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Herói dos pobres, López Obrador defende justiça social e vira herói dos miseráveis
DA REPORTAGEM LOCAL
"Pelo bem do México, os pobres primeiro." Esse é o principal lema da campanha do esquerdista Andrés Manuel López Obrador, popularmente conhecido pelas iniciais, AMLO.
Em tempos de participação política minguada e de comícios
que dependem de cantores populares para atrair as massas,
AMLO surpreende. Sua campanha rodou o México em caravana, onde juntou multidões em
todos os cantos do país.
Ele promete obras, de novos
hospitais a estradas, de programas assistenciais a mais empregos. "O México é um país rico, mas com um povo pobre",
discursou. O país tem a terceira
pior distribuição de renda da
América Latina, depois de Brasil e Chile.
A reportagem da Folha presenciou seu primeiro grande
comício de campanha na Cidade do México. Em uma fria manhã de domingo, a 10ºC, AMLO
levou cerca de 100 mil pessoas
ao Zócalo, a maior praça das
Américas, que reúne a Catedral, as ruínas da pirâmide conhecida como Templo Maior e
o antigo Palácio Presidencial,
aquele forrado com murais de
Diego Rivera.
Com voz suave e retórica inflamada, AMLO é o grande herói dos miseráveis mexicanos,
dos que não viram sua vida melhorar com o crescimento econômico e a explosão das exportações para os EUA. É favorito
nos Estados mais pobres do
país, os que ficam ao sul.
De 2000 a 2005, administrou a Cidade do México, chamado de prefeito, mas com um
cargo parecido ao de um governador do Distrito Federal no
Brasil. Lá fez sua fama.
Criou pensões e programas
assistenciais para 400 mil pessoas com mais de 70 anos sem
recursos. Distribuiu remédios
gratuitos para 750 mil famílias
pobres. Mães solteiras e deficientes físicos também receberam programas de distribuição
de renda.
Demonstrou ainda flexibilidade ideológica ao encampar
um projeto do homem mais rico do país (e terceira maior fortuna do planeta), Carlos Slim,
de revitalizar o Centro Histórico. Faturou com a melhoria na
antes decadente área e se aproximou do magnata. Apesar de
criticar as promessas populistas de López Obrador, o empresário falou que não há razão para "temor" caso o ex-prefeito
vença.
Sua popularidade no cargo
superava 70%. Por outro lado,
torrou dinheiro em grandes
obras viárias, como o "segundo
andar" do Periférico, o maior
viaduto elevado da capital, a
versão local do Minhocão. Uma
obra de discutível impacto na
melhoria do trânsito da cidade
- por favorecer o uso do carro
em detrimento do transporte
público - e muito criticada por
ambientalistas.
Provinciano
Apesar de exibir um currículo como administrador muito
maior que o de Felipe Calderón, seus críticos dizem que ele
conhece pouco o mundo e que é
provinciano. Algo que não parece incomodá-lo. "O México é
meu mundo. A melhor política
externa é fazer uma ótima política interna."
Só conhece Cuba e EUA.
Nunca esteve na Europa ou na
América do Sul. Com pouco interesse na política externa, é
quase um George W. Bush da
esquerda.
Ao contrário do mais "beato"
Calderón, AMLO nasceu e foi
criado em Tabasco, Estado ao
sul do país que é um dos berços
do anticlericalismo que foi
marca do governo do PRI.
Abandonou o PRI no final dos
anos 80, quando a corrente de
políticos "neoliberais", liderada por Carlos Salinas, tomou o
partido. E fundou o PRD, o
grande partido da esquerda
mexicana, junto a Cuauhtémoc
Cárdenas.
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