São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 2002

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TRAGÉDIA

Região necessita de ajuda imediata, dizem grupos humanitários; além da seca, conflitos políticos causaram situação

Fome ameaça 13 milhões no sul da África

DA REUTERS

Milhões de pessoas podem morrer de fome no sul da África nos próximos meses a menos que países desenvolvidos aumentem drasticamente o auxílio a esses países, disseram ontem agências de auxílio humanitário britânicas.
"Se a vontade política for exercida agora, tanto internacionalmente quanto nos países do sul da África, uma tragédia para milhões de pessoas pode ser evitada", afirmou Brendam Gormley, chefe-executivo do Disaster Emergency Committee (DEC).
O DEC, que abriga 14 agências de auxílio humanitário britânicas, incluindo a Oxfam, a Cruz Vermelha Britânica, a Christian Aid e a Care, afirmou que 13 milhões de pessoas podem morrer de doenças relacionadas à fome se não houver uma reação imediata.
Os EUA foram o primeiro país a prometer auxílio à área atingida pela seca que inclui Maláui, Zimbábue, Lesoto e Suazilândia. A iniciativa provocou fortes críticas por parte de agricultores americanos, que acusam o governo de prejudicar seu mercado.
Reino Unido, Alemanha, Japão, Austrália, Canadá, Finlândia, Suíça, Holanda e África do Sul seguiram o exemplo dos EUA, mas prometeram quantias menores.
Segundo o DEC, ainda há um abismo enorme entre o que foi prometido e o que é necessário para evitar uma repetição das grandes fomes que mataram ou obrigaram milhões de pessoas a deixar suas casas na Etiópia e na Somália na década de 80.
Mas não há um consenso entre os governos sobre o que deve ser feito para evitar a fome.
Até mesmo uma conferência da ONU sobre alimentação, realizada em Roma no início do mês, cujo resultado deveria ter sido um plano com estratégias para combater a fome, produziu mais brigas e intrigas do que soluções.
Como já ocorreu diversas vezes no passado, a reunião revelou profundas diferenças entre o Norte e o Sul e uma recusa total por parte dos EUA e da União Européia de investir mais bilhões de dólares em auxílio para o desenvolvimento agrário.
Analistas dizem que o problema na região sul do continente africano tem sido agravado por políticas governamentais fracassadas e conflitos políticos -particularmente no Zimbábue e em Maláui.
A produção de comida caiu no Zimbábue depois que o governo do presidente Robert Mugabe confiscou milhares de fazendas comerciais, a maioria propriedade de brancos, nos últimos dois anos dizendo que era uma forma de corrigir injustiças da era colonial (leia texto ao lado).
Em Maláui, o problema da escassez de comida foi agravado por uma decisão do governo de vender repentinamente todas as 167 mil toneladas de sua reserva estratégica de comida sem reter nem mesmo as 60 mil toneladas que sua própria política determinava.
O governo diz que foi instruído a vender o estoque pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). A entidade nega.
O auxílio à África deve ser um dos principais assuntos da pauta da cúpula do G-8 (sete países mais ricos do mundo mais a Rússia) nesta semana, no Canadá.



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