São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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Herói dos pobres, López Obrador defende justiça social e vira herói dos miseráveis

DA REPORTAGEM LOCAL

"Pelo bem do México, os pobres primeiro." Esse é o principal lema da campanha do esquerdista Andrés Manuel López Obrador, popularmente conhecido pelas iniciais, AMLO. Em tempos de participação política minguada e de comícios que dependem de cantores populares para atrair as massas, AMLO surpreende. Sua campanha rodou o México em caravana, onde juntou multidões em todos os cantos do país.
Ele promete obras, de novos hospitais a estradas, de programas assistenciais a mais empregos. "O México é um país rico, mas com um povo pobre", discursou. O país tem a terceira pior distribuição de renda da América Latina, depois de Brasil e Chile.
A reportagem da Folha presenciou seu primeiro grande comício de campanha na Cidade do México. Em uma fria manhã de domingo, a 10ºC, AMLO levou cerca de 100 mil pessoas ao Zócalo, a maior praça das Américas, que reúne a Catedral, as ruínas da pirâmide conhecida como Templo Maior e o antigo Palácio Presidencial, aquele forrado com murais de Diego Rivera.
Com voz suave e retórica inflamada, AMLO é o grande herói dos miseráveis mexicanos, dos que não viram sua vida melhorar com o crescimento econômico e a explosão das exportações para os EUA. É favorito nos Estados mais pobres do país, os que ficam ao sul.
De 2000 a 2005, administrou a Cidade do México, chamado de prefeito, mas com um cargo parecido ao de um governador do Distrito Federal no Brasil. Lá fez sua fama.
Criou pensões e programas assistenciais para 400 mil pessoas com mais de 70 anos sem recursos. Distribuiu remédios gratuitos para 750 mil famílias pobres. Mães solteiras e deficientes físicos também receberam programas de distribuição de renda.
Demonstrou ainda flexibilidade ideológica ao encampar um projeto do homem mais rico do país (e terceira maior fortuna do planeta), Carlos Slim, de revitalizar o Centro Histórico. Faturou com a melhoria na antes decadente área e se aproximou do magnata. Apesar de criticar as promessas populistas de López Obrador, o empresário falou que não há razão para "temor" caso o ex-prefeito vença.
Sua popularidade no cargo superava 70%. Por outro lado, torrou dinheiro em grandes obras viárias, como o "segundo andar" do Periférico, o maior viaduto elevado da capital, a versão local do Minhocão. Uma obra de discutível impacto na melhoria do trânsito da cidade - por favorecer o uso do carro em detrimento do transporte público - e muito criticada por ambientalistas.

Provinciano
Apesar de exibir um currículo como administrador muito maior que o de Felipe Calderón, seus críticos dizem que ele conhece pouco o mundo e que é provinciano. Algo que não parece incomodá-lo. "O México é meu mundo. A melhor política externa é fazer uma ótima política interna."
Só conhece Cuba e EUA. Nunca esteve na Europa ou na América do Sul. Com pouco interesse na política externa, é quase um George W. Bush da esquerda.
Ao contrário do mais "beato" Calderón, AMLO nasceu e foi criado em Tabasco, Estado ao sul do país que é um dos berços do anticlericalismo que foi marca do governo do PRI. Abandonou o PRI no final dos anos 80, quando a corrente de políticos "neoliberais", liderada por Carlos Salinas, tomou o partido. E fundou o PRD, o grande partido da esquerda mexicana, junto a Cuauhtémoc Cárdenas.


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