DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O principal partido de oposição do Zimbábue afirmou que militantes pró-governo estão intimidando eleitores de forma sistemática. Grupos de observadores fazem uma avaliação semelhante da situação.
Cerca de 5,1 milhões de eleitores iniciaram ontem o processo de escolha para o Legislativo do país. O pleito continua hoje. Pela primeira vez em 20 anos de poder ininterrupto, o presidente Robert Mugabe, do Zanu-PF, pode sofrer um revés eleitoral.
A ameaça vem do Movimento pela Mudança Democrática (MMD), partido liderado pelo ex-sindicalista Morgan Tsvangirai. O grupo foi formado há menos de um ano e nunca concorreu a nenhuma eleição, mas uma pesquisa recente indicava que ele poderia obter 70 das 120 cadeiras em disputa do Parlamento. A legenda precisaria conseguir pelo menos 76 cadeiras para formar uma maioria, porque 30 parlamentares são nomeados diretamente pelo presidente Mugabe.
Segundo o MMD, partidários de Mugabe bloquearam uma estrada no distrito de Hwedza (sul de Harare, a capital) para impedir fiscais do partido de chegar a um dos 4.000 centros de votação. Num outro incidente denunciado pelo MMD, um fazendeiro branco teria sido impedido de votar.
Kumbi Hodzi, coordenador da Rede de Apoio às Eleições no Zimbábue, que reúne grupos de observadores internacionais, disse que recebeu informações de todas as partes do país dando conta de que observadores e eleitores estavam sendo impedidos de chegar aos centros.
O comparecimento às urnas era considerado alto, com filas se formando nos principais centros.
Um pouco antes de votar, Mugabe deu declarações à TV estatal: "Estamos ganhando as eleições. Ouvi dizer que as pessoas estão votando em massa", afirmou. "Os profetas da destruição são profetas da destruição", disse, referindo-se à oposição. "Suas profecias serão destruídas", acrescentou.
Nos meses que precederam a eleição, houve violência. Pelo menos 30 pessoas morreram. Mugabe é acusado de instigar veteranos da guerra de independência a invadir propriedades de brancos. Pelo menos 500 fazendas foram ocupadas. Cerca de 4.500 fazendeiros brancos controlam 70% das melhores terras do país.
O poder de Mugabe era praticamente incontestável desde que ele assumiu o poder, 20 anos atrás, depois da guerra de independência que transformou a antiga Rodésia no Zimbábue. A grave crise econômica que afeta toda a África Subsaariana mudou a situação.
Segundo relatório do Banco Mundial e das Nações Unidas, a África Subsaariana sofreu regressão econômica em relação aos anos 60. O PIB dos 48 países que compõem a região é pouco superior ao da Bélgica. A Polônia possui mais estradas que todas essas nações juntas. Cerca de 10% dos PIBs regionais são provenientes de programas de ajuda externa. A participação de todo o continente africano no comércio mundial não chega a 2%. Para agravar ainda mais a situação, a epidemia de Aids afeta uma de cada quatro pessoas em algumas regiões.


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