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Hotel de filme faz marketing da catástrofe
EM KIGALI
A face pop, por assim dizer, do genocídio ruandês
é simbolizada por um hotel quatro estrelas decadente no centro de Kigali.
O Milles Collines virou
cartão postal do pais desde
o filme "Hotel Ruanda", de
2004, que mostrava como
o então gerente, Paul Rusesabagina, escondeu e
protegeu centenas de tutsis nos apartamentos sofisticados. A maior parte
das filmagens não foi feita
ali, e sim em locações na
África do Sul, contudo.
Há muito Rusesabagina
não trabalha mais no hotel, e o único vínculo do
Milles Collines com os
eventos de 1994 é um dos
sub-gerentes, que cobra
US$ 100 por entrevista (a
Folha não pagou). Os demais funcionários entraram depois do genocídio.
Mas o hotel figura com
destaque no roteiro turístico de Ruanda. Entre uma
visita às dezenas de memoriais do genocídio do
país e um safari para ver
gorilas selvagens, turistas
encontram um tempo para entrar, tomar um café e
tirar foto da majestosa piscina, que, segundo a lenda,
serviu de reservatório de
água para os refugiados.
Há alguns anos o Milles
Collines perdeu a condição de mais luxuoso hotel
do país e entrou em decadência. A empresa belga
Sabena, que o administrava, faliu, e agora o controle
é de um grupo nacional.
Os quartos saem ao
equivalente de cerca de
R$ 250 a diária, preço salgado para o que o hotel
oferece. O restaurante tem
duas opções de prato. A sala de ginástica, meia dúzia
de aparelhos velhos.
Autoridades estrangeiras e homens de negócios
preferem outros hotéis, no
distrito nobre que abriga
os prédios do governo,
mais afastado do centro.
Um certo "marketing do
genocídio" também se expressa de outras formas
em Kigali. No principal
memorial da capital, a loja
de suvenires vende camisetas para turistas, com os
dizeres "aquele que não
aprende da história
(Ruanda) está condenado
a repeti-la (em Darfur)".
Custam US$ 20.
(FZ)
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