São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2004

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SAÚDE

Epidemia ganha força em países do leste, como China, Índia, Rússia e Ucrânia, diz relatório da ONU

Aids se alastra mais entre mulheres

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Levantamento anual da ONU sobre Aids e vírus HIV divulgado ontem mostra que a epidemia vem se alastrando de forma mais intensa entre mulheres, especialmente nos países do Leste Europeu e no continente asiático. As nações em que houve maior crescimento no número de infecções neste ano foram a China, a Índia, a Rússia e a Ucrânia.
Os números mostram que a epidemia continua crescendo. A quantidade de pessoas infectadas com o HIV atingiu seu ápice desde que a ONU começou a contabilizá-las, há quase 20 anos. Segundo a estimativa oficial, existem hoje cerca de 39,4 milhões de portadores de HIV no planeta, na média. Pela metodologia da pesquisa, esse número pode variar de 35,9 milhões a 44,3 milhões. Ou seja, é possível que haja até 44,3 milhões de soropositivos.
As mulheres representam 44,7% do total. Mas a variação dos números nos continentes é grande. No leste asiático, com o aumento dos casos na China e na Índia, cerca de 56% dos contaminados são mulheres. No Leste Europeu e na região central da Ásia são 48%. Na África subsaariana, o número chega perto dos 60%.
Segundo Carlos Lopes, coordenador do sistema das Nações Unidas no Brasil, diversos fatores explicam o aumento da epidemia entre as mulheres. Entre os principais estão o desrespeito aos direitos das mulheres, as práticas de abusos sexuais e estupros e a dependência econômica ainda forte em relação aos homens.
Nessas regiões, a epidemia não era tão grande nos últimos anos. Isso significa que tais países ainda estão em um estágio inicial da disseminação, com a ocorrência de muitos casos entre populações consideradas vulneráveis: prostitutas, homossexuais, presos e usuários de drogas injetáveis.
Para Giovanni Quaglia, representante do UNODC (escritório das Nações Unidas para drogas e crime), é preciso desenvolver políticas de atendimento específico para essas populações vulneráveis no Leste Europeu e no sul/sudeste asiático. "Se não se prestar atenção a essas populações, vai ser muito difícil reduzir a epidemia em nível mundial", afirmou.
Na América Latina, que está na contramão da tendência mundial e mantém os homens com os piores índices, a ONU vai começar a desenvolver programas de atenção às populações vulneráveis com base em experiências do Brasil, segundo Quaglia.
O continente africano, notadamente a região subsaariana, mostrou uma estabilização da epidemia, algo que, longe de acalmar, preocupou os técnicos do organismo, porque a estabilidade se explica pelo alto número de mortes provocadas pela doença.

Gastos e genéricos
Apesar de os investimentos no combate à epidemia terem quase triplicado nos últimos três anos, subindo de US$ 2,1 bilhões, em 2001, para US$ 6,1 bilhões, em 2004, os representantes da ONU ainda consideram insuficientes os recursos. Segundo Carlos Lopes, teria sido necessário destinar US$ 14 bilhões anuais para que a doença fosse controlada. A partir de 2005, esse número precisaria subir para US$ 20 bilhões.
"Pensar que hoje são investidos US$ 6 bilhões na luta contra a Aids é estonteante, quando seriam precisos US$ 14 bilhões, uma quantia que é gasta em menos de uma semana na Guerra do Iraque. A luta contra a Aids é uma guerra que nós precisamos empreender com mais empenho", afirmou.
Outro componente importante para o combate à doença seria a quebra de patentes de medicamentos e a adoção dos genéricos para os portadores do HIV. Hoje, cerca de 400 mil soropositivos fazem uso de medicamentos, contra uma meta estabelecida pela ONU de atingir 3 milhões de pessoas até 2006.


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