São Paulo, quinta-feira, 24 de setembro de 2009

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Lula se reúne com iraniano e defende sua aspiração nuclear

Brasileiro diz que Irã tem direito de enriquecer urânio desde que aceite fiscalização

"Não sou obrigado a não gostar de uma pessoa porque outro não gosta", diz petista sobre Ahmadinejad, que virá ao Brasil em novembro

Ricardo Stuckert/Presidência da República
Lula cumprimenta o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em encontro à margem de assembleia da ONU, em Nova York

DE NOVA YORK

Após encontro fechado de mais de uma hora com Mahmoud Ahmadinejad, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma enfática defesa do colega iraniano, apoiando, inclusive, o direito de Teerã enriquecer urânio.
A conversa, no hotel da delegação brasileira, também serviu para os dois líderes agendarem seus próximos encontros.
Ahmadinejad remarcou para novembro sua visita ao Brasil, inicialmente prevista para maio, mas cancelada em cima da hora devido a tensões que antecederam a eleição presidencial iraniana. Lula disse que pretende visitar Teerã no começo do próximo ano. O presidente brasileiro disse que não se sentia constrangido em receber Ahmadinejad, que questiona o Holocausto, defende que Israel seja varrido do mapa e foi reeleito em junho em meio a acusações de fraudes e violenta repressão de opositores.
O presidente brasileiro rejeitou pressões internacionais para forçar Teerã a suspender seu programa nuclear usando o mesmo argumento dos iranianos: o de que todos os países signatários do Tratado de Proliferação Nuclear, como o Irã e o Brasil, têm direito de enriquecer urânio para produzir energia para fins civis, desde que cooperem com as inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
"Defendo para o Irã a mesma coisa que eu defendo para o Brasil em relação à energia nuclear", afirmou Lula.
A Constituição Federal de 1988 determina que o programa nuclear brasileiro deve ser usado exclusivamente para fins pacíficos. Em 2004 o Brasil teve divergências com a AIEA a respeito do acesso dos inspetores da agência às centrais brasileiras -o embate foi resolvido por meio de um acordo.
Lula afirmou ter ouvido pessoalmente de Ahmadinejad garantias de que Teerã não quer a bomba atômica, mas ressaltou que o Irã deveria ser submetido a sanções caso descumpra as normas internacionais em matéria de proliferação nuclear.
O presidente brasileiro também procurou se distanciar das polêmicas declarações de Ahmadinejad sobre o Holocausto. Lula insistiu em que vai continuar defendendo que o extermínio de judeus pelo regime nazista na Segunda Guerra mundial (1939-1945) aconteceu, mas que a posição de Ahmadinejad "é problema dele".
A respeito da controversa reeleição do iraniano, Lula disse que a discussão é parte do passado. "Não sou obrigado a não gostar de uma pessoa porque o outro não gosta. O Brasil tem sua soberania, sua autonomia para fazer sua política internacional, com a certeza de que estamos conversando com um grande parceiro", disse.
Após o encontro com Lula, Ahmadinejad foi até a Assembleia Geral, onde fez um discurso criticando o capitalismo e Israel. Ele também defendeu o banimento das armas nucleares e enalteceu os laços entre muçulmanos, judeus e cristãos. Cerca de metade das delegações deixaram o plenário em protesto contra o iraniano.
(JANAINA LAGE)


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