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GUERRA SUJA
Ex-coronel do Exército, que se apropriou de criança filha de pais desaparecidos, é condenado à prisão
Argentina pune repressor por 'adoção'
LÉO GERCHMANN
de Buenos Aires
O ex-coronel do exército argen
tino Hernán Antonio Tetzlaff e a
sua mulher, María del Carmen
Eduartes, foram condenados à
prisão por terem se apropriado de
uma menina recém-nascida, supostamente filha de presos políti
cos desaparecidos, durante a
"guerra suja" promovida pela di
tadura militar de 1976 a 83.
A condenação do ex-coronel e de
sua mulher foi uma confirmação
em segunda instância, o que impossibilita recursos judiciais.
O casal foi condenado por "subtração de menor", "retenção e
ocultação" e "supressão de estado civil". A pena, que ainda deverá ser fixada, vai variar entre três e
dez anos de prisão. Tetzlaff será
preso preventivamente. Sua mulher, com problemas de saúde, deverá ficar em prisão domiciliar.
A apropriação da menina -que
hoje tem 21 anos, chama-se María
Sol e ainda vive na casa de Tetzlaff
e Eduartes- ocorreu no início de
junho de 76. Duas semanas mais
tarde, no dia 14 de junho daquele
ano, mediante apresentação de
certificado médico segundo o qual
Eduartes a havia concebido, o casal fez o seu registro civil.
O processo contra o ex-coronel
começou em 1988, quando a então
presidente das "avós da Plaza de
Mayo", María Chorobik de Mariani, alegou que María Sol era sua
neta.
Submetida a exames de DNA,
constatou-se que a menina não era
filha do casal. Tetzlaff insistiu,
mesmo assim, na tese da paternidade natural. Eduartes passou a
evitar o assunto.
Os mesmos exames comprovaram também que María Sol não é
neta de Mariani. A Justiça busca
agora sua paternidade entre outras
20 famílias de desaparecidos.
Tetzlaff foi qualificado como repressor no documento "Nunca
mais", editado pela Comissão Nacional sobre Pessoas Desapareci
das. Nove testemunhas o identificaram como coordenador da prisão clandestina de "El Vesubio".
Espanhóis desaparecidos
O ex-general argentino Guillermo Suárez Mason, um dos princi
pais responsáveis pela "guerra suja", se recusou ontem a depor no
tribunal espanhol que investiga o
desaparecimento de cidadãos desse país durante a ditadura argentina. Mason disse considerar a questão "coisa julgada" (que não possibilita mais recursos judiciais).
Mason se utilizou de explicações
com fundo nacionalista para criticar os julgamentos, que estão
ocorrendo na Espanha.
Segundo ele, a justiça espanhola
está tentando subordinar as instituições argentinas a uma "globalização imperial".
A "guerra suja" foi uma "guerra anti-subversiva", de acordo
com Mason, que foi chefe do 1º
Corpo do Exército entre 76 e 80.
Processado por 57 privações de
liberdade, ele foi beneficiado pelo
indulto promovido pelo presidente Carlos Menem. Mais de 300 espanhóis desapareceram durante a
ditadura argentina.
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