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Desnutrição é evidente também na cidade
DO ENVIADO A JUBA
Emanuel Ladu tem a cabeça
inchada revestida por uma fina
camada de pele, os membros finos como varetas e o dorso curvado. Chora o tempo todo. Com
um ano, pesa menos de quatro
quilos e se apoia no colo da
mãe, Mary, 30, enquanto moscas caminham por seu corpo.
As crianças de aspecto cadavérico que hoje são sinônimo
da miséria africana estão também no sul do Sudão, com a diferença de que não é preciso
deslocar-se para aldeias isoladas para vê-las, como na Etiópia. É fácil encontrá-las no centro de Juba, uma provável futura capital nacional.
Emanuel e sua mãe são pacientes do hospital infantil Al
Sabah. Na verdade, pacientes
do pátio externo, onde passam
o dia sentados na terra, já que
os galpões semidestruídos que
fazem as vezes de alas estão
sempre lotados e calorentos.
Ali, sentadas ou deitadas sobre tapetes, ao menos uma dezena de crianças e suas mães
sem emprego e sem marido se
alojavam numa tarde de sol forte. Muitas com o braço já na
área vermelha (de 6 a 12 cm de
diâmetro) da fita usada para
medir a desnutrição.
O de Emanuel mede 6,5 cm, e
suas chances de sobreviver são
incertas. "Meu marido morreu
e consigo comida indo ao mercado pedir sobras", diz a mãe.
Em outro hospital da cidade,
Juba Teaching Hospital, há
ainda mais mães e filhos ao relento. "Perdemos de 10% a 15%
das crianças que chegam desnutridas", afirma o pediatra
Hassen Chollong.
Parece improvável relacionar a qualidade do atendimento de saúde em Juba à cotação
do barril de petróleo do tipo
Brent na Bolsa de Londres, mas
é exatamente o que acontece.
Em 2009, com a queda do valor da commodity, a receita do
sul do Sudão (98% dependente
de petróleo) caiu junto. O Juba
Teaching Hospital teve de demitir 30% do quadro de pessoal
e parou de servir refeições aos
pacientes -cada um tem de se
virar como pode agora.
Os casos de desnutrição são
tratados com uma fórmula fornecida pelo Unicef (órgão da
ONU para infância), composta
por leite em pó enriquecido
com vitaminas.
As crianças, inicialmente, rejeitam qualquer alimento. Esther, mãe de Daniel, com um
ano e meio de idade, batalha para fazê-lo engolir um pouco de
leite em pó que goteja de uma
seringa. O filho chora.
"Ele desenvolveu anorexia e
não tem apetite", explica o pediatra diante da cena.
No sul do Sudão, 1 em cada 7
crianças morre antes do quinto
aniversário.
(FZ)
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