São Paulo, domingo, 25 de maio de 2008

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Hotel de filme faz marketing da catástrofe

EM KIGALI

A face pop, por assim dizer, do genocídio ruandês é simbolizada por um hotel quatro estrelas decadente no centro de Kigali.
O Milles Collines virou cartão postal do pais desde o filme "Hotel Ruanda", de 2004, que mostrava como o então gerente, Paul Rusesabagina, escondeu e protegeu centenas de tutsis nos apartamentos sofisticados. A maior parte das filmagens não foi feita ali, e sim em locações na África do Sul, contudo.
Há muito Rusesabagina não trabalha mais no hotel, e o único vínculo do Milles Collines com os eventos de 1994 é um dos sub-gerentes, que cobra US$ 100 por entrevista (a Folha não pagou). Os demais funcionários entraram depois do genocídio.
Mas o hotel figura com destaque no roteiro turístico de Ruanda. Entre uma visita às dezenas de memoriais do genocídio do país e um safari para ver gorilas selvagens, turistas encontram um tempo para entrar, tomar um café e tirar foto da majestosa piscina, que, segundo a lenda, serviu de reservatório de água para os refugiados.
Há alguns anos o Milles Collines perdeu a condição de mais luxuoso hotel do país e entrou em decadência. A empresa belga Sabena, que o administrava, faliu, e agora o controle é de um grupo nacional.
Os quartos saem ao equivalente de cerca de R$ 250 a diária, preço salgado para o que o hotel oferece. O restaurante tem duas opções de prato. A sala de ginástica, meia dúzia de aparelhos velhos.
Autoridades estrangeiras e homens de negócios preferem outros hotéis, no distrito nobre que abriga os prédios do governo, mais afastado do centro.
Um certo "marketing do genocídio" também se expressa de outras formas em Kigali. No principal memorial da capital, a loja de suvenires vende camisetas para turistas, com os dizeres "aquele que não aprende da história (Ruanda) está condenado a repeti-la (em Darfur)". Custam US$ 20. (FZ)


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