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LESTE EUROPEU
Protestos reúnem 200 mil em Kiev; presidente afirma que manifestações são "farsa política" e pede que rivais negociem
Oposicionista se diz vitorioso na Ucrânia
DA REDAÇÃO
O líder oposicionista ucraniano
Viktor Yushchenko prestou ontem um juramento simbólico no
Parlamento e se declarou o vencedor da eleição presidencial da
Ucrânia do último domingo.
Afirmando que o país está à beira de um conflito civil, Yushchenko instou a comunidade internacional a reconhecer sua vitória.
No segundo dia de protestos, 200
mil pessoas marcharam em Kiev
em apoio ao líder da oposição.
Yushchenko contesta o resultado da eleição divulgado anteontem pela Comissão Eleitoral
Ucraniana, que deu vitória ao
premiê pró-Kremlin Viktor Yanukovich, com 49,39% dos votos.
Yushchenko, nacionalista pró-Ocidente, teria obtido 46,71%,
com 99,5% dos votos apurados.
Observadores internacionais do
pleito, como a OSCE (Organização para Segurança e Cooperação
na Europa), confirmaram a ocorrência de fraudes na votação.
"Exortamos os Parlamentos e as
nações do mundo a reconhecer a
vontade do povo ucraniano e a
apoiar seu desejo de voltar à democracia", afirmou uma nota de
Yushchenko e de seus aliados.
"Como líderes da coalizão nacional de forças políticas, assumimos a responsabilidade e, sustentando o desejo da nação, reconhecemos a vitória de Viktor Yushchenko", acrescentou a nota.
O Parlamento reuniu-se para
votar um pedido de anulação do
resultado e um voto de desconfiança na comissão eleitoral. A
sessão foi boicotada por aliados
de Yanukovich, e a oposição não
teve quórum para a votação.
"A Ucrânia está à beira de um
conflito civil", disse Yushchenko.
"Temos duas opções: a resposta
será dada pelo Parlamento ou as
ruas vão dar a resposta."
Com a mão sobre a Bíblia,
Yushchenko fez um juramento
simbólico como presidente ao fim
da sessão. Por uma janela, discursou para a multidão do lado de fora e pediu que as autoridades admitissem a fraude eleitoral.
Em Lviv, a principal cidade do
oeste nacionalista, cerca de 100
mil pessoas também protestaram
em favor de Yushchenko. Houve
protestos ainda em Lutsk e
Khmelnitsky, também no oeste.
A oposição ameaçou conduzir
uma "campanha de desobediência civil" e de "luta não-violenta
pelo reconhecimento dos verdadeiros resultados", bloqueando
estradas e aeroportos e tomando
prédios públicos, caso não haja
uma solução política para a crise.
"Estamos escorregando para
um abismo. É amoral e criminoso
fingir que nada está acontecendo
no país", disse Volodimir Litvin,
presidente do Parlamento. "Todas as forças políticas devem negociar e resolver a situação sem
derramamento de sangue."
Cerca de 20 diplomatas ucranianos baseados em outros países rejeitaram, em nota, o resultado da
votação e protestam contra o fato
de a eleição "estar se tornando
uma guerra vergonhosa contra
nosso próprio povo".
Ministros da área de segurança
foram convocados para uma reunião de emergência.
O presidente ucraniano, Leonid
Kuchma, pediu que as forças políticas se sentem para negociar,
buscando evitar um "cisma". Ele
chamou os protestos de "uma farsa política extremamente perigosa, que pode levar a conseqüências imprevisíveis".
O presidente russo, Vladimir
Putin, disse que críticas à eleição
na Ucrânia pela OSCE são "inadmissíveis" porque ainda não há
resultados oficiais. "Eles deveriam ser mais cuidadosos e responsáveis", disse Putin. Ele afirmou ainda que a Ucrânia é "um
Estado de Direito" e, portanto,
"não precisa ouvir sermões."
A Rússia, em nota anônima divulgada por um alto funcionário
de sua Chancelaria, também criticou os EUA pelo que chamou de
"interferência sem precedentes"
em questões domésticas.
A nota foi enviada à imprensa
após relatos de que a secretária-assistente de Estado dos EUA para Questões Européias, Elizabeth
Jones, convocara o embaixador
da Rússia nos EUA para expressar
sua censura à decisão de Putin de
parabenizar Yanukovich.
A Ucrânia tem importância econômica crucial para a Rússia. O
Kremlin apoiou a candidatura de
Yanukovich, 54, que é favorável a
um maior controle estatal da economia e apóia o alinhamento da
Ucrânia a um bloco sob liderança
russa. Ele propôs fazer do russo a
segunda língua oficial do país.
Já Yushchenko, 50, apresentou
uma plataforma de combate à
corrupção e de criação de empregos. Ex-banqueiro, defende uma
liberação política e econômica
gradual, com vistas a uma integração à União Européia, e sugeriu que o país faça parte da Otan.
Com agências internacionais
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