São Paulo, segunda-feira, 25 de junho de 2001

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TENSÃO

Criticado por apoiar manifestantes, titular da pasta do Desenvolvimento acusa governo de negociar com corruptos

Ministro reabre crise no governo argentino

ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES

Uma nova crise foi aberta ontem no gabinete do governo argentino, por causa de declarações do ministro do Desenvolvimento Social, Juan Pablo Cafiero, que insinuou que o governo negocia com corruptos.
Ele fez a afirmação para justificar seu encontro, no dia anterior, com manifestantes que participavam de um bloqueio de estrada na Província de Salta, no norte do país. O ministro do Interior, Ramón Mestre, havia pedido aos demais membros do governo para "não negociar com piqueteiros".
"Então que não se fale também com piqueteiros de colarinho branco", disse Cafiero. "Se na Casa de Governo, nas reuniões de caridade aparecem os maiores sonegadores da Argentina, por que não posso falar com quem acho necessário? Quero que alguém me explique por que não posso vir a uma praça para me reunir com piqueteiros."
A insinuação foi rebatida pela ministra do Trabalho, Patrícia Bullrich, que desafiou o colega de gabinete a apontar quem são os corruptos. "Eu não recebo corruptos e não creio que o governo o faça", afirmou Bullrich.
Para ela, "atrás de um discurso social há uma típica manobra de político". "Mas esse crescimento político não pode ser feito à custa do governo", disse ela, para quem Cafiero quis se alinhar à ala dissidente da Aliança, a coalizão governista, com objetivos eleitorais.
Cafiero assumiu o ministério no início de maio, como o primeiro membro da Frepaso (Frente País Solidário), um dos partidos que compõem a Aliança, a voltar ao governo após a renúncia coletiva dos demais ministros do partido por causa da incorporação de Domingo Cavallo ao governo, como ministro da Economia, em março deste ano.
Outros membros da Frepaso já haviam deixado o governo em outubro do ano passado, após a renúncia do vice-presidente, Carlos "Chacho" Álvarez, em meio a uma crise política.
O ministro do Desenvolvimento Social esteve anteontem de madrugada na cidade de General Mosconi, em Salta, onde, na semana passada, foram mortos dois manifestantes em um confronto com a polícia. Mais de 20 policiais ficaram feridos. O secretário nacional de Segurança, Enrique Mathov, acusou os manifestantes de receber os policiais a tiros.
Os insurgentes bloqueavam uma estrada que liga a região à Bolívia havia 15 dias em protesto contra a política econômica do governo e para pedir programas de geração de emprego naquela região.
Os incidentes da semana passada provocaram um acirramento do protesto em Salta, além da erupção de outras manifestações de apoio em outras localidades do país, incluindo a capital, Buenos Aires. O governo teme que eventuais concessões "à força" em Salta estimulem outros protestos.

"Falta de Estado"
Cafiero justificou sua ida a General Mosconi dizendo que "a falta de Estado" na região levou os manifestantes a optar por uma atitude mais radical, como a de bloquear a estrada. Para ele, as demandas são justas.
Foi a segunda vez em menos de dez dias que ministros argentinos discutem publicamente. Na semana retrasada, o chefe de gabinete, Chrystian Colombo, havia pedido a renúncia do ministro da Saúde, Héctor Lombardo, após sua declaração de que o presidente Fernando de la Rúa sofre de arteriosclerose.



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