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Maior acesso não reduz desigualdade educacional na AL
Número de matrículas cresce na América Latina, mas região ainda tem fosso no desempenho entre alunos ricos e pobres
Diferença nas notas dos alunos com maior e menor renda chega a 24% entre latino-americanos e não passa de 1% no Japão
ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
A educação ainda não está fazendo a sua parte para tornar a
América Latina uma região menos desigual. Apesar de a freqüência dos mais pobres à escola ter crescido muito na década de 90 em quase todos os países, a qualidade do ensino que
essas crianças recebem ainda é
muito inferior à verificada entre os alunos mais ricos.
Essa constatação está no boletim "Quantidade sem Qualidade", divulgado pelo Preal
(Programa de Promoção da Reforma Educativa na América
Latina e Caribe) no seminário
"Ações de Responsabilidade
Social em Educação: Melhores
Práticas na América Latina",
realizado na semana passada
em Salvador.
Para chegar a essa conclusão,
foram comparadas as médias
de estudantes mais ricos e mais
pobres no Pisa, programa de
avaliação de estudantes da
OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que avalia o desempenho médio dos países em
diversas disciplinas. A maioria
dos países que participam dessa avaliação são desenvolvidos,
mas, no caso da prova de leitura, há dados de cinco países da
região: Peru, México, Chile, Argentina e Brasil.
Foram justamente esses cinco países, juntos com os Estados Unidos, que apresentaram
maior discrepância na nota dos
estudantes mais ricos e mais
pobres. Na Argentina, por
exemplo, a nota média dos mais
ricos chega a ser 24% superior a
dos mais pobres. Em seguida
aparecem Peru (23%), Chile
(22%), Estados Unidos (19%), e
Brasil e México (18% ambos).
O país com menor desigualdade na qualidade da educação
é o Japão, onde os alunos de
maior renda tiveram desempenho apenas 1% superior ao dos
mais pobres. A média dos países desenvolvidos é de 7% de
diferença.
O relatório conclui que "um
número maior de crianças está
freqüentando a escola, porém,
nas medidas chaves de sucesso
-qualidade, igualdade e eficiência-, os níveis permanecem baixos e os avanços são
poucos ou inexistentes".
Presente no seminário, o
coordenador de Programas de
Educação Superior da Fundação Ford em Nova York, Jorge
Balán, afirmou que esses dados
refletem a má distribuição de
recursos entre escolas. Para ele,
as que mais precisam não estão
recebendo mais recursos, o que
acaba por gerar um quadro que
contribui para perpetuar a desigualdade na região, que já é a
maior do mundo.
Para Gregory Elacqua, pesquisador da Escola de Governo
da Universidade Adolfo Ibañez,
no Chile, o fato de as escolas
públicas receberem principalmente estudantes de baixo nível socioeconômico é prejudicial para a qualidade do ensino,
já que diversas pesquisas mostram que os sistemas de educação que obtém os melhores resultados nos exames internacionais são aqueles onde há
alunos de diversas classes sociais estudando na mesma escola: "Os alunos mais pobres se
beneficiam do fato de estudarem com estudantes mais ricos
e seu desempenho melhora".
O boletim do Preal traz também dados a respeito do investimento público feito pelos países da região em educação. Os
dados mostram que paga-se
mal aos professores e gasta-se
aquém do necessário no setor.
Mesmo sendo pouco, entretanto, esse gasto ainda traz poucos
resultados, já que países com
padrão de gastos similares (como a Polônia) ou até menores
(como a Indonésia) que os da
América Latina obtêm melhores resultados nos exames do
que muitos países da região.
O jornalista ANTÔNIO GOIS viajou a convite dos
organizadores do evento
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