São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 2002

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Crise em Angola é a pior em décadas, diz ONG

DA REDAÇÃO

A situação em Angola é a pior em décadas, segundo Kevin Phelan, 33, diretor de comunicação da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) que esteve no país entre os dias 26 de abril e 7 de junho.
A MSF possui mais de 160 voluntários estrangeiros e cerca de 2.000 angolanos atuando no país (10% do Orçamento da MSF é direcionado para Angola).
A seguir, trechos da entrevista.
(PAULO DANIEL FARAH)

Folha - Como está a situação em Angola e na África em geral?
Kevin Phelan -
Assustadora. O final da guerra angolana revelou uma crise de desnutrição que não se via na África em décadas. As pessoas estão realmente morrendo de fome, sofrendo de desnutrição grave. Em janeiro, tratávamos cerca de mil pessoas em Angola, principalmente crianças. Agora, estamos tratando mais de 35 mil por desnutrição grave, mas o número é dez vezes maior.

Folha - Que tipo de limitação os srs. enfrentam?
Phelan -
A infra-estrutura está totalmente arruinada. As estradas são péssimas e há minas terrestres por todo lado. Precisa-se de quatro horas para percorrer 50 km.

Folha - E o governo?
Phelan -
Ele não parece se preocupar com o próprio povo. Todos os dias caminhões continuam a chegar com 50, 60 pessoas gravemente desnutridas. As histórias são terríveis. Houve um homem de Vipungo que caminhou quatro dias até o posto mais próximo e disse que quatro de seus seis filhos morreram desde abril. As outras duas crianças estavam doentes. Imaginar que tantas crianças tenham morrido por causa de algo ridículo como a falta de alimentos deveria enfurecer qualquer um.

Folha - Por que a crise é tão terrível no continente africano?
Phelan -
Atuamos em 33 países. Vários estão em guerra. Em outros, as epidemias dizimam a população, além da seca...



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