São Paulo, quinta-feira, 25 de março de 2004

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Zapatero nega vitória da Al Qaeda

JESÚS CEBERIO
FÉLIX MONTEIRA
DO ""EL PAÍS"

O socialista José Luis Rodríguez Zapatero, futuro premiê da Espanha, acha que "não se derrota o terrorismo com guerras". Eleito após os atentados do dia 11 de março, ele negou que o país tenha cedido à Al Qaeda e pediu "reflexão" sobre o ocorrido.

 

Pergunta - Alguns setores lançaram a teoria de que o resultado eleitoral do dia 14 significa que o país se submeteu à Al Qaeda.
José Luis Rodríguez Zapatero -
A surpresa com a derrota do Partido Popular [do premiê José María Aznar] levou alguns setores a expressar opiniões inexatas, que devem ser superadas imediatamente. O resultado eleitoral foi inesperado para muitos, e alguns ainda precisam aceitá-lo. Isso exige um período de ""digestão" e reflexão.

Pergunta - Os atentados do dia 11 abriram uma discussão na Europa e nos EUA sobre como combater o terrorismo global.
Zapatero-
A luta contra o terrorismo precisa basear-se sobre princípios muito claros: grande cooperação e unidade políticas e utilização dos instrumentos do Estado de Direito, da legalidade internacional, tanto no âmbito da União Européia quanto da ONU.

Pergunta - Qual deve ser a resposta operacional?
Zapatero-
A melhor resposta é a comunidade mundial de inteligência. É preciso haver muito mais cooperação entre os serviços de inteligência. E, sem dúvida alguma, precisamos reduzir ao máximo os focos que geram fanatismo e violência. Ou seja, resolver o problema entre Israel e Palestina é politicamente imprescindível dentro da estratégia geral de segurança no mundo, e já perdemos anos suficientes sem conseguir resultados. Não se derrota o terrorismo com guerras.

Pergunta - Que conseqüências terá para a luta contra o terrorismo sua promessa de retirar as tropas espanholas do Iraque?
Zapatero-
A Guerra do Iraque foi um grande erro. Não havia razões; a guerra foi feita sem consenso internacional, e a ocupação tem sido um desastre. Hoje as pessoas têm a sensação muito forte de que a situação do Iraque é neocolonial. Não se quis que a ONU liderasse a busca de uma solução do problema iraquiano.
O único caminho para a ocupação seria que a ONU exercesse sua direção política, que houvesse forças multinacionais das quais participassem países árabes liderados pela Liga Árabe. Nada disso foi feito, e o resultado é que a insegurança domina no Iraque.
A posição do meu governo é muito clara: ou acontece uma mudança radical da estratégia no Iraque, liderada pela ONU e que afete as forças de ocupação com uma mudança de comando, desde uma nova perspectiva, ou as tropas serão retiradas. É preciso, além disso, iniciar uma grande discussão internacional sobre como se deve fazer para que nunca volte a se repetir uma intervenção militar como a do Iraque.

Pergunta - O sr. tem consciência de que, mesmo que se inicie esse processo na ONU, será preciso administrar o retorno das tropas espanholas, dentro do cenário internacional. E as dificuldades não serão apenas com os EUA.
Zapatero-
É claro. Mas, além de não querer descumprir promessa feita aos eleitores, acredito que a decisão de fazer os soldados espanhóis voltarem a nosso país venha a abrir uma grande discussão sobre a situação no Iraque e sobre o que nunca mais se pode voltar a fazer. É evidente que o governo da Espanha vai administrar essa decisão através do diálogo com as forças de ocupação e com seus governos, de maneira razoável. É preciso que nos ouçam. Temos argumentos poderosos.

Pergunta - Sob essa ótica, a volta dos soldados parece inevitável.
Zapatero-
Seria preciso que as coisas mudassem muito. O retorno das tropas é uma decisão que dificilmente poderá ser evitada.


Tradução de Clara Allain


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