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ORIENTE MÉDIO
Maioria vive abaixo da linha de pobreza devido a dependência de Israel, indisciplina fiscal e inchaço administrativo
Economia reflete tragédia dos palestinos
DO ENVIADO ESPECIAL A GAZA
Estrangulada pela dependência
de Israel e fragilizada pela falta de
disciplina fiscal dos que a administram, a economia palestina sofre ainda mais quando aumenta a
desconfiança internacional. Estima-se que as doações estrangeiras
sejam responsáveis por metade
do orçamento anual da Autoridade Nacional Palestina, de US$ 2
bilhões, uma ajuda que corre risco devido às turbulências domésticas e, principalmente, à falta de
rigor de seus governantes.
A carência de recursos e a instabilidade política criaram um cenário trágico de pobreza e falta de
perspectiva. Segundo o escritório
oficial de estatísticas da administração palestina, três em cada cinco palestinos vivem abaixo da linha de pobreza.
Com o início da segunda intifada, em 2000, a situação piorou
drasticamente: 62% das famílias
perderam mais de metade de sua
renda desde então.
Suspensão de ajuda
Há pouco mais de uma semana,
a União Européia anunciou a suspensão do envio de US$ 35 milhões à ANP, sob a justificativa de
que o governo palestino voltara a
falhar no rigor orçamentário.
O golpe, além de desmoralizante, foi especialmente doloroso para o bolso palestinos, já que a UE é
a que mais contribui para sua economia, com US$ 312 milhões estimados para este ano.
E foi também um recado de que
a generosidade poderá acabar se a
eleição de hoje coroar os radicais
do Hamas. Há pouco mais de um
mês, o representante de política
externa da UE, Javier Solana, advertiu que a ajuda ficaria ameaçada se um partido que tem por objetivo declarado a destruição de
Israel assumisse o poder.
Como quase tudo que envolve
os palestinos, a crise econômica
tem contornos nitidamente políticos. Apesar de mal ter recursos
para cuidar de escolas, hospitais e
estradas, o governo palestino continua inchando sua máquina administrativa para não perder o
controle da situação.
A ANP é o maior empregador
nos empobrecidos territórios que
administra, com uma folha de pagamento de 145 mil funcionários
públicos em uma população de
3,5 milhões de pessoas.
Contrariando acordos firmados
com o Banco Mundial e o FMI, o
inchaço continua. Somente nos
últimos seis meses, 20 mil novos
recrutas foram admitidos nas forças de segurança palestinas, levando o total a 70 mil.
Os salários do setor público subiram, causando um aumento de
60% na despesa do governo com
ordenados, que hoje chega a quase US$ 1 bilhão.
"A Autoridade Nacional Palestina só sobrevive politicamente
porque pode pagar esses salários
todo mês, apesar de não oferecer
segurança nem ter controle", diz
o analista Khalil Shikaki, do respeitado Centro Palestino de Política e Pesquisa.
Restrições de Israel
Enquanto o setor público se beneficia da insegurança do governo, os demais trabalhadores sofrem com as restrições de entrada
impostas por Israel, tradicionalmente o maior empregador.
O desemprego ronda a casa dos
30%. Na faixa de Gaza, especialmente, o cenário é desolador, com
construções paradas pela metade,
bandos de desocupados perambulando pelas ruas poeirentas e
pouca esperança.
"Dependemos da ajuda de fora,
mas nosso governo é tão corrupto
que ela nunca chega a nós", lamenta o mecânico desempregado
Mualem Tifi. "O Hamas, pelo menos, é mais honesto."
(MARCELO NINIO)
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