São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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"Para americano moral é questão pessoal'

Luc Lamprière
do "Libération", em Nova York

O sociólogo Alan Wolfe é o autor de um vasto estudo consagrado aos valores morais da classe média norte-americana, "The Middle Class Morality Project".
No ano passado, Wolfe publicou o livro "One Nation, After All" (Viking/Penguin), realizado a partir de cerca de 200 entrevistas efetuadas nos subúrbios de quatro cidades dos EUA (Atlanta, San Diego, Tulsa e Boston) com cidadãos representativos da classe média.
Sua conclusão: os norte-americanos partilham um profundo respeito pela liberdade moral, são extremamente pragmáticos em suas convicções e recusam erigir-se em juízes de seus contemporâneos. Essa tolerância explicaria as reações diante do caso Lewinsky.
Pergunta - A que conclusões o sr. chegou sobre os americanos?
Alan Wolfe -
Antes que viesse à tona o escândalo, o sentimento geral era de que, se o presidente dos EUA tivesse uma ligação extraconjugal e mentisse a respeito, isso seria o fim de sua carreira política. Ora, nada disso aconteceu.
Pergunta - Mas seu estudo já previa essa reação...
Wolfe -
As pessoas que entrevistamos pertencem à classe média dos subúrbios. Elas são mais conservadoras politicamente e, com frequência, muito religiosas. Mas a religião para elas é privada e pessoal, e não desejam vê-la politizada! É por isso que os americanos se recusam a fazer um julgamento político negativo de Clinton.
Pergunta - E qual a explicação?
Wolfe -
De um lado, pela herança das contracultura dos anos 60, que diz que você pode levar a vida segundo seus próprios princípios.
De outro, pela influência da "corporate culture" (a cultura transmitida pela sociedade de consumo), que afirma responder às escolhas dos consumidores sem julgá-las.
Pergunta - Mas o zelo dos republicanos em perseguir Clinton é descrito como reação aos anos 60, de que ele seria um símbolo.
Wolfe -
Os republicanos travam uma batalha perdida. Se continuarem, será impossível a eles dispor de uma grande base nacional para ganhar um eleição presidencial. Se você deseja a maioria nos EUA, você tem que ser mais moderado.
²


Tradução de Marcos Flamínio Peres.



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