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Obama propõe em sua fala à ONU nova era de engajamento global
Americano expõe visão oposta à de antecessor Bush, para quem entidade era entrave a interesses dos EUA no mundo
Presidente anuncia metas amplas e vagas, que passam por não proliferação nuclear, paz mundial, preservação do meio ambiente e economia
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Os EUA mudaram, e seu novo presidente quer que o mundo saiba disso. Num discurso
histórico por marcar uma ruptura com um passado muito recente e amplamente criticado,
Barack Obama fez de sua primeira participação na Assembleia Geral da ONU, ontem, um
chamado para o que definiu de
"nova era de engajamento", que
seja "baseada em interesses e
respeito mútuos".
"Nós atingimos um momento fundamental", disse Obama.
"Os EUA estão prontos a começar um novo capítulo de cooperação internacional, que reconheça os direitos e responsabilidades de todas as nações."
Afirmou que era hora de mudar, sugeriu que os tempos
eram de multilateralismo e indicou que entendia críticas feitas a seu país no passado.
"Nenhuma nação pode ou
deve tentar dominar outra nação", disse. "Nenhuma ordem
mundial que eleve uma nação
ou grupo sobre outra vai ser
bem-sucedida." Em passagem
que lembrou o discurso de
2004 que o lançaria no cenário
político nacional, disse que são
necessárias "novas coalizões
que ultrapassem velhas divisões -de diferentes fés e credos; de norte e sul, leste e oeste;
negros, brancos e marrons".
Obama disse que assumiu o
poder numa época em que muitos no mundo viam os EUA
com ceticismo e desconfiança.
Parte do problema, disse, era
devido a desinformação e conceitos errados; parte, pela percepção de que, em questões críticas, o país agiu unilateralmente; parte, pelo que chamou
de "antiamericanismo reflexo".
"Como todos vocês, minha
responsabilidade é agir em interesse de minha nação e de
meu povo, e eu nunca vou me
desculpar por defender esses
interesses", afirmou. "Mas é
minha crença profunda que
neste ano, mais do que em qualquer outro da história, os interesses das nações e das pessoas
é compartilhado."
As palavras contrastam com
as do antecessor, George W.
Bush, que via a ONU como um
entrave aos interesses americanos e, na véspera da invasão ao
Iraque, disse que a entidade
corria o risco de se tornar irrelevante. Obama procurou se
distanciar dele, dizendo que o
país pagara sua dívida com a organização e entrara no Conselho de Direitos Humanos, duas
queixas antigas da ONU.
Listou também medidas que
romperam com as da era Bush:
"Proibi sem exceção ou equívoco o uso de tortura pelos EUA.
Ordenei que a prisão de Guantánamo seja fechada, e estamos
fazendo o trabalho duro de forjar um arcabouço para combater o extremismo seguindo os
princípios legais. Toda nação
deve saber: os EUA viverão
seus valores, e nós vamos liderar pelo exemplo."
Distanciou-se ainda de uma
das regras de ouro da gestão
bushista: "A democracia não
pode ser imposta por uma nação de fora. Cada sociedade deve buscar seu próprio caminho,
e nenhum caminho é perfeito.
Cada país vai buscar seu caminho enraizado na cultura de
seu povo, e, no passado, os EUA
foram muito seletivos na promoção da democracia".
Obama disse que sua nova
era de engajamento se baseia
em quatro pilares: "Não proliferação e desarmamento; promoção de paz e segurança; preservação do planeta; e uma economia global que crie oportunidade para todos os povos". São
princípios amplos e vagos demais, duas críticas comuns ao
democrata, que vive o pior momento no campo doméstico.
Ontem, porém, em sua estreia na mais internacional das
arenas, ele só ouviu aplausos.
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