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Zapatero nega vitória da Al Qaeda
JESÚS CEBERIO
FÉLIX MONTEIRA
DO ""EL PAÍS"
O socialista José Luis Rodríguez
Zapatero, futuro premiê da Espanha, acha que "não se derrota o
terrorismo com guerras". Eleito
após os atentados do dia 11 de
março, ele negou que o país tenha
cedido à Al Qaeda e pediu "reflexão" sobre o ocorrido.
Pergunta - Alguns setores lançaram a teoria de que o resultado
eleitoral do dia 14 significa que o
país se submeteu à Al Qaeda.
José Luis Rodríguez Zapatero - A
surpresa com a derrota do Partido
Popular [do premiê José María
Aznar] levou alguns setores a expressar opiniões inexatas, que devem ser superadas imediatamente. O resultado eleitoral foi inesperado para muitos, e alguns ainda
precisam aceitá-lo. Isso exige um
período de ""digestão" e reflexão.
Pergunta - Os atentados do dia 11
abriram uma discussão na Europa e
nos EUA sobre como combater o
terrorismo global.
Zapatero- A luta contra o terrorismo precisa basear-se sobre
princípios muito claros: grande
cooperação e unidade políticas e
utilização dos instrumentos do
Estado de Direito, da legalidade
internacional, tanto no âmbito da
União Européia quanto da ONU.
Pergunta - Qual deve ser a resposta operacional?
Zapatero- A melhor resposta é a
comunidade mundial de inteligência. É preciso haver muito
mais cooperação entre os serviços
de inteligência. E, sem dúvida alguma, precisamos reduzir ao máximo os focos que geram fanatismo e violência. Ou seja, resolver o
problema entre Israel e Palestina é
politicamente imprescindível
dentro da estratégia geral de segurança no mundo, e já perdemos
anos suficientes sem conseguir resultados. Não se derrota o terrorismo com guerras.
Pergunta - Que conseqüências terá para a luta contra o terrorismo
sua promessa de retirar as tropas
espanholas do Iraque?
Zapatero- A Guerra do Iraque
foi um grande erro. Não havia razões; a guerra foi feita sem consenso internacional, e a ocupação
tem sido um desastre. Hoje as
pessoas têm a sensação muito forte de que a situação do Iraque é
neocolonial. Não se quis que a
ONU liderasse a busca de uma solução do problema iraquiano.
O único caminho para a ocupação seria que a ONU exercesse sua
direção política, que houvesse
forças multinacionais das quais
participassem países árabes liderados pela Liga Árabe. Nada disso
foi feito, e o resultado é que a insegurança domina no Iraque.
A posição do meu governo é
muito clara: ou acontece uma
mudança radical da estratégia no
Iraque, liderada pela ONU e que
afete as forças de ocupação com
uma mudança de comando, desde uma nova perspectiva, ou as
tropas serão retiradas. É preciso,
além disso, iniciar uma grande
discussão internacional sobre como se deve fazer para que nunca
volte a se repetir uma intervenção
militar como a do Iraque.
Pergunta - O sr. tem consciência
de que, mesmo que se inicie esse
processo na ONU, será preciso administrar o retorno das tropas espanholas, dentro do cenário internacional. E as dificuldades não serão apenas com os EUA.
Zapatero- É claro. Mas, além de
não querer descumprir promessa
feita aos eleitores, acredito que a
decisão de fazer os soldados espanhóis voltarem a nosso país venha
a abrir uma grande discussão sobre a situação no Iraque e sobre o
que nunca mais se pode voltar a
fazer. É evidente que o governo da
Espanha vai administrar essa decisão através do diálogo com as
forças de ocupação e com seus governos, de maneira razoável. É
preciso que nos ouçam. Temos
argumentos poderosos.
Pergunta - Sob essa ótica, a volta
dos soldados parece inevitável.
Zapatero- Seria preciso que as
coisas mudassem muito. O retorno das tropas é uma decisão que
dificilmente poderá ser evitada.
Tradução de Clara Allain
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