São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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Brown aproveita crise econômica para recuperar prestígio político

Em alta, premiê britânico cogita antecipar eleições, dizem simpatizantes

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

A crise financeira global provocou movimentos tão drásticos na política britânica nas últimas semanas quanto nas Bolsas de valores de todo o mundo. A popularidade do primeiro-ministro, Gordon Brown, sofreu grandes mudanças, só que na direção contrária à dos mercados, e subiu tanto que já se cogita nos bastidores de Downing Street antecipar as eleições para o primeiro semestre do ano que vem.
Pelo sistema político britânico, as eleições não têm data fixa, mas o prazo-limite para o atual mandato acaba em junho de 2010. Até pouco tempo atrás, o cenário mais provável era que a votação só acontecesse nessa data, já que os governistas apareciam até 30 pontos atrás nas pesquisas.
A atual especulação sobre eleições antecipadas é ainda mais espetacular se for levada em conta a situação de Brown há apenas alguns meses. Em maio, seu partido, o Trabalhista, sofreu a pior derrota nas eleições locais em 40 anos, perdendo de lavada para os Conservadores, liderados por David Cameron, um político jovem que renovou a imagem da centro-direita. Mesmo semanas atrás, Brown enfrentava uma revolta aberta de alguns integrantes do partido que pediam sua saída do cargo.
Brown assumiu o cargo em junho do ano passado, depois de dez anos do também trabalhista Tony Blair no poder, sem que uma eleição fosse realizada, já que seu partido tinha a maioria no Parlamento.

É a economia
O principal motivo para sua recuperação é a economia. "A recessão econômica global e o colapso dos bancos permitiram que ele explorasse seu lado forte. Por dez anos, ele foi o ministro das Finanças do país. Essa é sua grande força, o homem que entende de economia internacional, e ele conseguiu se mostrar como decidido, como um líder global", afirma o professor emérito da LSE (London School of Economics and Political Science) George Jones, especialista em primeiros-ministros. "Ele mudou visivelmente, dá pra ver no modo como ele caminha, como ele olha, seu humor. Ele se tornou muito mais confiante, e o público respondeu favoravelmente a isso", completa.
Essa mudança se reflete nos números. Na semana passada, uma pesquisa do instituto Ipsos-Mori mostrou os Trabalhistas apenas três pontos atrás, com 40 a 37 para os Conservadores. No início de setembro, quando o colapso financeiro global começou, a diferença era de 28 pontos: 52 a 24 para o partido de Cameron.
Na média de pesquisas do site UK Polling Report, os Trabalhistas estão oito pontos atrás dos Conservadores, mas a margem já foi muito maior, e a tendência atual é de diminuição.
Se a diferença continuar pequena, ou até mudar a favor dos Trabalhistas, e for mantida por alguns meses, é muito provável que Brown convoque uma eleição em junho, dizem, na mídia britânica, aliados do primeiro-ministro.
O crucial agora é saber qual será a curva do impacto da crise financeira na economia. Se o auge da crise for em 2009 e a economia melhorar em 2010, Brown pode esperar e colher os resultados de sua estratégia. Se a recessão for prolongada e o pior vier apenas em 2010, Brown deveria aproveitar o bom momento (foi elogiado como "salvador" até pelo recém-nobelizado Paul Krugman) e tentar garantir outro mandato.
O atual premiê arrisca-se a perder um ano de governo se sair derrotado das urnas em junho de 2009, data tida como provável para a eventual eleição antecipada, mas depois pode ser obrigado a enfrentar uma derrota quase certa mais tarde. "A hora é agora", escreveu em seu blog um dos principais colunistas do "The Times", Daniel Finklestein.
O que o primeiro-ministro não pode fazer, diz o professor Jones, é mostrar indecisão. "Os problemas dele começaram há um ano, quando ele fez muita gente acreditar que marcaria uma eleição antecipada e depois recuou, como se nunca tivesse pensado nisso. A indecisão foi mortal", afirma.
O roteiro até agora indica que Brown parece não ter aprendido a lição. Na sexta-feira, repetiu seu mantra de que "sua atenção está indivisivelmente focada na economia" e disse que "tem de ser dado um desconto" sobre as notícias da eleição antecipada. Ontem, em entrevista à BBC, o premiê afirmou que "não pensa em absoluto" em convocar eleições.


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