São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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Bombardeio reacende tensão entre Coreias

Disparos de artilharia do Norte contra ilha no Sul, em meio a exercícios militares sul-coreanos, deixa 2 mortos

Ambos se acusam por início de ataque, o mais grave contra civis desde 1987; Seul promete uma "enorme retaliação"

France Presse
Foto tirada por turista sul-coreano mostra as colunas de fumaça na ilha Yeonpyeong depois de ataque norte-coreano

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

As Coreias do Norte e do Sul trocaram intenso fogo de artilharia ontem, com saldo de dois soldados sul-coreanos mortos e ao menos 16 feridos, dos quais 3 civis, informou Seul. Até o fechamento desta edição, não havia relatos sobre baixas norte-coreanas. Os dois lados se acusaram de ter atacado primeiro.
A Coreia do Norte bombardeou a ilha sul-coreana de Yeonpyeong (no mar Amarelo, noroeste do país) às 14h34 locais (3h34 no horário de Brasília). Cerca de cem projéteis atingiram a ilha, que tem cerca de 1.200 moradores.
"As chamas estão se espalhando de casa para casa. As coisas estão realmente fora de controle. É muito sério, pois as casas são conjugadas", disse um morador ao canal sul-coreano MBN.
O ataque foi considerado o mais grave feito pela Coreia do Norte contra civis sul-coreanos desde que o regime comunista plantou uma bomba num avião de passageiros em 1987, matando 115 pessoas.
Já os militares sul-coreanos dispararam mais de 80 projéteis contra posições norte-coreanas, enviaram ao menos um caça para a região e colocaram as Forças Armadas no alerta mais alto antes do estado de guerra, informaram fontes oficiais.
Apesar de sul-coreana, a ilha é bem mais próxima da Coreia do Norte, 12 km de distância, e está a 3 km ao sul da fronteira marítima traçada pela ONU ao final da Guerra da Coreia (1950-53). A demarcação é contestada por Pyongyang, que exige o controle da área.
O presidente sul-coreano, Lee Myung-bak, ordenou que a Força Aérea atacasse uma base de mísseis na costa em caso de nova "provocação", informou a agência estatal Yonhap.
A Coreia do Sul reconheceu que fazia exercícios militares na região quando houve o confronto, mas afirmou que seus tiros de prática estavam dirigidos para o mar.
A Coreia do Norte, por sua vez, disse que foi atacada a partir das 13h e que "adotou uma forte ação militar", afirmou a agência estatal de notícias KCNA. O regime comunista prometeu "contra-ataques impiedosos" caso seu território seja invadido "por até 0,001 milímetro".
A China, cuja ajuda econômica é vital para o regime de Pyongyang, um dos mais fechados do mundo, pediu a ambos os lados que façam "mais para contribuir para a paz e estabilidade da Península Coreana".
O confronto de ontem piora ainda mais as relações entre os dois países, que sofreram outro abalo no fim de semana, quando foi revelada a existência de uma moderna planta de enriquecimento de urânio na Coreia do Norte com 2.000 centrífugas.
O incidente mais grave deste ano foi o afundamento de um navio militar sul-coreano, em março, com 46 marinheiros mortos. Seul acusa a Coreia do Norte de ter torpedeado a embarcação, mas Pyongyang nega.
Para Shi Yuanhua, especialista em Coreia da Universidade Fudan, em Xangai, a revelação da planta "foi para chamar a atenção no exterior, especialmente dos EUA" e forçar a retomada das negociações multilaterais.
Sobre o confronto de ontem, Shi disse que não vê risco iminente de guerra.


Com agências internacionais


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