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TENSÃO
Criticado por apoiar manifestantes, titular da pasta do Desenvolvimento acusa governo de negociar com corruptos
Ministro reabre crise no governo argentino
ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES
Uma nova crise foi aberta ontem no gabinete do governo argentino, por causa de declarações
do ministro do Desenvolvimento
Social, Juan Pablo Cafiero, que insinuou que o governo negocia
com corruptos.
Ele fez a afirmação para justificar seu encontro, no dia anterior,
com manifestantes que participavam de um bloqueio de estrada na
Província de Salta, no norte do
país. O ministro do Interior, Ramón Mestre, havia pedido aos demais membros do governo para
"não negociar com piqueteiros".
"Então que não se fale também
com piqueteiros de colarinho
branco", disse Cafiero. "Se na Casa de Governo, nas reuniões de
caridade aparecem os maiores sonegadores da Argentina, por que
não posso falar com quem acho
necessário? Quero que alguém me
explique por que não posso vir a
uma praça para me reunir com
piqueteiros."
A insinuação foi rebatida pela
ministra do Trabalho, Patrícia
Bullrich, que desafiou o colega de
gabinete a apontar quem são os
corruptos. "Eu não recebo corruptos e não creio que o governo
o faça", afirmou Bullrich.
Para ela, "atrás de um discurso
social há uma típica manobra de
político". "Mas esse crescimento
político não pode ser feito à custa
do governo", disse ela, para quem
Cafiero quis se alinhar à ala dissidente da Aliança, a coalizão governista, com objetivos eleitorais.
Cafiero assumiu o ministério no
início de maio, como o primeiro
membro da Frepaso (Frente País
Solidário), um dos partidos que
compõem a Aliança, a voltar ao
governo após a renúncia coletiva
dos demais ministros do partido
por causa da incorporação de Domingo Cavallo ao governo, como
ministro da Economia, em março
deste ano.
Outros membros da Frepaso já
haviam deixado o governo em
outubro do ano passado, após a
renúncia do vice-presidente, Carlos "Chacho" Álvarez, em meio a
uma crise política.
O ministro do Desenvolvimento Social esteve anteontem de madrugada na cidade de General
Mosconi, em Salta, onde, na semana passada, foram mortos dois
manifestantes em um confronto
com a polícia. Mais de 20 policiais
ficaram feridos. O secretário nacional de Segurança, Enrique Mathov, acusou os manifestantes de
receber os policiais a tiros.
Os insurgentes bloqueavam
uma estrada que liga a região à
Bolívia havia 15 dias em protesto
contra a política econômica do
governo e para pedir programas
de geração de emprego naquela
região.
Os incidentes da semana passada provocaram um acirramento
do protesto em Salta, além da
erupção de outras manifestações
de apoio em outras localidades do
país, incluindo a capital, Buenos
Aires. O governo teme que eventuais concessões "à força" em Salta estimulem outros protestos.
"Falta de Estado"
Cafiero justificou sua ida a General Mosconi dizendo que "a falta de Estado" na região levou os
manifestantes a optar por uma
atitude mais radical, como a de
bloquear a estrada. Para ele, as demandas são justas.
Foi a segunda vez em menos de
dez dias que ministros argentinos
discutem publicamente. Na semana retrasada, o chefe de gabinete, Chrystian Colombo, havia
pedido a renúncia do ministro da
Saúde, Héctor Lombardo, após
sua declaração de que o presidente Fernando de la Rúa sofre de arteriosclerose.
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