São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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ORIENTE MÉDIO

Maioria vive abaixo da linha de pobreza devido a dependência de Israel, indisciplina fiscal e inchaço administrativo

Economia reflete tragédia dos palestinos

DO ENVIADO ESPECIAL A GAZA

Estrangulada pela dependência de Israel e fragilizada pela falta de disciplina fiscal dos que a administram, a economia palestina sofre ainda mais quando aumenta a desconfiança internacional. Estima-se que as doações estrangeiras sejam responsáveis por metade do orçamento anual da Autoridade Nacional Palestina, de US$ 2 bilhões, uma ajuda que corre risco devido às turbulências domésticas e, principalmente, à falta de rigor de seus governantes.
A carência de recursos e a instabilidade política criaram um cenário trágico de pobreza e falta de perspectiva. Segundo o escritório oficial de estatísticas da administração palestina, três em cada cinco palestinos vivem abaixo da linha de pobreza.
Com o início da segunda intifada, em 2000, a situação piorou drasticamente: 62% das famílias perderam mais de metade de sua renda desde então.

Suspensão de ajuda
Há pouco mais de uma semana, a União Européia anunciou a suspensão do envio de US$ 35 milhões à ANP, sob a justificativa de que o governo palestino voltara a falhar no rigor orçamentário.
O golpe, além de desmoralizante, foi especialmente doloroso para o bolso palestinos, já que a UE é a que mais contribui para sua economia, com US$ 312 milhões estimados para este ano.
E foi também um recado de que a generosidade poderá acabar se a eleição de hoje coroar os radicais do Hamas. Há pouco mais de um mês, o representante de política externa da UE, Javier Solana, advertiu que a ajuda ficaria ameaçada se um partido que tem por objetivo declarado a destruição de Israel assumisse o poder.
Como quase tudo que envolve os palestinos, a crise econômica tem contornos nitidamente políticos. Apesar de mal ter recursos para cuidar de escolas, hospitais e estradas, o governo palestino continua inchando sua máquina administrativa para não perder o controle da situação.
A ANP é o maior empregador nos empobrecidos territórios que administra, com uma folha de pagamento de 145 mil funcionários públicos em uma população de 3,5 milhões de pessoas.
Contrariando acordos firmados com o Banco Mundial e o FMI, o inchaço continua. Somente nos últimos seis meses, 20 mil novos recrutas foram admitidos nas forças de segurança palestinas, levando o total a 70 mil.
Os salários do setor público subiram, causando um aumento de 60% na despesa do governo com ordenados, que hoje chega a quase US$ 1 bilhão.
"A Autoridade Nacional Palestina só sobrevive politicamente porque pode pagar esses salários todo mês, apesar de não oferecer segurança nem ter controle", diz o analista Khalil Shikaki, do respeitado Centro Palestino de Política e Pesquisa.

Restrições de Israel
Enquanto o setor público se beneficia da insegurança do governo, os demais trabalhadores sofrem com as restrições de entrada impostas por Israel, tradicionalmente o maior empregador.
O desemprego ronda a casa dos 30%. Na faixa de Gaza, especialmente, o cenário é desolador, com construções paradas pela metade, bandos de desocupados perambulando pelas ruas poeirentas e pouca esperança.
"Dependemos da ajuda de fora, mas nosso governo é tão corrupto que ela nunca chega a nós", lamenta o mecânico desempregado Mualem Tifi. "O Hamas, pelo menos, é mais honesto."
(MARCELO NINIO)


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