São Paulo, domingo, 25 de abril de 2010

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Desnutrição é evidente também na cidade

DO ENVIADO A JUBA

Emanuel Ladu tem a cabeça inchada revestida por uma fina camada de pele, os membros finos como varetas e o dorso curvado. Chora o tempo todo. Com um ano, pesa menos de quatro quilos e se apoia no colo da mãe, Mary, 30, enquanto moscas caminham por seu corpo.
As crianças de aspecto cadavérico que hoje são sinônimo da miséria africana estão também no sul do Sudão, com a diferença de que não é preciso deslocar-se para aldeias isoladas para vê-las, como na Etiópia. É fácil encontrá-las no centro de Juba, uma provável futura capital nacional.
Emanuel e sua mãe são pacientes do hospital infantil Al Sabah. Na verdade, pacientes do pátio externo, onde passam o dia sentados na terra, já que os galpões semidestruídos que fazem as vezes de alas estão sempre lotados e calorentos.
Ali, sentadas ou deitadas sobre tapetes, ao menos uma dezena de crianças e suas mães sem emprego e sem marido se alojavam numa tarde de sol forte. Muitas com o braço já na área vermelha (de 6 a 12 cm de diâmetro) da fita usada para medir a desnutrição.
O de Emanuel mede 6,5 cm, e suas chances de sobreviver são incertas. "Meu marido morreu e consigo comida indo ao mercado pedir sobras", diz a mãe.
Em outro hospital da cidade, Juba Teaching Hospital, há ainda mais mães e filhos ao relento. "Perdemos de 10% a 15% das crianças que chegam desnutridas", afirma o pediatra Hassen Chollong.
Parece improvável relacionar a qualidade do atendimento de saúde em Juba à cotação do barril de petróleo do tipo Brent na Bolsa de Londres, mas é exatamente o que acontece.
Em 2009, com a queda do valor da commodity, a receita do sul do Sudão (98% dependente de petróleo) caiu junto. O Juba Teaching Hospital teve de demitir 30% do quadro de pessoal e parou de servir refeições aos pacientes -cada um tem de se virar como pode agora.
Os casos de desnutrição são tratados com uma fórmula fornecida pelo Unicef (órgão da ONU para infância), composta por leite em pó enriquecido com vitaminas.
As crianças, inicialmente, rejeitam qualquer alimento. Esther, mãe de Daniel, com um ano e meio de idade, batalha para fazê-lo engolir um pouco de leite em pó que goteja de uma seringa. O filho chora.
"Ele desenvolveu anorexia e não tem apetite", explica o pediatra diante da cena.
No sul do Sudão, 1 em cada 7 crianças morre antes do quinto aniversário. (FZ)


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