São Paulo, quarta, 24 de dezembro de 1997.




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GUERRA SUJA
Ex-coronel do Exército, que se apropriou de criança filha de pais desaparecidos, é condenado à prisão
Argentina pune repressor por 'adoção'

LÉO GERCHMANN
de Buenos Aires

O ex-coronel do exército argen tino Hernán Antonio Tetzlaff e a sua mulher, María del Carmen Eduartes, foram condenados à prisão por terem se apropriado de uma menina recém-nascida, supostamente filha de presos políti cos desaparecidos, durante a "guerra suja" promovida pela di tadura militar de 1976 a 83.
A condenação do ex-coronel e de sua mulher foi uma confirmação em segunda instância, o que impossibilita recursos judiciais.
O casal foi condenado por "subtração de menor", "retenção e ocultação" e "supressão de estado civil". A pena, que ainda deverá ser fixada, vai variar entre três e dez anos de prisão. Tetzlaff será preso preventivamente. Sua mulher, com problemas de saúde, deverá ficar em prisão domiciliar.
A apropriação da menina -que hoje tem 21 anos, chama-se María Sol e ainda vive na casa de Tetzlaff e Eduartes- ocorreu no início de junho de 76. Duas semanas mais tarde, no dia 14 de junho daquele ano, mediante apresentação de certificado médico segundo o qual Eduartes a havia concebido, o casal fez o seu registro civil.
O processo contra o ex-coronel começou em 1988, quando a então presidente das "avós da Plaza de Mayo", María Chorobik de Mariani, alegou que María Sol era sua neta.
Submetida a exames de DNA, constatou-se que a menina não era filha do casal. Tetzlaff insistiu, mesmo assim, na tese da paternidade natural. Eduartes passou a evitar o assunto.
Os mesmos exames comprovaram também que María Sol não é neta de Mariani. A Justiça busca agora sua paternidade entre outras 20 famílias de desaparecidos.
Tetzlaff foi qualificado como repressor no documento "Nunca mais", editado pela Comissão Nacional sobre Pessoas Desapareci das. Nove testemunhas o identificaram como coordenador da prisão clandestina de "El Vesubio".
Espanhóis desaparecidos
O ex-general argentino Guillermo Suárez Mason, um dos princi pais responsáveis pela "guerra suja", se recusou ontem a depor no tribunal espanhol que investiga o desaparecimento de cidadãos desse país durante a ditadura argentina. Mason disse considerar a questão "coisa julgada" (que não possibilita mais recursos judiciais).
Mason se utilizou de explicações com fundo nacionalista para criticar os julgamentos, que estão ocorrendo na Espanha.
Segundo ele, a justiça espanhola está tentando subordinar as instituições argentinas a uma "globalização imperial".
A "guerra suja" foi uma "guerra anti-subversiva", de acordo com Mason, que foi chefe do 1º Corpo do Exército entre 76 e 80.
Processado por 57 privações de liberdade, ele foi beneficiado pelo indulto promovido pelo presidente Carlos Menem. Mais de 300 espanhóis desapareceram durante a ditadura argentina.



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