São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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Maior acesso não reduz desigualdade educacional na AL

Número de matrículas cresce na América Latina, mas região ainda tem fosso no desempenho entre alunos ricos e pobres

Diferença nas notas dos alunos com maior e menor renda chega a 24% entre latino-americanos e não passa de 1% no Japão

ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

A educação ainda não está fazendo a sua parte para tornar a América Latina uma região menos desigual. Apesar de a freqüência dos mais pobres à escola ter crescido muito na década de 90 em quase todos os países, a qualidade do ensino que essas crianças recebem ainda é muito inferior à verificada entre os alunos mais ricos.
Essa constatação está no boletim "Quantidade sem Qualidade", divulgado pelo Preal (Programa de Promoção da Reforma Educativa na América Latina e Caribe) no seminário "Ações de Responsabilidade Social em Educação: Melhores Práticas na América Latina", realizado na semana passada em Salvador.
Para chegar a essa conclusão, foram comparadas as médias de estudantes mais ricos e mais pobres no Pisa, programa de avaliação de estudantes da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que avalia o desempenho médio dos países em diversas disciplinas. A maioria dos países que participam dessa avaliação são desenvolvidos, mas, no caso da prova de leitura, há dados de cinco países da região: Peru, México, Chile, Argentina e Brasil.
Foram justamente esses cinco países, juntos com os Estados Unidos, que apresentaram maior discrepância na nota dos estudantes mais ricos e mais pobres. Na Argentina, por exemplo, a nota média dos mais ricos chega a ser 24% superior a dos mais pobres. Em seguida aparecem Peru (23%), Chile (22%), Estados Unidos (19%), e Brasil e México (18% ambos).
O país com menor desigualdade na qualidade da educação é o Japão, onde os alunos de maior renda tiveram desempenho apenas 1% superior ao dos mais pobres. A média dos países desenvolvidos é de 7% de diferença.
O relatório conclui que "um número maior de crianças está freqüentando a escola, porém, nas medidas chaves de sucesso -qualidade, igualdade e eficiência-, os níveis permanecem baixos e os avanços são poucos ou inexistentes".
Presente no seminário, o coordenador de Programas de Educação Superior da Fundação Ford em Nova York, Jorge Balán, afirmou que esses dados refletem a má distribuição de recursos entre escolas. Para ele, as que mais precisam não estão recebendo mais recursos, o que acaba por gerar um quadro que contribui para perpetuar a desigualdade na região, que já é a maior do mundo.
Para Gregory Elacqua, pesquisador da Escola de Governo da Universidade Adolfo Ibañez, no Chile, o fato de as escolas públicas receberem principalmente estudantes de baixo nível socioeconômico é prejudicial para a qualidade do ensino, já que diversas pesquisas mostram que os sistemas de educação que obtém os melhores resultados nos exames internacionais são aqueles onde há alunos de diversas classes sociais estudando na mesma escola: "Os alunos mais pobres se beneficiam do fato de estudarem com estudantes mais ricos e seu desempenho melhora".
O boletim do Preal traz também dados a respeito do investimento público feito pelos países da região em educação. Os dados mostram que paga-se mal aos professores e gasta-se aquém do necessário no setor. Mesmo sendo pouco, entretanto, esse gasto ainda traz poucos resultados, já que países com padrão de gastos similares (como a Polônia) ou até menores (como a Indonésia) que os da América Latina obtêm melhores resultados nos exames do que muitos países da região.


O jornalista ANTÔNIO GOIS viajou a convite dos organizadores do evento


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