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NÃO
"Pobre, país ignora democracia"
DA REDAÇÃO
Declarando-se pessimista com
as perspectivas para a democracia
no Iraque, o professor Patrick
Basham, do Instituto Cato -um
reputado centro de pesquisas econômicas em Washington, de
orientação conservadora-, diz
que a melhor herança de sua presença que os EUA podem deixar
no Iraque são os preceitos do livre
mercado. Afinal, diz, só com
maior poder aquisitivo e uma sociedade economicamente competitiva os iraquianos passarão a
apreciar e exigir liberdades civis.
Autor da análise "O Iraque pode
ser democrático?", Basham falou
com a Folha por telefone. A seguir, estão os principais trechos
da entrevista.
(LC)
Folha - O governo dos EUA tem
noção da complexidade de implantar uma democracia no Iraque?
Patrick Basham - Não. Eles pensaram nos aspectos militares muito bem, mas não deram muita importância para o que aconteceria
[politicamente] no Iraque depois
de Saddam Hussein. Acho que a
Casa Branca de Bush acreditava
genuinamente que a maioria dos
iraquianos fosse apoiar entusiasticamente a democracia nos moldes ocidentais. Eles não estavam
prontos para aceitar que a cultura
e a sociedade iraquiana são bem
diferentes da americana.
Folha - E agora, qual é o melhor
passo que os EUA podem dar?
Basham - O melhor que eles podem fazer é deixar a estrutura para uma economia de mercado. O
desenvolvimento econômico, o
aumento da renda, é o melhor incentivo para os valores democráticos e liberais. E o Iraque hoje em
dia é um país muito pobre. Até
que a maioria dos iraquianos se
torne mais rica do que é agora,
eles permanecerão desinteressados dos temas democráticos.
Folha - Que preceitos econômicos
os EUA podem implementar já?
Basham - Privatizar ao máximo,
reduzir impostos o quanto for
possível, estimular o trabalho ao
máximo como meio de se conseguir benefícios e, principalmente,
estimular o investimento externo
no país e investir na educação.
Folha - Mas o sr. não acha que
também seria difícil impor um sistema de mercado?
Basham - Esse sistema ofereceria
mais oportunidades, sobretudo
de emprego. Os iraquianos passaram uma geração com a economia controlada pelo Estado, acho
que eles podem ser persuadidos
rapidamente sobre o lado negativo de uma economia controlada
pelo Estado e se entusiasmarem
com a idéia de explorar um sistema de livre mercado. Não vejo
uma razão pela qual o Iraque não
possa apoiar o livre mercado.
Folha - Qual modelo político funcionaria melhor agora?
Basham - Seja qual for o modelo,
será muito difícil sustentá-lo.
Mas, se temos de sair do Iraque e
deixar lá um modelo, seria bom
deixar uma Constituição como a
americana, que protege os direitos políticos e econômicos e limita
o poder do governo. Ela deve ter
uma descrição muito clara do papel do governo. Eu também recomendo ao governo interino paciência com as eleições.
Folha - Eleições nacionais neste
ano são uma utopia?
Basham - Sim. Eles têm o problema da logística, literalmente não
dá para organizar uma eleição
agora. E, mesmo que desse, não
creio que seriam livres e justas.
Folha - A Autoridade Provisória
da Coalizão pode ter de recorrer ao
extinto partido Baath para evitar o
fundamentalismo islâmico?
Basham - Esse é um dilema para
a APC desde o início, porque você
tem apenas duas fontes reais de
poder no Iraque hoje -os elementos mais fundamentalistas,
xiitas em sua maioria, e as estruturas políticas vigentes sob o regime de Saddam, ligadas ao Baath.
Nos últimos meses, se analisarmos caso a caso, quando Paul
Bremer [chefe da APC] teve de
optar, ele escolheu os baathistas.
Folha - E os líderes tribais, terão
lugar no futuro governo?
Basham - É uma liderança que
não há como erradicar no curto
prazo. Eles terão de ter um lugar
garantido, porque, se não tiverem, estaremos garantindo a instabilidade e o fracasso.
Folha - O sr. vê um papel para a
ONU no governo transitório?
Basham - A ONU pode supervisionar as eleições, mas esse seria o
limite para sua intervenção.
Folha - Como o sr. vê a "democracia iraquiana" em 20 anos?
Basham - Se tudo for bem, daqui
a 20 anos poderemos conseguir
identificar os primeiros sinais significativos de uma democracia se
firmando. Mas há uma grande
chance de estarmos lidando com
o pior cenário.
Folha - E qual seria esse cenário?
Basham - A economia continuaria em má situação, e, em parte refletindo isso, a política seria dominado por extremistas religiosos. O país, dividido em religiões,
etnias e regiões, continuaria sendo muito violento. E continuaria
hostil aos valores ocidentais.
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