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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Ele é a mais importante autoridade sob a custódia dos EUA; rendição pode ter sido negociada com americanos

Aziz, vice-premiê de Saddam, é preso

DA REDAÇÃO

Tariq Aziz, vice-premiê do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, foi detido ontem por forças americanas em Bagdá. Ele se entregou a militares dos EUA, segundo autoridades do Pentágono. Até agora, Aziz, 67, é o mais importante integrante do regime deposto detido desde o início da ofensiva da coalizão anglo-americana, em 20 de março.
A informação foi confirmada pelo Comando Central dos EUA no Qatar. "Aziz está sob a nossa custódia", disse o porta-voz da Força Aérea, Dani Burrows.
Outra autoridade americana, que preferiu não se identificar, acrescentou que Aziz, uma das pessoas mais próximas a Saddam por muitos anos, "se entregou" aos militares dos EUA.
Questionado sobre a prisão de Aziz, o presidente George W. Bush deu um sorriso, mas preferiu não fazer comentários.
O governo americano ainda não esclareceu o que pretende fazer com os integrantes do alto escalão do governo iraquiano deposto que estão presos. Não está definido, por exemplo, se eles serão julgados por crimes de guerra ou crimes contra a humanidade e qual seria o formato dos julgamentos.
Até agora, já foram detidas 12 importantes autoridades do regime de Saddam. Além deles, Ali Hassan al Majid, o "Ali Químico", teria sido morto em Basra (sul do Iraque). Ele era primo e um dos principais homens de confiança do ditador deposto.
O vice-premiê era a 43ª carta do baralho com os rostos das autoridades do regime deposto distribuído pelos EUA aos militares americanos que estão no Iraque . A carta de Aziz era o oito de espadas. O número 43 não significa que ele seja o 43º da lista.
Aziz era uma das figuras mais próximas a Saddam. Ele era a face externa do regime e um de seus membros mais moderados. Apesar de bastante conhecido no exterior, analistas afirmam que ele não tinha grande força internamente por ser cristão e por não ser da região natal de Saddam, Tikrit, ao norte de Bagdá. Os principais membros do regime ainda estão soltos, como o próprio Saddam, seus filhos Uday e Qusay, o vice-presidente Taha Yassin Ramadhan e o chanceler Naji Sabri.
No atual conflito, Aziz apareceu apenas uma vez desde o início dos bombardeios, no dia 20 de março. Ele concedeu entrevista a jornalistas estrangeiros em Bagdá para negar rumores de que teria se exilado na Síria.
Desde então, não fez mais aparições públicas. Sua casa foi bombardeada por aviões americanos. Após a queda do regime, sua residência foi saqueada.
A rede de TV CNN não descartava ontem a possibilidade de que Aziz tenha se entregado para negociar uma possível rendição de Saddam. Outra possibilidade é a de que o ex-vice-premiê tenha negociado a sua própria rendição em troca de informações sobre o paradeiro de Saddam.
Bush disse ontem que Saddam pode estar morto. "Há evidências indicando que ele possa estar morto. Mas jamais faríamos essa declaração até termos mais certeza", disse o presidente em entrevista para a rede de TV americana NBC. "No mínimo, ele está gravemente ferido",
Inicialmente, foram divulgadas informações de que ele teria fugido para a Síria, mas não houve confirmação. A Síria nega.
Ahmed Chalabi, líder do Congresso Nacional Iraquiano (grupo de oposição), diz que o ditador ainda deve estar escondido no território iraquiano. O governo britânico também crê na hipótese.
Aziz disse certa vez que, aos 67 anos, já estava velho para querer viver dois ou três anos mais. Segundo o então vice-premiê, seria melhor morrer do que ir para Guantánamo (Cuba) como prisioneiro americano. Os EUA acreditam que prisões como a de Aziz possam ajudar a esclarecer diversos pontos do regime de Saddam.


Com agências internacionais


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