São Paulo, domingo, 25 de março de 2001

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"Descocainização" é feita desde 1903

DA REDAÇÃO

A Coca-Cola, produto que detém mais de metade do mercado mundial de refrigerantes e é consumido em mais de 200 países, nasceu em 1886 com uma fórmula baseada em dois elementos celebrados na época por suas supostas qualidades terapêuticas: a coca, planta originária dos países andinos da qual se extrai o alcalóide cocaína, e a noz de cola, encontrada em países africanos, cujo ingrediente ativo é a cafeína.
Para alguém consumir um grama de cocaína tomando Coca-Cola, teria de tomar talvez algumas dezenas de garrafas do refrigerante. Mesmo assim, a empresa começou a sofrer pressões, a partir do fim do século 19, quando se tornaram conhecidos os malefícios da droga -legal à época.
Em 1903, o então proprietário da empresa, Asa Candler, procurou o químico alemão Louis Schaefer para que ele produzisse um composto de coca totalmente livre de cocaína. Desde então, a mesma fábrica, hoje chamada Stepan Company, produz para a Coca-Cola o extrato aromatizante de folhas de coca utilizado na fórmula do refrigerante.
Com todos os problemas envolvidos na utilização de um produto cujo uso é controlado e relacionado à produção de drogas, por que a Coca-Cola continua utilizando hoje em sua fórmula um extrato de folhas de coca?
A companhia não comenta o assunto -nem mesmo confirma oficialmente o uso de coca em sua fórmula-, mas o livro "Secret Formula" (fórmula secreta), do jornalista Frederick Allen, lançado em 1995, dá uma pista:
"Candler acreditava que o nome de seu produto deveria ser descritivo e que deveria ter pelo menos um pouco do produto de folhas de coca no xarope (junto com um pouco de cola), para proteger seu direito ao nome Coca-Cola. A proteção ao nome era o ponto crítico", relata o autor.
"Candler não tinha patente sobre o próprio xarope. Qualquer um poderia produzir uma imitação. Mas ninguém poderia colocar a marca "Coca-Cola" numa imitação enquanto Candler possuísse o nome. O nome era o item de real valor, e a marca registrada era sua única salvaguarda. As folhas de coca precisavam ser mantidas no xarope."
Em outra passagem, que relata um episódio ocorrido em 1930, quando a empresa voltou a sofrer pressões, Allen escreveu: "Desistir (da coca) significaria mudar a fórmula secreta, e isso era inaceitável. A questão era a mística da Coca-Cola, o culto à fórmula. Se soubessem que a coca foi abandonada, as pessoas poderiam pensar que sentiram uma diferença, e isso poderia ser ruinoso". (RW)


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