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"Fundos abutres" e especulação
ajudam a recuperar a economia
DO ENVIADO A BUENOS AIRES
Para um país que, até meados
do ano passado, parecia morto,
soa natural que um dos componentes de sua relativa recuperação seja chamado de "fundos
abutres".
Tradução: são escritórios especializados em comprar papéis de
empresas em concordata, na esperança de que a carniça adquirida obviamente por baixo preço
tenha alguma recuperação, mesmo que tímida.
Calcula-se que as empresas privadas argentinas tenham dado
um calote na imponente altura de
US$ 40 bilhões. Logo, há um
imenso potencial para conseguir
dinheiro dos "fundos abutres", o
que ajuda a animar a economia,
pelo menos na parte financeira.
Claro que não é apenas esse fato
que está ajudando o peso a recuperar diariamente valor ante o
dólar, a Bolsa de Buenos Aires a
ser a de maior valorização neste
ano e até a economia real a dar sinais de vida.
A queda do dólar se deve à entrada de dinheiro fundamentalmente especulativo, já que boa
parte é investida em Letras do
Banco Central, que rendem 1% ao
mês em dólar, o mesmo que se
obtém em um ano nos EUA, conforme os cálculos do jornal "Ámbito Financiero".
É mais ou menos o mesmo fenômeno que está ocorrendo no
Brasil, com uma diferença: o Banco Central brasileiro está deixando o real se valorizar, ao passo que
seu congênere argentino prefere
intervir para segurar a cotação da
moeda norte-americana um pouco abaixo dos três pesos.
A intervenção é para evitar que
as exportações, o grande fator de
reanimação da economia real, sejam prejudicadas por um peso
mais forte.
No primeiro bimestre, a atividade econômica cresceu 5%, na
comparação com idêntico período do ano anterior. O resultado
parece formidável, se se considerar que a Argentina enfrentou
uma recessão de quase cinco anos
consecutivos.
Mas é preciso pôr o número em
perspectiva: a comparação se dá
com o período em que a recessão
fora recorde absoluto na história
das estatísticas (no ano passado, a
economia retrocedeu 10,9%, mas
no primeiro trimestre o colapso
foi ainda maior, na altura de
16,3%).
"É apenas a reação a uma crise
muito grande. É um pouco prematuro falar de recuperação verdadeira", diz, por exemplo, Atilio
Borón, sociólogo e diretor do
Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais).
(CLÓVIS ROSSI)
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