São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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Narcotráfico ameaça a estabilização afegã

DA REDAÇÃO

Após mais de duas décadas de conflitos armados, iniciados com a invasão soviética em 1979 e terminados com a deposição do Taleban por uma coalizão liderada pelos EUA em 2001, o Afeganistão corre o sério risco de deixar para trás a sombra do extremismo islâmico para tornar-se um Estado dominado pelo narcotráfico.
Por outro lado, três anos depois do fim do regime radical do Taleban, alguns progressos são palpáveis. Mais de 10,5 milhões de eleitores afegãos (40% do sexo feminino) se inscreveram para votar na eleição presidencial de 9 de outubro, da qual o presidente Hamid Karzai -apoiado por Washington- deve sair vencedor.
Segundo a ONU, ademais, já há mais de 5 milhões de estudantes no Afeganistão atualmente, e quase 40% são meninas. Estas, sob o Taleban, não podiam freqüentar escolas públicas. Houve uma campanha de vacinação que atingiu 7,5 milhões de crianças, e a poliomielite deverá ser erradicada ainda em 2004, também de acordo com a entidade.
As boas notícias não param aí, mas, infelizmente, são ofuscadas pelo lado negativo da atual sociedade afegã. Senhores da guerra continuam a ditar as regras no interior do país, pois o governo central só controla Cabul (capital).
Quando as forças oficiais resolvem se aventurar pelo interior do país para enfrentá-los, eles acabam transferindo seus negócios do contrabando e da evasão fiscal para o narcotráfico, agravando a preocupante situação.
Atualmente, o Afeganistão é responsável por 75% da produção global de opiáceos. O cultivo e a venda de ópio e de heroína gerará uma receita de US$ 2,3 bilhões neste ano, enquanto o governo Karzai só conseguirá arrecadar US$ 285 milhões em impostos, de acordo com a ONU.
O perigo é, portanto, a infiltração do narcotráfico na cena política. Como Karzai não deverá conseguir formar um governo sem o apoio de seus maiores adversários na eleição -os senhores da guerra Yunis Qanuni (tadjique) e Abdul Rachid Dostum (uzbeque)-, a porta ficará aberta ao alastramento da corrupção.
Afinal, para a Human Rights Watch, o narcotráfico floresce graças à proteção dos senhores da guerra. Muitos deles, aliás, têm privilegiado o cultivo da papoula, mais lucrativo e menos arriscado que outras atividades ilegais.
Assim, além de combater a Al Qaeda no sul do Afeganistão, o próximo presidente dos EUA deverá cuidar da questão da droga.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)

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