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SAÚDE
Epidemia ganha força em países do leste, como China, Índia, Rússia e Ucrânia, diz relatório da ONU
Aids se alastra mais entre mulheres
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Levantamento anual da ONU
sobre Aids e vírus HIV divulgado
ontem mostra que a epidemia
vem se alastrando de forma mais
intensa entre mulheres, especialmente nos países do Leste Europeu e no continente asiático. As
nações em que houve maior crescimento no número de infecções
neste ano foram a China, a Índia,
a Rússia e a Ucrânia.
Os números mostram que a epidemia continua crescendo. A
quantidade de pessoas infectadas
com o HIV atingiu seu ápice desde que a ONU começou a contabilizá-las, há quase 20 anos. Segundo a estimativa oficial, existem hoje cerca de 39,4 milhões de
portadores de HIV no planeta, na
média. Pela metodologia da pesquisa, esse número pode variar de
35,9 milhões a 44,3 milhões. Ou
seja, é possível que haja até 44,3
milhões de soropositivos.
As mulheres representam
44,7% do total. Mas a variação dos
números nos continentes é grande. No leste asiático, com o aumento dos casos na China e na Índia, cerca de 56% dos contaminados são mulheres. No Leste Europeu e na região central da Ásia são
48%. Na África subsaariana, o número chega perto dos 60%.
Segundo Carlos Lopes, coordenador do sistema das Nações Unidas no Brasil, diversos fatores explicam o aumento da epidemia
entre as mulheres. Entre os principais estão o desrespeito aos direitos das mulheres, as práticas de
abusos sexuais e estupros e a dependência econômica ainda forte
em relação aos homens.
Nessas regiões, a epidemia não
era tão grande nos últimos anos.
Isso significa que tais países ainda
estão em um estágio inicial da disseminação, com a ocorrência de
muitos casos entre populações
consideradas vulneráveis: prostitutas, homossexuais, presos e
usuários de drogas injetáveis.
Para Giovanni Quaglia, representante do UNODC (escritório
das Nações Unidas para drogas e
crime), é preciso desenvolver políticas de atendimento específico
para essas populações vulneráveis
no Leste Europeu e no sul/sudeste
asiático. "Se não se prestar atenção a essas populações, vai ser
muito difícil reduzir a epidemia
em nível mundial", afirmou.
Na América Latina, que está na
contramão da tendência mundial
e mantém os homens com os piores índices, a ONU vai começar a
desenvolver programas de atenção às populações vulneráveis
com base em experiências do Brasil, segundo Quaglia.
O continente africano, notadamente a região subsaariana, mostrou uma estabilização da epidemia, algo que, longe de acalmar,
preocupou os técnicos do organismo, porque a estabilidade se
explica pelo alto número de mortes provocadas pela doença.
Gastos e genéricos
Apesar de os investimentos no
combate à epidemia terem quase
triplicado nos últimos três anos,
subindo de US$ 2,1 bilhões, em
2001, para US$ 6,1 bilhões, em
2004, os representantes da ONU
ainda consideram insuficientes os
recursos. Segundo Carlos Lopes,
teria sido necessário destinar US$
14 bilhões anuais para que a doença fosse controlada. A partir de
2005, esse número precisaria subir para US$ 20 bilhões.
"Pensar que hoje são investidos
US$ 6 bilhões na luta contra a
Aids é estonteante, quando seriam precisos US$ 14 bilhões, uma
quantia que é gasta em menos de
uma semana na Guerra do Iraque.
A luta contra a Aids é uma guerra
que nós precisamos empreender
com mais empenho", afirmou.
Outro componente importante
para o combate à doença seria a
quebra de patentes de medicamentos e a adoção dos genéricos
para os portadores do HIV. Hoje,
cerca de 400 mil soropositivos fazem uso de medicamentos, contra uma meta estabelecida pela
ONU de atingir 3 milhões de pessoas até 2006.
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