São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 2002

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Discurso parece dar luz verde a ação militar de Sharon, dizem analistas

JONATHAN WRIGHT
DA REUTERS

A nova política do presidente George W. Bush para o Oriente Médio, baseada em duras condições para a criação de um Estado palestino mas sem detalhes sobre um acordo final, não deve acabar com a violência que abala palestinos e israelenses, dizem analistas.
Eles também observam que o governo Bush aparentemente desistiu da idéia de uma conferência de paz para a região durante o verão e que a Casa Branca deu pouco valor à opinião do secretário de Estado, Colin Powell.
Saíram vitoriosos os integrantes da administração que enxergam o conflito israelo-palestino do ponto de vista da "guerra contra o terrorismo", com Iasser Arafat escalado para o papel de vilão ao lado de Osama bin Laden.
Shibley Telhami, especialista em Oriente Médio do instituto Brookings, se disse chocado e surpreso com o discurso de Bush. "Não há nada inspirador nele, nada que inspire esperança...É difícil imaginar que o que foi articulado por ele seja visto pelas partes como um incentivo para que apóiem a campanha dos EUA."
Para Edward Walker, ex-subsecretário de Estado e presidente do Middle East Institute, "[a visão de Bush] é um enfoque muito duro". "Parece que a cada passo no caminho estará o Tio Sam observando [os palestinos] e dizendo se foram aprovados ou reprovados."
Os analistas disseram que o discurso poderia dar a Sharon a impressão de que recebeu luz verde dos EUA para prosseguir com sua campanha militar na Cisjordânia e na faixa de Gaza.
David Landau, do diário "Haaretz", disse que Arafat foi "politicamente assassinado" por Bush. Ao seu ver, embora o presidente tenha dito que Israel precisa se retirar dos territórios e "responder" positivamente às reformas palestinas, a cronologia dos fatos proposta por Bush ficou clara. "Primeiro, Arafat deve partir. Só então (...) começará o período de três anos ao final dos quais, na visão de Bush, os dois Estados de Israel e da Palestina podem começar a viver, lado a lado, em paz."
Os analistas disseram ainda que o discurso vai desagradar aos aliados árabes de Washington, que aguardavam um cronograma detalhado para a criação de um Estado palestino em todos os territórios ocupados por Israel na guerra de 1967.
"O discurso vai deixar árabes como os egípcios e sauditas não só confusos, mas os levará de volta à prancheta de rascunhos para avaliar o que isso significa para seus seus planos", disse Telhami.



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