Diante da intensa pressão que se seguiu, inclusive com uma convocação para
depor no Parlamento britânico,
ele acabou aparecendo morto,
provavelmente em consequência
de suicídio.
Sua morte teve grande impacto
no Reino Unido, e o governo está
sendo acusado de ter exposto desnecessariamente Kelly ou de tê-lo
pressionado de forma indevida,
tendo, portanto, uma responsabilidade indireta por sua morte.
O governo joga a culpa na BBC,
que teria distorcido as afirmações
do cientista.
Ontem, o ministro da Defesa
britânico, Geoff Hoon, principal
suspeito de ter revelado o nome
de Kelly como fonte da reportagem da BBC, visitou a viúva do
cientista, mas negou-se a fazer
qualquer comentário. Acredita-se
que, se o inquérito sobre o episódio concluir que o governo agiu
de forma imprópria, Hoon seja
forçado a abandonar o cargo.
O premiê Blair voltou ontem ao
Reino Unido, após uma viagem
de cerca de uma semana aos EUA
e à Ásia, e terá de enfrentar a mais
grave crise desde que chegou ao
poder, em 1997.
Ele também está acuado porque
as forças de ocupação anglo-americanas no Iraque ainda não acharam as armas de destruição em
massa iraquianas. Estas, segundo
o próprio premiê, eram a principal justificativa para a guerra.
Com agências internacionais
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