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Brown aproveita crise econômica para recuperar prestígio político
Em alta, premiê britânico cogita antecipar eleições, dizem simpatizantes
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
A crise financeira global provocou movimentos tão drásticos na política britânica nas últimas semanas quanto nas Bolsas de valores de todo o mundo.
A popularidade do primeiro-ministro, Gordon Brown, sofreu grandes mudanças, só que
na direção contrária à dos mercados, e subiu tanto que já se
cogita nos bastidores de Downing Street antecipar as eleições para o primeiro semestre
do ano que vem.
Pelo sistema político britânico, as eleições não têm data fixa, mas o prazo-limite para o
atual mandato acaba em junho
de 2010. Até pouco tempo
atrás, o cenário mais provável
era que a votação só acontecesse nessa data, já que os governistas apareciam até 30 pontos
atrás nas pesquisas.
A atual especulação sobre
eleições antecipadas é ainda
mais espetacular se for levada
em conta a situação de Brown
há apenas alguns meses. Em
maio, seu partido, o Trabalhista, sofreu a pior derrota nas
eleições locais em 40 anos, perdendo de lavada para os Conservadores, liderados por David Cameron, um político jovem que renovou a imagem da
centro-direita. Mesmo semanas atrás, Brown enfrentava
uma revolta aberta de alguns
integrantes do partido que pediam sua saída do cargo.
Brown assumiu o cargo em
junho do ano passado, depois
de dez anos do também trabalhista Tony Blair no poder, sem
que uma eleição fosse realizada, já que seu partido tinha a
maioria no Parlamento.
É a economia
O principal motivo para sua
recuperação é a economia. "A
recessão econômica global e o
colapso dos bancos permitiram
que ele explorasse seu lado forte. Por dez anos, ele foi o ministro das Finanças do país. Essa é
sua grande força, o homem que
entende de economia internacional, e ele conseguiu se mostrar como decidido, como um
líder global", afirma o professor
emérito da LSE (London
School of Economics and Political Science) George Jones, especialista em primeiros-ministros. "Ele mudou visivelmente,
dá pra ver no modo como ele
caminha, como ele olha, seu
humor. Ele se tornou muito
mais confiante, e o público respondeu favoravelmente a isso",
completa.
Essa mudança se reflete nos
números. Na semana passada,
uma pesquisa do instituto Ipsos-Mori mostrou os Trabalhistas apenas três pontos
atrás, com 40 a 37 para os Conservadores. No início de setembro, quando o colapso financeiro global começou, a diferença
era de 28 pontos: 52 a 24 para o
partido de Cameron.
Na média de pesquisas do site UK Polling Report, os Trabalhistas estão oito pontos atrás
dos Conservadores, mas a margem já foi muito maior, e a tendência atual é de diminuição.
Se a diferença continuar pequena, ou até mudar a favor dos
Trabalhistas, e for mantida por
alguns meses, é muito provável
que Brown convoque uma eleição em junho, dizem, na mídia
britânica, aliados do primeiro-ministro.
O crucial agora é saber qual
será a curva do impacto da crise
financeira na economia. Se o
auge da crise for em 2009 e a
economia melhorar em 2010,
Brown pode esperar e colher os
resultados de sua estratégia. Se
a recessão for prolongada e o
pior vier apenas em 2010,
Brown deveria aproveitar o
bom momento (foi elogiado como "salvador" até pelo recém-nobelizado Paul Krugman) e
tentar garantir outro mandato.
O atual premiê arrisca-se a
perder um ano de governo se
sair derrotado das urnas em junho de 2009, data tida como
provável para a eventual eleição antecipada, mas depois pode ser obrigado a enfrentar
uma derrota quase certa mais
tarde. "A hora é agora", escreveu em seu blog um dos principais colunistas do "The Times",
Daniel Finklestein.
O que o primeiro-ministro
não pode fazer, diz o professor
Jones, é mostrar indecisão. "Os
problemas dele começaram há
um ano, quando ele fez muita
gente acreditar que marcaria
uma eleição antecipada e depois recuou, como se nunca tivesse pensado nisso. A indecisão foi mortal", afirma.
O roteiro até agora indica que
Brown parece não ter aprendido a lição. Na sexta-feira, repetiu seu mantra de que "sua
atenção está indivisivelmente
focada na economia" e disse
que "tem de ser dado um desconto" sobre as notícias da eleição antecipada. Ontem, em entrevista à BBC, o premiê afirmou que "não pensa em absoluto" em convocar eleições.
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