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MULTIMÍDIA
The New York Times - de Nova York
Programa de bonecos faz sátira política na TV e desafia Putin
MICHAEL WINES
ESTADOS UNIDOS - No que parece ser mais um capítulo da luta
pela liberdade de expressão, o
Kremlin entregou um jornalista
às guerrilhas tchetchenas, pediu
aos jornais que obtenham licença
federal para continuar funcionando e pôs o barão da mídia russa
Vladimir Gusinski na prisão.
Mas o derradeiro teste para as
intenções do Kremlin pode ocorrer caso o governo tente destruir
um monte de grotescos bonecos
de borracha sem pernas.
Os bonecos -um orelhudo
presidente Vladimir Putin e seu
"rasputinesco" chefe de gabinete,
Alexander Voloshin, velhos comunistas carecas, cabeçudos de
direita e outras celebridades- fazem parte do elenco de "Kukly".
"Kukly" é uma sátira política.
Muitas vezes obsceno, hilariante e
ácido, é, há tempos, o programa
de TV mais popular da Rússia. Às
22h dos domingos, mais de metade da nação está colada à TV, vendo o programa da rede NTV.
Há um certo consenso -inclusive entre os responsáveis pelo
programa- de que as desconcertantes estrelas do show entrarão
em colisão contra quem quer que
detenha o poder no Kremlin.
"Queremos chegar ao limite da
liberdade de expressão e mostrar
isso aos outros", disse Grigory
Lyubomirov, roteirista e diretor.
"Vivi por dez anos com liberdade de expressão aqui. Não quero
que volte a ser o que era", disse.
"Kukly" normalmente testa esse limite. A televisão norte-americana pode estar saturada com sexo e violência, mas duvida-se que
as corporações nova-iorquinas tenham coragem suficiente para
voltar a veicular seus programas
satíricos mais memoráveis.
As tiradas feitas pelo "Kukly"
sobre o "charme" dos políticos
russos, desde sadomasoquismo a
violação da virgindade, não podem ser plenamente descritas, ao
menos não nesse espaço. Um episódio famoso, de 1995, malhou o
salário mínimo de US$ 10, decretado pelo então presidente, Boris
Ieltsin, e seu premiê, Viktor
Tchernomirdin, mostrando-os
como mendigos bêbados, revirando lixo atrás de comida.
Putin foi recentemente apresentado como um cirurgião, operando o corpo político russo, munido
de uma machadinha e de um maçarico. Pessoas próximas ao presidente garantem que ele se enfureceu com outro episódio, uma
adaptação de uma fábula alemã,
no qual ele é apresentado como
um menino raivoso e sozinho.
Não é surpresa que "Kukly" esteja prestes a "ser fritado" pelos
políticos. Lyubomirov, um filósofo de 46 anos que frequentou a
mesma universidade em São Petersburgo que Putin, afirmou que
os produtores do programa costumavam receber telefonemas da
mulher e das filhas do ex-presidente Ieltsin. Não para que as críticas ao dirigente fossem menos
duras, mas para que ele não fosse
apresentado como um fraco.
Entretanto Lyubomirov disse
que a pressão sofrida pelo
"Kukly" durante a era Ieltsin não
chega aos pés da que o programa
passou a enfrentar desde que Putin chegou ao poder, como premiê, em agosto do ano passado.
Tradução de Marcelo Bicalho Behar
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