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Lula se reúne com iraniano e defende sua aspiração nuclear
Brasileiro diz que Irã tem direito de enriquecer urânio desde que aceite fiscalização
"Não sou obrigado a não gostar de uma pessoa porque outro não gosta", diz petista sobre Ahmadinejad, que virá ao Brasil em novembro
Ricardo Stuckert/Presidência da República
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Lula cumprimenta o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em encontro à margem de assembleia da ONU, em Nova York
DE NOVA YORK
Após encontro fechado de
mais de uma hora com Mahmoud Ahmadinejad, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
fez ontem uma enfática defesa
do colega iraniano, apoiando,
inclusive, o direito de Teerã
enriquecer urânio.
A conversa, no hotel da delegação brasileira, também serviu para os dois líderes agendarem seus próximos encontros.
Ahmadinejad remarcou para
novembro sua visita ao Brasil,
inicialmente prevista para
maio, mas cancelada em cima
da hora devido a tensões que
antecederam a eleição presidencial iraniana. Lula disse que
pretende visitar Teerã no começo do próximo ano. O presidente brasileiro disse que não
se sentia constrangido em receber Ahmadinejad, que questiona o Holocausto, defende que
Israel seja varrido do mapa e foi
reeleito em junho em meio a
acusações de fraudes e violenta
repressão de opositores.
O presidente brasileiro rejeitou pressões internacionais para forçar Teerã a suspender seu
programa nuclear usando o
mesmo argumento dos iranianos: o de que todos os países
signatários do Tratado de Proliferação Nuclear, como o Irã e
o Brasil, têm direito de enriquecer urânio para produzir
energia para fins civis, desde
que cooperem com as inspeções da Agência Internacional
de Energia Atômica (AIEA).
"Defendo para o Irã a mesma
coisa que eu defendo para o
Brasil em relação à energia nuclear", afirmou Lula.
A Constituição Federal de
1988 determina que o programa nuclear brasileiro deve ser
usado exclusivamente para fins
pacíficos. Em 2004 o Brasil teve divergências com a AIEA a
respeito do acesso dos inspetores da agência às centrais brasileiras -o embate foi resolvido
por meio de um acordo.
Lula afirmou ter ouvido pessoalmente de Ahmadinejad garantias de que Teerã não quer a
bomba atômica, mas ressaltou
que o Irã deveria ser submetido
a sanções caso descumpra as
normas internacionais em matéria de proliferação nuclear.
O presidente brasileiro também procurou se distanciar das
polêmicas declarações de Ahmadinejad sobre o Holocausto.
Lula insistiu em que vai continuar defendendo que o extermínio de judeus pelo regime
nazista na Segunda Guerra
mundial (1939-1945) aconteceu, mas que a posição de Ahmadinejad "é problema dele".
A respeito da controversa
reeleição do iraniano, Lula disse que a discussão é parte do
passado. "Não sou obrigado a
não gostar de uma pessoa porque o outro não gosta. O Brasil
tem sua soberania, sua autonomia para fazer sua política internacional, com a certeza de
que estamos conversando com
um grande parceiro", disse.
Após o encontro com Lula,
Ahmadinejad foi até a Assembleia Geral, onde fez um discurso criticando o capitalismo e Israel. Ele também defendeu o
banimento das armas nucleares e enalteceu os laços entre
muçulmanos, judeus e cristãos.
Cerca de metade das delegações deixaram o plenário em
protesto contra o iraniano.
(JANAINA LAGE)
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